LAH1954

um blog de antigos alunos do Liceu de Alexandre Herculano, do Porto

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

13 de Setembro de 1877

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FOI AQUI. NELA.(1)
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MORREU HOJE ALEXANDRE HERCULANO
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Completam-se hoje - 13 de Setembro - os 139 anos decorridos após a morte de Alexandre Herculano. 
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Com os abrolhos e os embrulhos registados no tacógrafo da vida ( não vale a pena historiar - " praquê " ? ... ) não só se atrasou a " e - mucanda " sobre o nascimento do nosso Patrono ( já antes assinalei ), como também se têm vindo a adiar a referência às "matutices e elucobradelas" que, como fumarolas, me foram compondo uma paisagem enevoada, porém - para mim pelo menos - atractiva, enquanto só adivinhada na névoa do espírito e, por isso, geradoras, elas as fumarolas, de curiosidades que me apetecem respostas fundamentantes mas me deixam sem demonstrações fundamentadas.
"Portantus": Se não fui a tempo no tempo do segundo centenário do seu nascimento, aproveito agora o tempo do tempo da sua morte há 139 anos, feitos hoje  . 
Já lá me fazia reparar um bom Amigo, meu, espanhol: "O Homem é o único animal na natureza que tropeça duas vezes na mesma pedra". Hoje quero conseguir ser excepção.  Não quero perder a oportunidade de meditar o evento...
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 "Morrreu"... como?... de quê? ...porquê?...
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Como terá, exactamente, fundamentado, no mais recôndito recanto do seu tão pensante e pensado íntimo - o decidir da sua retirada para Vale de Lobos?

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"Prontus" ! ... "Àtão é aschim": Ao meditar o fim de vida de Alexandre Herculano, pareceu-me apropriado transcrever para aqui o que o seu amigo íntimo, Bulhão Pato - o das «ameijoas "à"»- rememorou três anos após os acontecimentos e emoções que, com genuíno sofrimento, testemunhou e vivenciou ao longo dos últimos cinco dias da vida de Alexandre Herculano (2).
Era Sábado, 8 de Setembro, depois do jantar. Pato está á porta de casa de Zacharias d' Aça (3), seu amigo e também muito amigo de Alexandre Herculano, com quem ia combinar uma domingada de caça. Notou-lhe um rosto triste, fechado, de ansiedade. Perguntando-lhe pelo seu bem estar (convencido de mal no seu estar). d' Aça abre-se - copio de Pato:(2)
.«"É verdade, o Alexandre Herculano está doente, parece-me ser coisa grave. O Reis (Henrique Augusto de Sousa Reis, Tenente Coronel de Artilharia, amigo de Herculano) já partiu para lá com o Doutor Alves Branco".Apertou-se-me o coração, que estava expansivo e alegre, dizendo comigo:O Mestre está morto!».
.Pato e d' Aça dirigem-se então à Livraria Bertrand onde perguntam a Saraiva de Carvalho se tem notícias. Que sim. Acabara de receber telegrama anunciando uma "perniciosa" (2). Bolhão Pato apanha o primeiro comboio para Santarém encontrando José de Avelar também a embarcar. Pelas 11 da noite já estão em Vale de Lobos e ali encontram os Médicos Assistentes de Herculano, o Dr. Pedroso e o Dr. Alves Branco ( 4 ). Juntamente com Avelar percebem todos estar Herculano numa grave condição física mas mentalmente normal, ainda que agitado. Ninguém - intuitivamente - estava tranquilo e todos silenciosamente adivinhavam prognóstico muito reservado. No Domingo - 9 - já em Lisboa, Pato recebe mensagem de que «o Doente tomara os caldos com menos fastio e até pedira uma colher de vinho do Porto, coisa que até aí lhe repugnava grandemente»(2). Recebem-se novos telegramas, agravam-se as notícias que circulam instantaneamente entre os amigos de Herculano. Entre eles, António da Silva Túlio sente necessidade urgente de encontrar quem possa prestar socorro ... mas, melhor será pedir a Bulhão Pato para nos continuar a contar. Ouçam-no aí (2):
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«António da Silva Túlio, extremamente comovido, tinha corrido ao Paço a pedir a Magalhães Coutinho (4a) que acudisse com a sua ciência e grande talento ao amigo de tantos anos. Mandou-se pôr um expresso. Ás seis e meia entrávamos na estação. Lá estava Magalhães Coutinho, João Galhardo, sobrinho de Alexandre Herculano por afinidade, Henrique de Sousa Reis ( 6), José de Avelar e eu. (...)
(...) Chegado a Vale de Lobos Magalhães Coutinho não auscultou o doente. Tomou-lhe o pulso e disse-lhe algumas frases vagas. Falou-lhe, com insistência, de um alto personagem que se interessava pelo seu estado (5).
Quando Magalhães Coutinho saiu do quarto, Alexandre Herculano, muito comovido, disse para José Avelar:"Isto dá vontade de a gente morrer" (6). Era a frieza desconsolada do médico e do amigo? Seria sentir que o homem de superior talento, talento que ele apreciava tanto, não lhe podendo já acudir com a ciência, queria, àquelas tardias horas, consolá-lo com a satisfação das vaidades humanas? Fosse o que fosse, alguma coisa acerba lhe atravessou o espírito nesse atribulado momento! (7)
Dali a pouco, recobrando a sua habitual serenidade, disse-me: " Os de casa, coitados, andam com a cabeça perdida. Dê uma vista de olhos àquilo lá por baixo, para que arranjem a ceia. Veja os melões. Este ano são magníficos"(7).
De madrugada regressamos a Lisboa. Nesse dia, à noite - 11- José de Avelar voltou a Vale de Lobos. Demos-lhe agora a palavra:
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.«Meu querido Bulhão Pato. - Para completares a tua triste narrativa, queres que reconte o que se passou, desde o dia em que tiveste de retirar de Vale de Lobos e eu tive de ficar ao lado do nosso nobilíssimo e chorado amigo, na qualidade de enfermeiro, qualidade que nunca ultrapassei, como sabes. Vou cumprir as tuas ordens, e em breves palavras direi os poucos e melancólicos episódios que a minha fraca memória não deixou escapar.
No dia 12 resolvemos propor ao enfermo que aproveitasse a presença do tabelião - que era seu respeitoso amigo, e que o vinha visitar - para fazer o seu testamento ao que ele acedeu sem a menor hesitação, demonstrando, todavia, bem acentuadamente num quase desdenhoso sorriso, que não acreditava na coincidência daquela visita.
Assisti ao acto como testemunha.
Ditou tudo, palavra por palavra, com a maior serenidade, e sem diferença de tom na voz, quando falou das disposições do seu próprio enterro, que deixava ao arbítrio e vontade da sua viúva (7). (Evidenciação nossa)
Fui eu e Santos que o amparamos para se sentar na cama e assinar o testamento. Como a primeira pena - que era de ave, e com essas é que sempre escrevia - não servisse, por estar ressequida e com os bicos revirados, por não ter uso havia alguns dias, fui ao escritório procurar outra, que preparei rapidamente, molhando-a na tinta e colocando- -lha entre os dedos.Com estas curtas demoras e na posição que conservava - ainda que amparado nos braços de Santos - tinha-se afadigado extraordinariamente; a respiração era já muito frequente e curtíssima, porque a maior parte dos pulmões não funcionava e só com muito esforço e vigor de vontade conseguiu - a muito custo e com letra muito tremida e deformada - assinar o seu - A. Herculano.(Realce nosso)(7). A palavra que decerto o grande escritor traçara sempre com menos atenção e quase automaticamente, foi a última que escreveu e com tantas dificuldades e cansado trabalho, como quem realmente grava no bronze eterno a rubrica da própria imortalidade!Deixou-se cair ofegante sobre as almofadas, com a respiração estrídula e fervorosa de quem já não tinha força para expectorar.Disse-me ainda que os rapazes - os seus testamenteiros - poderiam publicar uns cinco volumes de opúsculos com os manuscritos que deixava, e os artigos dispersos nos jornais. ( 7 ). Depois ficou num torpor de repouso aparente, e nós deixámo-lo como a dormitar.Estava exausto; poucas horas tinham de decorrer para começar a agonia.De noite voltaste, e como não o desamparaste mais, melhor do que eu sabes como se passaram os últimos momentos do homem, do grande e inimitável historiador! Teu velho amigo.
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José de Avelar»
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(...)
Os telegramas do dia 12 eram cada vez mais aterradores.
Henrique de Sousa Reis estava descoroçoado, mas queria ainda levar o Dr. Alves Branco a ver o seu amigo.Era um fio de esperança; agarrava-se a ele.No comboio da noite partimos.
A viagem foi soturna.
Quando chegamos a Vale de Lobos e entramos no quarto, Alexandre Herculano olhou para Henrique e abraçou-o
Era um agradecimento mudo pela sua solicitude. O Dr. Alves Branco observou detidamente o enfermo. Não despregávamos os olhos dele. O habilíssimo médico forcejava por aparentar a máxima serenidade(5), falando afectivamente com Alexandre Herculano (5), que lhe dizia:- Ainda que chegasse a levantar-me daqui, como ficaria eu? Valeria a pena esgotar os recursos da ciência com um homem, que já nada poderia produzir? Estou cansado, doutor, tenho trabalhado muito! (7).
Quando entrámos no escritório, Alves Branco sentou-se, esteve alguns momentos calado( 9) e, depois, como respondendo à nossa ansiosa expectativa, disse-nos, com as lágrimas nos olhos:
- É um homem irremediavelmente perdido! Meia hora depois, Henrique, morta a esperança, voltava com o doutor para Lisboa. Eu ficava. Abraçámonos sem trocar palavra. Sobre a madrugada desci à casa de jantar, sentei-me numa cadeira de braços, e adormeci. Dali a pouco acordei sobressaltado. Cantavam os pássaros, vinha rompendo a manhã. Subi ao quarto. Eduardo Galhardo, sobrinho de Herculano, filho de sua irmã, estava ali. A luz, que entrava pelas frinchas da janela, sobrelevava já ao clarão mortiço da lâmpada acesa do quarto próximo ao do enfermo. Alexandre Herculano disse:- Abram a janela. Quero ver as árvores (7), (10). Eduardo abriu as portas da janela. O orvalho aos clarões vivos e virginais da alvorada, brilhava como pedras preciosas, correndo em lágrimas pelos vidros empanados. .Eduardo limpou os vidros com um lenço. Nesse mesmo momento tinham entrado no quarto José Bastos, José Cândido dos Santos, um dedicado amigo de Vale de Lobos, a Exª Srª D. Mariana Hermínia Meira, e as amigas íntimas, que a acompanhavam. Não me recordo de algumas pessoas mais. A luz da manhã crescia em ondas. Alexandre Herculano estava extremamente pálido. O queixo inferior, que de ordinário, quando falava, tremia um pouco, agora tremia constantemente e fortemente. Não havia nem lágrimas nos olhos, nem palavras na boca de ninguém. Nada ás vezes é mais eloquente do que o completo silêncio. Herculano, vendo entrar as senhoras, olhou fixo para a sua mulher, que ele amava extremosamente, com a expressão dolorosa e afectiva. Depois, estendendo o braço, disse com energia:- Levem daqui as mulheres. Mulheres não são para ver isto! ( 7). Que se passaria naquele forte, e ao mesmo tempo amantíssimo coração, ao proferir estas palavras em tal instante e com tal hombridade!?. O médico assistente, Dr. Pedroso, chegou pelas 8 horas. Na consternação da sua boa e inteligente fisionomia lia-se a sentença fatal !. O criado Manuel, que Alexandre Herculano tivera em sua casa de pequeno e mandara educar, veio trazer-lhe um caldo.Herculano fez um gesto repulsivo.Manuel insistiu solícitamente.O doente respondeu: - Bebe-o tu, coitado, que necessitas, eu já não preciso de nada! (7). Às 11 horas da manhã chegou o Duque de Palmela. O Duque, desde muito rapaz, tivera relações íntimas com Alexandre Herculano. Quando ele entrou no quarto, Alexandre Herculano estava deitado sobre o lado esquerdo . Sem proferir palavra, estendeu o braço direito e lançou-o em volta do pescoço do seu amigo (7). O duque fez grande esforço para conter o ímpeto da comoção; ainda assim o pôde conseguir. Nas largas e aflitivas horas daquele dia - horas negras que, por uma antítese cruel, contrastavam com o aspecto do Vale, cujas árvores e vinhedos, batidos pelo sol magnífico, pareciam nadar num banho de luz - houve para mim um momento de singular consolo.Vendo que a respiração do doente era por extremo anelante, o que me oprimia o peito, perguntei-lhe como que maquinalmente:- Custa-lhe muito a respirar?.- Não, não, respiro bem, muito bem.(7) (11). Disse isto com tanta convicção e naturalidade, que eu fiquei aliviado de um grande peso. Queixava-se muito de dores no lugar do cáustico. Pediu que lho tirassem. Como houvesse hesitação disse:- Tirem, tirem. Agora para que serve?(7). Os olhos que ele tinha de um grande brilho, apesar da terrível enfermidade, não haviam amortecido muito; conservavam a sua expressão reflexiva e boa.O semblante estava dolorido, macerado; mas não havia sombras, que as não tinha aquela alma límpida e serena!. (...) A respiração continuava anelante, porém, menos ruidosa, cada vez maior dificuldade em expectorar.Tinha alguns minutos de aparente sonolência, depois, estremecendo, abria os olhos. Seriam 3 da tarde. Interrompendo um longo silêncio, disse, apontando para os pés:- A morte já aí vem a subir(7 ). Em seguida, levando a mão à testa ampla e proeminente, bateu repetidas vezes, acrescentando:- Isto ainda está bom. Foi muito rijo(7), (12). Esteve alguns minutos - fitando-me e continuou:- Agora, vocês é que ficam sendo os velhos!(7). Nas horas em que estive ao pé dele, durante a enfermidade, foi nesse momento que, pela primeira vez, lhe vi os olhos húmidos de lágrimas (7, 24).
A tarde começou a declinar. Eu estava no gabinete de trabalho próximo do quarto. Eduardo Galhardo chegou-se a mim.- Olha o tio recitou agora alguns versos, mas eu não pude perceber bem.( ) .Abeirei-me do leito e falei-lhe. Respondeu:- Ainda lhe comprava mais 2 centos. Tornei a falar-lhe. Repetiu as mesmas palavras e, passado breve espaço, acrescentou: - Tanchões de oliveira (10). Os olhos haviam tomado expressão diversa - espantados, desvairados! Estava em delírio. Saí, ou antes, fugi do quarto.Quando vi transtornada aquela soberana razão que desde os meus 16 anos me habituara a venerar e a admirar em diurna convivência, perdi completamente o ânimo. Sem me despedir de ninguém meti-me com o duque de Palmela numa caleche e parti. Dali a pouco mais de 2 horas, (sublinhado nosso) Alexandre Herculano estava morto. (...) (...) Entre os que seguiam no préstito, um homem de verdadeira ciência e talento - António Augusto de Aguiar - proferiu, à beira da sepultura do grande historiador, algumas palavras notáveis e comoventes. Não as ouvi, porque não fui ao cemitério. Os camponeses ofereciam ramos de oliveira às pessoas que tinham vindo de Lisboa (13 ).
As oliveiras, que ele lhes ensinara a tratar.
Prestavam esta homenagem, na sua rústica e afectuosa sinceridade, não ao escritor que não conheciam, mas ao amigo de tantos anos, que respeitavam, porque lhes acudira sempre com o conselho e com o remédio. »(13 )
(...)
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Antes de prosseguir não posso deixar de salientadamente anotar que "eram os princípios" de Setembro e tudo, aparentemente, começa quando, só aparentemente, o acabar começa, na viagem que Herculano faz a Lisboa para se despedir do seu amigo D. Pedro, Imperador do Brasil, prestes a terminar a visita diplomática a Portugal e a iniciar o seu regresso ao Brasil.
Nada do "shine please", de olho fixo nas botas do Imperador (aprendi esta do "shine please" com o nosso notável Professor de Inglês, ao longo de 3 anos, Dr. Melo de Carvalho). O propósito de Herculano era, simplesmente, patentear gratidão a quem, chegado do Brasil e após as primeiras exaltações oficiais, entre Chefes de Estado, para expressão de amizade e unidade entre os dois países, ter deixado a "turba multa" para se dirigir à Azoia de Baixo, em Santarém, e ali visitar o seu amigo Herculano, na sua pequena quinta, calçado de botas enlameadas, das de meio cano, vestido de calça amarrotada e um tantinho "sujada", de terras e poeiras, pela madrugada, na vinha, no olival e, entretanto, retornado a casa para comer "fatigas" de melão com o seu amigo Imperador. Realço o melão para o Imperador porque 3 ou 4 semanas depois, faz consideradamente um dos seus últimos juízos: «este ano os melões estão excelentes ...» (sic) - revejam o relato de Bolhão Pato - ... e passa pela cabeça de um qualquer não parolo da cidade que o lavrador que os tem na horta, sabendo-os excelentes, não ofereça o melhor de entre eles , ao amigo Imperador ao lado de quem, com ele, combateu pela Liberdade?... Observando as acontecências de outro modo, realinhando os significados com um desolhado olho de médico, Herculano chega a Lisboa para se despedir do Imperador Pedro I do Brasil, leva na cara 2 ou 3 espirros, de alguém da Corte do Imperador, quiçá do próprio Imperador - "Eram os princípios de Setembro", não se esqueça meu numeroso leitor - já funga no comboio, de regresso a Santarém, e chegado a casa vai para a cama, mal disposto, com arrepios, dores por todo o corpo, febre não muito alta (coisa entre 38 e 38,5 graus centígrados). Cinco a sete dias depois, morria a 13 de Setembro, vitimado não só - hipotetiso - por uma adenovirose de que se não defende, e muitíssimo o fragiliza, mas, também, pela bacteriose pulmonar que, por isso, apanhando-o biologicamente desprevenido, lhe sobrevem e o afoga, em inundações alveolares e bronquiolares, por secreções mucopurulentas, de pulmões eles também já não suficientemente funcionantes, porque insuficientemente expansíveis, no bloqueio de tal expansão por alagamentos dos espaços pleurais. Relembre-se que quando o duque de Palmela lhe entrou no quarto, ele estava deitado sobre o lado esquerdo...cá entre mim e os meus botões..., "só lhe sobrava um bocadito do pulmão direito" para minimamente expandir e prover-se do pouquíssimo oxigénio a trocar pelos mínimos de um cada vez mais acumulado anidrido carbónico. Mais: olhando a "máscara funerária" (Fig. 9) seu rosto não tem mais o aspecto longilíneo como no quadro a óleo do pintor João Pedroso (Fig. 5 e Fig.6), antes parece ligeiramente "bufado" - diria o povo - ou seja, com algum edema facial e, sobretudo palpebral... pois... se toda a territorialidade pulmonar é pasto de um gravíssimo processo infeccioso, também já intersticial, claro que a interface alvéolo-capilar está intensamente inundada por água intercelular sob a alta pressão do edema inflamatório o que representa, dito em termos simples, como que um tamponamento da circulação capilar pulmonar com um retroefeito em dominó, tecnicamente chamado de insuficiência cardíaca direita, na qual, um ventrículo direito que não vence a barreira capilar intrapulmonar, atrasa o esvaziamento da aurícula direita, assim incapacitada de, também ela, deixar esvaziar os territórios de ambas as veias cavas, nomeadamente os da veia cava superior os das veias que drenam a face...Ler Bulhão Pato é ler um tratado de Medicina Interna. Herculano morreu de bronco pneumonia (e não só) meia dúzia de dias depois de se sentir ainda com energia suficiente para ir de Santarém a Lisboa dar um abraço ao nosso "Rei Jubilado", o D. Pedro IV, o imortalizado a cavalo, na Praça da Liberdade, no Porto.O "Abraço da Morte" diria um poeta de 20 valores licenciado em medicina com média geral de curso de 10 valores - que bons às vezes eles saem, estes poetas, assim licenciados, como poetas e como médicos!.
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Embebendo-me com o tudo contado por Pato e debruçando-me nas reflexões que fui fazendo à medida que, ao longo de horas, muitas horas, fui observando as imagens de Herculano, fotográficas e pictóricas, onde se guardou para a posteridade o seu «hábito externo», assim dizem os médicos (ou diziam ...) fui fazendo um esforço por "olhar" e "ver", nelas, o seu Íntimo, ler nelas, cuidadosamente, o seu rosto, descortinar nele o seu semblante, recolher delas a sua postura corporal, perceber o como e depreender o porquê do seu olhar, sentir-lhe as mãos e surpreender-lhe o modo como as apresenta, quem sabe ?!, como as aperta..., nomeadamente sobre a pena de pato de que lhe flui o génio. Como gostaria de comparar a caligrafia dos últimos meses do seu labor intelectual com as caligrafias (evolutivas?) dos anteriores 10 ou 15 anos... Diz Pato que com a pena de pato (não a sua mas a do pato), acabada de afiar para Herculano escrever a sua última palavra - A. Herculano - Herculano a escreveu com letra instável, não para assinar o seu testamento, mas, como quem encerra uma mensagem, de vida, a sua Vida. Era instável porque mortificado pela posição, semi sentado, afligido pela dispneia, torturado com as dores, exaurido de energia?, porque assinava seu testamento ? ou era instável por algo mais, muito mais abrangente e que muito mais o limitava?.
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Acabei por me entusiasmar, com um crescendo de curiosidade, movido pelo propósito de lhe desvendar o seu modo de ser biológico e, porque não, atrevimento atrai atrevimento, irresponsabilidade aumenta irresponsabilidade, sobretudo quando se dispõe e se a condimenta com um certo "Irresponsability Growth Factor" - "o célebre IGF" - (acabei de o inventar agora), tão fartamente e à mana larga consumido, para, indiciava já lá para trás, tentar correlacionar o seu modo de ser - biológico - com o seu modo de estar na vida. Se não eu, outros com capacidade mental, conhecimentos específicos, disponíveis para aceitar o desafio que aqui vou deixar, enquanto convosco compartilhar algo que "se me tresmalhou pela cabeça fora" e peço - desde já - para "por ora" "em nada disto acreditarem". Nevertheless pode, teoricamente, valer para "de duas, uma": a) ou "nos rirmos à brava" como nos rimos com os códigos de d'Avinci, os Colombos Portugueses e as palermices dos "Cristos com uma porrada de irmãos" ... . Com uma pequenina nuance diferenciante: aquelas risotas dão dinheiro como terra, a minha vai ficar entre o meu "numeroso leitor" e mim próprio, quando ambos nos estivermos a rir, vestidos de preto, de luto, pela morte da hipótese, virados para a parede, de preferência num cantinho. Forma superior de chorar, é rir. b) ou, a segunda das "de duas, uma", despertar em alguém, cientista, dos sérios e a sério, como o meu muito querido Amigo Manuel Teixeira da Silva, conhecido no mundo inteiro da comunidade científica que labora na investigação ultraestrutural de bactérias como também no âmbito das interacções entre determinado tipo de bactérias quando invadem o meio interno de animais e a reactividade do meio interno de tais animais, enquanto hospedeiros de tais bactérias, despertar dizia, a curiosidade para se "repensar" Alexandre Herculano. "Mestre"! (lembras-te do brado?!... que saudades!...lá, na casota de madeira onde te borbulhava o génio!...) : aqui te deixo o desafio... depois dos teus 55 anos de busca científica da verdade, atrevo-me pedir dês "uma olhada" reflectidamente crítica e criticamente reflectida - como é teu apanágio - ao que vou em seguida desembrulhar. ( 15)
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"Ora àtão é aschim": Vamos aos factos e "defactos". Mostra-se na fig.2 uma das mais conhecidas imagens de Alexandre Herculano.
Fig. 2
Deve ser o resultado de sucessivos arranjos praticados sobre imagem bem outra. Passando de utilização em utilização editorial, quiçá sofrendo, de cada vez, redimensionamentos e, ou, retoques de conveniência. Admito "possa ter vindo" de algum dos retratos fotográficos que tiveram como cenário o seu gabinete de bibliotecário de uma das duas Bibliotecas Reais que o Príncipe D.Fernando lhe confiou. Nesses dois ou três exemplares que observei, surge, com pequenas variações de detalhe, sempre sentado na "mesma cadeira". Sempre com um pouco do arco em madeira do respectivo espaldar a espreitar por cima do ombro (direito-defendo), de modo mais mostrado ou mais oculto. As lentes fotográficas da época não permitiam os requintes de malvadez das actuais "tele" ou "quase tele" objectivas, capazes de esculpir os rostos nos seus volumes. Por isso, os "corpo inteiro" ou "meio corpo" onde, certamente, posteriormente, os fotógrafos de estúdio e de câmara escura puderam introduzir arranjos para exaltar detalhes e, ou, para eliminar imperfeições que poderiam magoar a auto estima de clientes espectando um "bonitísmo" afinal falhado, sobretudo para as suas próprias personalidades quando densamente narcísicas. E aqui vem a discussão "filosófica" do que é uma "imperfeição", do que é o "olhar e ver", do que é a "pureza científica", por exemplo, de uma observação visual, simples, ou ajudada por instrumentações cada vez mais complexas, portanto da correcta colheita de um facto com as cautelas e os caldos de galinha que as atmosferas epistemológicas mais sofisticadas impõem. Jamais esquecerei pelo impacto inenarrável que tiveram na minha formação científica, duas pequeninas ocorrências, vivênciadas por dois homens que tive o privilégio de conhecer e, sobretudo com um deles, conviver. Ficaram na história da introdução da microscopia electrónica na investigação da biologia celular. O segundo, contou-me a propósito do que tantas vezes para si próprio representou o massacre a que eram submetidas as suas micrografias electrónicas, quando criticamente analisadas pelo primeiro - seu mestre. Este, sempre barafustava, veementemente, quando alguma pinta preta aparecia nas imagens de microscopia electrónica já que eram consuetudinariamente lidas como por defeito de preparação e, portanto, representando artefacto. A pinta preta tinha um sítio predilecto para estadiar.Era numa certa área de mais "claridade", mais ou menos na porção, digamos, "central", da superfície de corte de mitocôndrias (o organito celular que produz a energia para a manutenção da vida e das funções da célula). Este meu Amigo - o Prof. Bjorn Afzelios do Wenner Green Institutet da Universidade de Estocolmo , que recordo com muita saudade e afeição, contava-me de modo agarotado que, para "não ter que ouvir" as recriminações do Prof. Fritiof Sjostrand - o Pai da microscopia electrónica na biologia celular, quando legendava os locais estratégicos das micrografias, marcava sempre o organito da pinta preta com um "M" negro (de mitocôndria), colado sobre a pinta preta respectiva, desse modo a escondendo das "ferocidades" do "Velho" Fritiof. Gargalhando, eu para fora, com a alarvidade do portuguesinho desbargado, e o Bjorn, sueco, para dentro, como quem engole uma das maiores perdas de oportunidade científica, muito bem embrulhada na garotice do seu bom humor, à época característico de certas ambiências  de cientistas não carreiristas, disfrutavamos da espantosa "desocorrência" de não ter sido Bjorn Afzelios (a) o primeiro homem na história a descrever, imagiológicamente, o DNA mitocondrial que, sabemos hoje, só nos transmite informação genética de nossas mães desde há milhões de anos. Impressionou-me para o resto da minha vida o gozo espiritual do Prof. Afzelios, muito mais contente pela lição que recebeu do caricato humorístico da situação, do que entristecido por ter perdido a oportunidade de ter sido o primeiro a declarar à comunidade científica a descoberta - morfologicamente demonstrada - do DNA mitocondrial. A segunda história ouvi-a pessoalmente contada pelo Prof. Fritiof Sjostrand (a). Havia sido o fundador da fabulosa revista americana denominada Journal of Biochemistry and Biophysic Cell Biology e, também por isso, era um dos "referies" ( em português diz-se « o Filho da Puta do Àrbitro») que criticamente analisavam todos os artigos científicos submetidas para publicação nessa revista. Numa bela manhã de sol - era Califórnia - foi parar à mão de Fritiof um artigo por autor japonês com o qual este clamava ter demonstrado a "reprodução sexual" de uma bactéria. O Prof. Sjostrand recusou o artigo escrevendo ao autor, do modo mais respeitoso possível, para o elucidar de que o "pequenino pénis" que "transportava" genoma da "bactéria masculina" para a "bactéria feminina" nada mais era do que um artefacto provocado pela fractura do material de inclusão da amostra, no caso o "Vestopal", o qual não aguentara a altíssima temperatura do feixe de electrões quando atravessava o corte ultrafino do material em observação. Algumas semanas depois Fritiof Sjostrand abre o exemplar do último número da acima aludida revista, acabado de chegar pelo correio, e desmorona-se de seus joelhos para baixo: estavam lá, subscritas pelo "paralúcido" japonês, as fotografias electrónicas do referido "ultramicro pénis". O Prof. Sjostrand pediu imediatamente a sua demissão de membro do Conselho Científico daquela revista e, semanas depois, fundou o Journal of Ultrastructure Research. Em boa hora. Esta nova revista representou o grande salto em frente para o rigor na publicação de resultados relativos à aplicação da microscopia electrónica aos estudos de biologia. Tive a honra de também eu nela ter publicado um artigo com resultados da minha investigação pessoal.Serve este arrazoado de vivências pessoais para sublinhar, a traço gordo e vermelho, ou azul, consoante o gosto menos inteligente ou mais requintado, de cada um, a importância do que acima já fui aludindo sobre as cautelas e caldos de galinha que se tornam indispensáveis na recolha dos factos que parecem apresentar pureza na significação científica e, deste modo, se fazer a profilaxia dos artefactos com que se podem construir teorias científicas, ou outras, absolutamente mirabolantes. Por isso eu referia as atmosferas epistemológicas mais sofisticadas, como as do melhor refúgio para a fuga à mirabolância. Apetece-me fazer um convite, sonhado, a Karl Popper, para, terminada a apresentação desta minha e-mucanda, vir ele fazer a dele, para me espatifar a minha teoria, aplicando-lhe a dinâmica por ele postulada da refutação e da falsificação das hipóteses.
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Assim sendo e porque com estes prolegómenos já consegui ganhar alento e descaramento e, melhor ainda, perder timidez e sentido de responsabilidade, voltemos à fig.2. Nela se observa o rosto austero de Alexandre Herculano onde sobressai uma região malar direita muito mais volumosa do que a esquerda e abaixo da qual, em redor da comissura labial respectiva se notam três bosseladuras bem evidenciadas, de cinzento mais claro, nas suas porções mais centrais e de bordos escurecidos e paulatinamente continuados por tal escurecimento para a pele circunvizinha. Quando digo "mais escuro", in vivo isto significa um avermelhado inflamatório. Levemente vai-se ele perdendo pela superfície cutânea vizinha, "aparentemente normal". Entre estas bosseladuras e a referida região malar vêm-se bem duas pequenas áreas arredondadas, apenas ligeiramente salientes e de que os bordos não são tão vincadamente marcados como o eram os das lesões peribocais. Na extremidade lateral da sobrancelha direita, e também na extremidade lateral da pálpebra do mesmo lado notam-se dois pequenos nódulos mais esbranquiçados e rodeados de pele com tom cinzento mais escuro. São muito mais difíceis de se notar dois ou três nódulos mínimos localizados à frente da implantação do cabelo da transição temporopariental. A orelha exibe um pequenino espessamento nodulado da helix, logo antes de esta terminar por cima do tragos. O lobo da orelha mostra-se prolongado, como que, passe o abusivo da expressão, em gota pendente. O olhar, ainda que determinado, exibe um "je ne sais quoi" e que lhe advém, certamente, pelo menos em parte, do facto de ser levemente "descaida" a pálpebra inferior esquerda e, desse modo, exibir maior mancha conjuntival - branca.
Fig.3
A Fig.3 mostra a reabilitação de retrato fotográfico de Herculano que se encontra guardado na casa de Camilo em Seide. Não sei se esta reabilitação foi feita em França ou se terá sido realizada em estúdio fotográfico por profissionais franceses a trabalhar em Portugal. Sobre ela eu próprio fiz "especulações estéticas" estornando-lhe o azul cinza, profundo, sereno e límpido, que tinha - escreveram seus amigo. É a imagem de Herculano, quando um pouco mais novo do que a idade que teria no retrato da Fig.2. Aqui igualmente se observa, com grande nitidez, o conjunto de três bosseladuras em redor da comissura labial direita, como também se observam, muito bem, duas arredondadas elevações cutâneas sob a região malar. Já as assinalamos na Fig.2 e, aí, de maior volume. Nesta fotografia, todavia, estes dois relevos cutâneos, quase nódulares, mostram-se ainda muito achatados mas demarcam-se francamente da pele circunvizinha, como também entre si. É para mim muito interessante o facto de apresentarem nas suas porções mais centrais um aspecto de cútis mais clara. Na extremidade interna da saliente tuberosidade malar direita, aparece um pequenino nódulo e na extremidade da sobrancelha direita apenas se vê uma única nodularidade por cima de duas pregas cutâneas do chamado pésinho de galinha. Á frente da implantação capilar temporal direita percebem-se de cima para baixo três ou quatro vagas elevações cutâneas mais claras em relação ao tom, digamos que levemente róseo e portanto mais escuro da pele que lhe fica por diante. É interessante também chamar a atenção para o facto de na orelha direita, a curvatura da helix, antes da sua extremidade anterior, se mostrar de aspecto regular e "inocente", ao mesmo tempo que o lóbulo da orelha tem o aspecto que poderiamos designar de normal. Esta fotografia é claramente realizada alguns anos antes da que se exibe na Fig.2. Parece-me esta circunstância de algum significado se, ao compararmos uma e outra verificarmos que as lesões numa e noutra são praticamente as mesmas. Apenas na Fig.2 em fase de, não obstante muito lento, maior desenvolvimento do que o revelado na Fig.3. Ah!... e já agora, observe-se que a pálpebra inferior esquerda na Fig.3 mostra um aspecto praticamente normal e, por isso, a mancha conjuntival observável neste olho é praticamente idêntica à do lado direito.
.Fig. 4.
Numa postura de resguardo, façamos agora como o esgrimista: quando um passo atrás não chega, dá dois. Recuemos portanto mais um passo e observemos a Fig. 4. É um blow up de daguerrotipo que pertence (ou pertencia?) ao espólio de Alexandre Herculano guardado sob a ref. MA-Alexandre Herculano - II-1.( ) na Biblioteca Pública Municipal do Porto. Depois de alguma investigação esta fotografia é hoje considerada como, muitíssimo provavelmente, da autoria de João Baptista Ribeiro ( uma figura do Porto Liberal) e realizada em 1854 , data esta encontrada depois de analisada bibliografia pertinente e também comparada com especimen (s) igualmente guardado(s) naquela Biblioteca do Porto sob a referencia MA-Alexandre Herculano MA -I-1( ).Detenho-me nos detalhes referentes à definição da origem, natureza, data de realização e localização actual deste documento, para registar que o Herculano desta fotografia teria, muito provavelmente,44 anos de idade. Nela exibe pequenos nódulos na região frontoparietal direita, mas a pele da região bucinadora e em redor da comissura labial direitas está "livre de lesões"...ou quase...ao mesmo tempo que, o sulco nasocomissural tem estranho aspecto e se mostra. debruado, de modo pouco convicente, por ligeira elevação cutanea sem correspondência  em qualquer outra peça iconográfica. Não vale a pena falsa modéstia ...olhada por um anatomista é falsa. Cá entre mim e mim esta fotografia levou muito Photoshop de carvão e esfuminho. Reparem num "canto da boca encurtado e "hipotrófico" se comparado com o oposto, e vejam como que esbatidas as tuberosidades paralabiais à direita... foi pena!... Se ela era documentalmente pura teria-mos uma imagem do Herculano dos 44 anos que nos permitiria muitas elucubrações sobre o cariz da evolução da sua doença. Porém este documento suscita-me uma "congeminadela": Havia quem se preocupasse com as especificidades morfológicas na pele do rosto de Herculano? O próprio ? ... o "Homem do Esfuminho" ? ... ambos ? ... terceiros, ... à posteriore ? ... . Passemos então à Fig.5.
Fig.5
.Nela se representa um "blow up" de fotografia de corpo inteiro (ou foi logo fotografado só a meio corpo?) realizada enquanto posando sentado numa das tais cadeiras de espaldar arredondado e, por isso, admito que servindo de estúdio seu próprio gabinete, numa das bibliotecas reais. Trabalhando-a fiz o recorte da imagem para mostrar apenas parte da cabeça, com relevo para a face direita. Infelizmente a natureza do documento, em tom sépia, levantou-me muitas dificuldades para lhe fazer sobressair o que nele se contém sem no entanto adulterar o que nele se mostra.Observam-se quatro nodularidades para fora da região orbitária, assinaladas com os números 1,2,3,4, portanto na pele que se estende desde as extremidades laterais da sobrancelha e da pálpebra até à implantação capilar temporal. Talvez se possa suspeitar de mais duas ou três elevações cutâneas ao longo da implantação capilar na direcção cefálica. Para cima e para fora, sobre, e para dentro do maciço malar percebem-se três nódulos de reduzida dimensão,respectivamente marcados com os números 15,17, e 18 Para baixo do mais interno está outro pequenino nódulo indicado com o número 5. Logo por baixo do maciço malar está uma pequena mácula, insinuada com o nº 19. Descendo, a partir dela, estão dois nódulos, legendados com os nºs 16 e 7 agora já fundidos entre si e continuados para traz por mais outra tuberosidade de dimensão mínima,evidenciada com o nº 6. Não consigo interpretar as cinco formações que parecem ser também elas nodularidades ao longo da porção masseterina da barba. As tuberosidades perilabiais mostram-se agora como que fundidas entre si e prolongadas para traz e para baixo ao longo da área cutânea em relação com o bordo mandibular.Sobre estas formações estadiam os nºs 8,9,10,11,12,13,e 14. Impressionam também as grandes faixas de pele, fotograficamente escuras, mas que, in-vivo, devem corresponder a áreas cutâneas, circunvizinhas das tuberosidades, com franco componente infamatório. A orelha mostra um nódulo na porção anterior da helix, e, talvez, o iniciar de um nódulo no tragos. O lóbulo deste pavilhão auricular mostra-se francamente prolongado para baixo, como que em "chicléte"  um tantinho estirado, molengoso e pendente". Em redor do olho esquerdo, a pálpebra inferior mostra-se levemente descaída no seu terço medial enquanto a pálpebra superior parece ligeiramente mais levantada, sobretudo à custa da sua metade lateral, deste modo deixando à vista maior porção da esfera ocular. Nesta imagem a idade real de Herculano parece-me superior às idades que aparentava nas fotografias da Fig.3 e da Fig.2
Fig.6
Observemos agora a Fig.6. Lembrar-se-aõ que incorporou a iconografia da e-mucanda relativa ao 2º centenário do nascimento de Alexandre Herculano. Trata-se de retrato de corpo inteiro realizado pelo pintor realista João Pedroso . Foi terminado e datado 7 meses antes de Alexandre Herculano falecer. A imagem que mostro é um situs inversus electrónico de imagem que recolhi não sei de onde, porque me não lembro neste momento, por muito que me esforce. Tenho quase a certeza absoluta de que ilustrava mensagem de um dos blogs que estudei. Peço ao autor de tal blog me releve esta manifestaçãosinha de uma iminente e eminente senilidade. Entendi fazer o situs inversus porque me chamaram a atenção alguns detalhes que a tanto me aconselharam. Assim, não posso deixar de assinalar o conjunto de lesões que tão realisticamente o pintor deixou documentadas na sua face - para mim direita (Fig.7), como sempre tem sido na esmagadora maioria das suas imagens aqui já mostradas, como também nas disseminadas na minha e-mucanda sobre o 2ºcentenário do seu nascimento. O laço no pescoço, que desde sempre exibiu nas suas imagens, continua aqui a ter a orientação que lhe é peculiar, ou seja, uma dobragem à direita e duas pontas soltas à esquerda. Os botões da sua sobre casaca e do seu colete apertam como, nos homens, têm que apertar, ou seja, com o botão cosido no bordo direito da peça de vestuário que vai "apertar". A sua mão, para mim direita, como que protege de cair um lenço vermelho em parte alojado no bolso da calça. Nunca encontrei qualquer referência a que Alexandre Herculano fosse "canhoto" (digo assim porque não gosto de chamar sinistras a essas pessoas, tanto mais que só por rara excepção são políticos portugueses a representarem lobies portugueses e, ou outros). Deste modo, Alexandre Herculano usa no seu bolso direito um lenço que, com frequência, com a sua mão direita, precisará de fazer passear, rápida e discretamente, sobre um pingo que agora e logo ameaça cair-lhe do nariz. De resto, o lenço está muito amarrotado e, numa condição um tudinho nada formal, de quem é utilizado muito repetidamente. Cuidadoso no vestir, como Herculano sempre mostrou ser, no mínimo o lenço aparentaria não ter perdido as propriedades de quem tinha sido passado a ferro. Mas mais: a que propósito "um sacana" de um pintor se havia de lembrar de pôr um lenço vermelho descaído de um bolso das calças, mais ou menos enconchado na mão, - à mão - de uma grande figura pública, internacionalmente conhecida?!!! A minha resposta é: a Herculano pingava-lhe constantemente o nariz . Andar sempre a puxar do lenço seria, como em duas palavras usava dizer Cruz Malpique, uma risca específica do andamento de Herculano ao longo do dia. O realista João Pedroso de "sacana" não tinha nada!.Olhou e viu. Deixou-lhe o detalhe oferecido à interpretação pelo conhecimento novo do futuro. A sua mão direita , Fig.8,, mostra um polegar semi dependurado dentro do bolso. O segundo e o terceiro dedos têm aspectos que não merecem reparos de maior. O quarto dedo é francamente (?...é!...néh?...) atrófico, na espessura e no comprimento. O quinto dedo está como que flectido e desaparecido entre o lenço e o bolso. E já que falo do quinto dedo, Herculano tem praticamente este quinto dedo sistematicamente como que escondido para dentro da palma da mão em todas as fotografias que dele observei. A mão esquerda pousa, sobre, julgo, um livro espesso, em cima da mesa de trabalho, ao lado do tinteiro que já foi exibido na e-mucanda sobre o 2º centenário do seu nascimento. Nesta mão, Fig. 8, é visível, apesar da digitalização inicial ter sido realizada com muito baixa resolução, um nódulo sobre a extremidade proximal da primeira falange do segundo dedo e, talvez, também uma tumefacção do polegar. Esta mão não se limita a pousar. Sustenta. Deixa-me a impressão de que Herculano, para posar com a dignidade que sempre revelava quando se expunha imagiologicamente, desta vez, porque de pé, necessitou de discretamente se apoiar não numa bengala mas no artifício dum livro sobre a mesa do seu trabalho. Esta minha admissão, sai reforçada porque Herculano afasta um pouco mais os seus pés do que o que seria de esperar do que sempre foi o seu tom garboso. E mais: os seus sapatos têm biqueiras muito mais volumosas do que não só a moda da época impunha como do que seria de esperar para os seus 41-42 por muito biqueira larga que fossem. Não estou a brincar. Nunca se pode brincar quando se descrevem aspectos associados a uma condição de falta ou perda de saúde. O Doente deve merecer-nos sempre respeito infinito e, mesmo assim, se tal conseguido, ainda não conseguimos para ele o suficiente respeito que merece. E não vamos falar agora do que anda para aí de infames faltas de respeito pela finança sem fidúcia que quer tomar conta da saúde da gente, assim numa espécie de proxenetismo, ou, dos chamados serviços nacionais de saúde regidos por critérios economicistas e, ou de políticas do quanto pior, melhor. Voltando à face de Alexandre Herculano, ou talvez melhor, aos aspectos pictoricamente mostrados com todo o realismo neste retrato, não obstante, saliento mais uma vez, a perda de detalhe e portanto de informação pelo facto de a imagem ter sido originalmente digitalizada com muito baixa resolução. O seu aspecto geral, 7 meses antes de morrer, é, diria, quase longilíneo. Saltitando nele de detalhe em detalhe, consideramos da maior pretinência chamar a atenção, de modo meditativo, para alguns aspectos que dela se depreendem. A boca de Alexandre Herculano parece mostrar claramente uma parésia, senão paralisia da sua porção esquerda, com consequente queda da comissura labial. Ao mesmo tempo é um nadinha inexpressiva a região lateral da sua face à esquerda, e nela avulta um franco aumento do diâmetro longitudinal da abertura palpebral, se comparado com a abertura palpebral do lado direito. A este propósito, convido o meu numeroso leitor a arrebitar a orelha (como faz toda a bicheza que vivendo de comer verduras, passa todo o tempo de toda a sua vida a trocar por miúdos os sons subitamente ouvidos pela sua permanente desconfiança em relação a carnivero ou bicho homem que possa andar por perto), no relativo à tão perspicaz chamada de atenção, por Bulhão Pato, para o facto  de que, a certo momento dos fluíres das interioridades íntimas de Herculano,  em tal tempo, a  muito pouco tempo do seu fim (7), expressa com delicadíssima sigeleza:" pela primeira vez lhe vi os olhos húmidos de lágrimas"(sic).    Sempre Herculano exibiu uma distribuição capilar rica. Cefálica e da face. Agora, a sete meses da sua morte, está praticamente calvo, não sei se tem sobrancelhas, porque a imagem me não permite discernir com segurança, mas apetece-me muito, com transparência, dizer que me inclino muito para o atrevimento de afirmar que não tem... perdeu as sobrancelhas...(e as pestanas?...) (Fig.7).
Antes de prosseguir, só uma curta linha para deixar anotado o seguinte facto. Herculano só casou aos 50 anos. Não teve filhos...."De facto"...!...
Fig.7
Fig.8
Fig. 9.
Então, se já intuímos, pelo relato de Bulhão Pato, sobre como morreu Herculano, perguntemo-nos agora sobre de que morreu ele. Hipotetiso: da intrusão, de uma bactéria, "por ele consentida", sem disso ter tido consciência,  muitos anos antes do período de sua vida agora e aqui sob nossa perscrutação. Por fim, quais  pedras finais da  filinha onde as pedrinhas do dominó vão provocando, uma a uma, a queda ordenadamente sequencial de todas elas, de uma virose à qual, muito rapidamente,  sobreveio uma bacteriose.
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Há uma doença descrita desde há cerca de 600 anos, já nessa altura com grande prevalência na África Oriental, no Médio Oriente, na Índia (sobretudo) e também em algumas outras outras regiões da Ásia. Recentemente (desde há 2 ou 3 anos) parece bem demonstrado (20) ter sido por ela vitimada, há 2 mil anos, pessoa cujo esqueleto foi encontrado numa região do Norte Oeste da Índia. Restos ósseos de Ser Humano encontrado no centro da Ásia, cuja datação revelou terem alguns milhares de anos continham elementos genómicos do agente microbiológico de uma tal doença. Ou seja, é talvez a doença de que há documentação e demonstração mais antiga na história da humanidade.Com recurso à genómica comparativa, mostrou-se que ela terá tido orígem no leste africano de onde passou à India e ao Médio Oriente. Ou do leste norte Africano, ou do médio Oriente, por viajantes, foi introduzida na Europa Central e, por fim, trazida até à extremidade Ocidental do Continente Europeu. Não sei dizer se chegou às Americas pelos navegadores portugueses e espanhois, ou se ali terá entrado por migrantes partidos da Ásia. Entrou na África Ocidental Sul pelos portugueses e na África Ocidental Norte por magrebinos e portugueses (22)
Descrevem-se-lhe várias formas de apresentação. Se é apropriadamente correcta a minha leitura das publicações que a ela se dedicam, nomeadamente já em 2010 (14), mais não são do que os sucessivos aspectos que a doença vai mostrando durante a evolução ao longo dos anos. No cenário biológico dos doentes seus portadores, joga sem dúvida um papel crucial, para o futuro dos pacientes, a natureza mais ou menos perfeita da diferenciação e desenvolvimento de uma importante parte do sistema imunitário do hospedeiro. Em consequência, o padrão de interacção entre ela - a bactéria - e ele - o hospedeiro poderá fazer-se mais lenta ou mais rapidamente e ir mostrando as respectivas consequências com aparências diferentes . Ela, a bactéria, é dificílima de estudar. Nunca foi possível cultivá-la in vitro nos laboratórios de bacteriologia. Não obstante foi possível, recentemente, identificar-lhe nacos do seu genoma repetidamente clonados até se lhes poder fazer a caracterização. Nacos destes foram retirados de esqueletos encontrados na Índia, Médio Oriente, Europa central e ocidental, Magrebe e costa ocidental da Africa  (22). E já que falamos da presença desta bactéria debaixo da terra acrescente-se, a título de curiosidade, que os cientistas que hoje investigam a possibilidade de serem bactérias os agentes permanentemente renovadores das jazidas de petróleo, serão tais bactérias precisamente "primas muito chegadas" - genomicamente falando - desta bactéria patogénica para o homem.                  Para nós, agora, aqui, face à motivação que nesta circunstância nos move, é importante frisar ser a doença na sua fase mais inicial de apresentação, à inspecção da cútis, expressa de modo assimétrico. Começa em geral por se apresentar com alterações características da mácula, lisa, sem bordos que a separem da cútis vizinha, aparentemente normal, assim permanecendo mais ou menos longamente, para posteriormente assumir a característica de placas, ou seja, de áreas cutâneas levemente mais elevadas em relação à pele circunvizinha, quase sempre com áreas centrais mais esbranquiçadas e periféricas de tonalidade rósea, com bordos que as limitam claramente em relação à pele contígua. Por fim, surgem nódulos, ou seja, elevações da pele com aspecto de colinas, eventualmente com um tom mais esbranquiçado do que o da pele do portador e, à palpação, com consistência algo endurecida. É interessante e até intrigante a característica de a doença durante os seus primeiros anos de evolução aparentemente se desenvolver apenas na "atomosfera" cutânea, de nela se exprimir de modo unilateral, de a pouco e pouco apresentar aspectos multiformes das lesões. É comum o desenvolvimento das lesões cutâneas preferencialmente na pele da face e depois dos membros superiores e inferiores, sobretudo a nível das respectivas extremidades. Sabe-se hoje que estas lesões são essencialmente devidas à instalação primeiro em extremidades fibrilares, microscópicas, de terminações nervosas na pele, ou, talvez melhor dito, de iniciações na pele de fibras nervosas sensitivas. Quando a bactéria se vai instalando em troncos de nervos periféricos, tem predileção no caso do membro superior pelo chamado nervo cubital, mostrando os respectivos territórios mais depressa e mais facilmente as consequências destas lesões nervosas periféricas. Existe idêntico comportamento nos membros inferiores, porém menos relatados porque menos observáveis face à cobertura pelas vestimentas.Neste último caso o território perdilecto para a bactéria se instalar é o do nervo peroneal. Esta fase de aparência assimétrica é chamada na literatura médica de fase tuberculoide. Ao longo de anos a doença acaba por instalar-se também no lado oposto e, por fim, um pouco por todo o revestimento cutâneo do corpo, com grande enfase para a face. Os textos médicos chamam-lhe então a fase tuberosa. Por esta ocasião já a carga bacteriana do organismo é elevadíssima e o bacilo pode por isso habitar orgãos vários, nomeadamente o fígado, o rim e o testículo. Atenção: o testículo. Ao que parece o testículo é precisamente um dos orgãos mais precocemente invadido e invalidado por esta bactéria, por agressão às células de Leydig e às da linha germinativa. É também de salientar a intensa agressão bacilar às estruturas da pirâmide nasal. A mucosa nasal "pingoleja" ao longo de anos.Um lenço vermelho meio fora do bolso das calças é um toque de génio de um pintor realista. As lesões osseas da pirâmide nasal e dos maxilares superiores são um dos parametros para o diagnóstico arqueológico desta doença(21).Muitos outros ossos são atingidos, da coluna vertebral e dos membros.Mas também várias vísceras. O fantástico da ocorrência desta generalização reside na circunstância de que os pulmões não são patogenicamente habitáveis pela bactéria, ao contrário do que se passa com uma "parente" sua que se instala quase sistematicamente e em primeiro lugar,percisamente no pulmão. O sistema nervoso central, o chamado neuro-eixo, está protegido por uma barreira - hematoencefálica - que não permite a sua invasão por este agente. Para vos pôr isto como deve "de ser" tive o cuidado de ir não só dar uma refrescadela à minha já muito debilitada memória sobre o conhecimento médico desta patologia, como também averiguar o "estado da arte" nestas matérias, consultando entre mais e para o efeito a última edição - a 17ª - do meu "livrinho de cabeceira", com as suas 2920 páginas, de mais de palmo em altura por um palmo de largura (14)
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Portanto, o quadro pulmonar de Herculano, que não foi mais do que a última pedrinha a cair,do dominó biológico desta doença , não o foi por agressão directa à intima estrutura do pulmão por esta bactéria.
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Foi então o quê?
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O meu amigo Manuel Teixeira da Silva (15) é um dos investigadores no mundo com mais prestígio na pesquisa das relações e interacções entre o agente invasor - a bactéria - e o seu hospedeiro - no nosso caso o ser humano. E friso o ser humano porque há muito poucos vertebrados susceptíveis de hospedarem nos seus organismos a bactéria para que, a propósito de Herculano, agora te quero, meu numeroso leitor, chamar a atenção. Um deles, muito usado na investigação, é o armandilho, entre nós muito mais conhecido desde que colecionamos as "Vitórias" ( já lá para traz celebradas em outra e-mucanda)como o Tatu. Deixem-me precisar que estou a falar de bactéria que pertence a um grupo muito especial de bactérias, não muito numeroso em suas diversas espécies, mas, sobretudo, por causa de duas delas de altíssima importância para a humanidade. Só com a bactéria que estamos a considerar agora, calcula-se haver no mundo, ainda hoje, cerca de 250 milhões de seres humanos por ela habitados. Chamo aqui a investigação de Teixeira da Silva e seus grupos (se bem entendo já vai no segundo) porque elas levantam a questão - parece-me perceber - "do quem é que nasceu primeiro": o ovo ou a galinha?, ou seja, é a bactéria que entra, fragiliza o hospedeiro e ganha a batalha da sua instalação nele, ou é o hospedeiro que é portador de uma qualquer foleirice do seu sistema imunitário e, por isso, se põe a jeito para que a bactéria, uma vez entrada, calma e tranquilamente se vá instalando e colonizando o receptor sem que ele disso se aperceba a não ser quando, anos depois começa a notar estranhas acontecências na sua pele. Quando digo ao longo de anos é indispensável chamar a atenção para o facto de o tempo de incubação estar perfeitamente demonstrado poder estender-se entre de 2 a 40 anos, sendo a norma (norma, estatisticamente, é o valor mais vezes encontrado na distribuição de uma amostra), sendo a norma, dizia, de 5 a 7 anos. De resto, porque não, em jeito de cientista já no esterlato, e, portanto, com o «direito adquirido» de dizer todas as patetices que lhe vêm à cabeça (é tão triste, lúgubre e caricato, ler, destes cientistas, as grandes caganças - a que não têm o direito - sobre matérias de que são completamente ignorantes, sobre elas dizendo as maiores barbaridades, sumptuosamente decoradas por estrondosas apresentações «antes de», de amigalhaços da seita e ruidosas salvas de palmas, «depois de»,de gente, ignorante, acrítica, acéfala, porém bonita e que , por isso, merece estar...) de resto, dizia, porque não, em jeito de cientista, "estrelado em óleo já passado" também eu "botar uma bocarra", platinada de inteligência? E, como, no patético "comercial", largar o berro do «soltem o javaliiiii!!!!!.....»?... porque não admitir a "circuntância de pescadinha da rabo na boca?", ou seja: o sistema imunitário na sua vertente de imunidade retardada ou celular é foleiro - mais ou menos foleiro - e, por isso, a variação dos 2 aos 40 anos de incubação - e, assim sendo, com maior ou menor resistência, vai deixando a bactéria apropriar-se do ambiente do hospedeiro. Depois, a presença da bactéria ela própria, representaria a presença de uma jogatina de cartas marcadas em que a pouco e pouco a foleirice e portanto a resistência do hospedeiro vai também ela sendo cada vez mais fragilizada a tal ponto que já não é só a defesa contra esta invasora que está em causa, mas também o modo geral de se resguardar o organismo á entrada do que lhe não é próprio e, se invadido por agentes que já não têm nada que ver com o modo de estar da bactéria inicial são agora facilmente triunfadores num ambiente de meio interno tornado por fim completamente complacente.. Basta uma espirradela na cara, burrifante de centos de milhares de adenovirus, para por eles se instalar uma infecção respiratória onde já não funciona bem um sistema de defesa contra vírus, percisamente o da imunidade retardada, também chamada de imunidade celular, o tal, foleiro, congénitamente foleiro, para muito mais se desvalorizar o sistema geral de defesa contra as infecções e ficar agora completamente aberta a possibilidade de invasão secundária por bactérias outras, ambientais,como, a título de exemplo, o hemophilus influenza, uma das também muito prevalentes pelos "princípios de Setembro".
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«Numa daquelas sínteses que varrem tudo» dizia Eça de Queiroz, nos Maias, sobre uma das grandes declarações do Ega, também agora eu me permito fazer a minha conclusão: Alexandre Herculano era leproso.
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 O seu íntimo biológico não seria todavia tão "foleiro" quanto costuma ser o dos leprosos. O certo é que em 17 anos evoluiu cada vez mais rapidamente. Já muito incapacitado do ponto de vista do seu sistema imunitário, tinha todavia - ainda - uma vida activa e intelectual notória, e, apesar do cansaço que Dulac lhe fixou fotograficamnte e de que Bulhão Pato, como acima vimos, cita queixa do próprio doente, com a energia suficiente - do estoicismo - para se abalançar a uma deslocação de Santarém a Lisboa, de comboio, numa visita de despedida do seu amigo o Imperador Pedro I do Brasil, nosso Rei D. Pedro IV. Levou o tal espirro na cara, quiça do próprio Imperador, veio para Santarém e para sua casa na Azoia, cada vez mais, rapidamente, muito mais mal disposto,.Cinco dias depois morria afogado em secreções que o impediram de continuar a respirar.Porém, lúcido até muito poucas horas antes de falecer. Também isto é verdade, «porém lúcido»(7), porque a lepra não é uma doença do sistema nervoso central é uma doença do sistema nervoso periférico. No seu caso e na documentaçãoa que por aí abaixo pusemos à vista para observação pelo meu "numeroso leitor" percebe-se que foi atingido, já tardiamente, no seu Nervo Facial periférico, à esquerda, e por isso a paralisia facial bem visível 7 meses antes de morrer (já agora, por consideração para contigo meu "numeroso leitor", te digo: a paralisia central do facial é outro planeta nos mundos da patologia) . Mas já de há muitos anos Herculano vinha abrigando o Micobacterium Leprae, nos três grandes territórios cutâneos do seu Nervo Trigémio direito e daí as múltiplas tuberosidades da hemiface direita. Mais se percebem - também por isso- à direita, as expressões das lesões do nervo Cubital na mão direita que não são mais do que lesões a nível do mais periférico do sistema nervoso periférico. Por isso, os 2 dedos, 4º e 5º alterados, o 5º sempre escondido (desde há muito tempo) em todas as imagens de si, enquanto com mais de 50anos), o 4º bem atrófico, mais curto e mais fino. Por isso a região hipotenar desta mão com nítida hipotrofia dos músculos que lhe são próprios, de inervação pelo cubital. Por isso os dois nódulos da mão esquerda de que um deles na pele cuja relação profunda é com a extremidade anterior do segundo osso carpiano, é concerteza (cá vai outra vez, o incerto do concerteza ... ) por lesão de ramunsculo do nervo radial e, se assim é, a mão também estará pousada no livro não já (ou só) para "sustentar", mas também para não dar o "aspecto inferiorizante" de que está habitualmente descaída, pendente, por parésia ou paralisia do nervo radial. A lepra nas fases mais tardias da sua evolução provoca alopécia (para a malta da engenharia e das matemáticas se diga que alopécia é ausência de cabelo e ou do revestimento piloso de outras regiões) provoca, dizia, alopécia. Do couro cabeludo (Herculano ficou careca), da pele supraciliar (Herculano, julgo, terminou sem sobrancelhas - sobretudo nas metades mais laterais) e dos bordos palpebrais (teria Herculano ficado sem pestanas?) - como poderia depreender-se do que dispomos da iconografia de Alexandre Herculano. A Lepra lesa precocemente o testículo na sua organização intesticial e na sua organização tubular da gametogénese. Ou seja, com destruição do património em células de Leidig, desse modo diminuindo a líbido por um certo "shortage" na produção de testosterona. A erecção é em geral conservada, mas em cerca de 5% dos doentes, os que mostram mais violenta expressão da doença, ela pode vir a ser comprometida. Alexandre Herculano, parece-me, não teria uma forma muito exuberante desta "malina" - lepra - mas sinto alguma perplexão ante o facto de só ter casado aos 50 anos, com a Senhora D. Mariana Meira, que amava desde jovem e deste amor não ter havido um único "pop up" de filhos. É certo que deixou escrito, (ou talvez só oralmente comentado, não me lembro, quem o regista é Nemésio), que trabalhar intelectualmente, na criação literária, e na investigação da história, não lhe deixava tempo para responsavelmente ser Esposo e Pai. E assim deixou explicado o que "sentiu necessidade de explicar"...e se sentiu necessidade de "se explicar", é porque os ruidosos silêncios em seus "de redores" a tanto o convidavam...
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São horas de o deixar ir dormir, meu "numeroso leitor" antes que adormeça por cima deste meu arrasuado, o que muitíssimo boliria com o meu "amor próprio" (nanoide embora - reconheço) ...
Antes porém de que vista o pijama e que fique irremediavelmente perdido enquanto meu interlocutor, deixe-me zucrinar-lhe a paciência com, ainda, as seguintes perplexões.O 3º Duque de Palmela não sentiu em si força de alma para testemunhar o último prepassar de vida no momento último em que o seu Amigo, por si tão fraternalmente amado, aparentemente e só aparentemente, acabou. Saíu de Azoia de Baixo, numa caleche, acompanhado de Bolhão Pato, transido este de igual inibição. Não obstante, com a capacidade de liderança que o caracterizava, providenciou a chamada do Escultor Anatole Calmels ( o autor da estátua equestre de D. Pedro IV, na Praça da Liberdade, no "very center" da mui nobre leal e invicta Cidade do Porto - D. Pedro IV assim a proclamara e para sempre - para fazer o busto mortuário, de Alexandre Herculano (Fig.9)(16). E que vemos nós nele? . Nada! ou praticamente nada!...
Fig.9
O Escultor apagou do gesso os "acidentes" da superfície cutânea. Igualou-lhe o olhos. Alinhou-lhe as comissuras labiais. Recompôs a hemiface esquerda. Esqueceu-se (ou não reparou...) de eliminar as mínimas tuberosidadesinhas do pavilhão auricular direito, encurtando-lhe todavia o pingentiforme lobo e deixou à vista um tantinho de edema da face, quiça consequente à insuficiência cardio-respiratória e renal.Ou seja, juntou-se ao "Homem do Esfuminho" e ficaram os dois a assobiar para o ar...
Porém em carta escrita em Belém, a 16 de Setembro de 1877, dois dias depois da inumação, e endereçada ao 3º Duque de Palmela, o Escultor Anatole Calmels comentava meditativamente:... «por moi cette bouche est un mystère...» ... (17).
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.... Oui Messier Calmels, pour mois aussi!...Un mystère... cette bouche, cette face, cet oeil, ces mains...Et aussi un mystére cette retrait de Lisbone...de la "piolheira"(Eça?Ramalho?...esqueceu-se-me quem tão bem assim observou e deixou dito...), de la Lisbonne de la petite bouch, de l'intrigue, de la éthique mucus-purulent (18),  pour chercher (et trouver) la paix, la nature, la fraternité, le respect de tout le monde pour tout le monde et, pourquois non?!... l'encachement de tous les mystères de la bouche, de la face de l'oeil, de ses mains!!!...Mystères!!!
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Bulhão Pato é inequivocamente transparente: a ambiencia em Vale de Lobos é embebida pela excelencia; é prepassada pelo conforto, físico cultural e espiritual; D. Mariana, Senhora sua Esposa, rodeia Herculano do afectuoso carinho; Herculano retribui-lho, aqui e ali pontilhado de manifestações de bom humor; sente-se estimado por todos os que em redor de si gravitam; amigos vêm de longe tricotar Cultura adubada pela Amizade; uma vez ou outra sai com eles para caçar; deleita-se vivenciando a natureza que o rodeia, sente-se dela partícipe e , até, criador - foi fazendo uma pequena mas muito amada quinta... 3 ou 4 horas antes de terminar o seu percurso de vida ainda dormitadamente delirava, murmurando audivelmente:«Itálicoainda lhe comprava mais 2 centos... e depois de se suspender, em curto silêncio, murmura as suas 2 últimas palavras: ...tanchões de oliveira...
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Era feliz!... era?...Seria?!...
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Então porque escreveu:
«TEMO AS HORAS CALADAS DA NOITE, E O CORAÇÃO APERTA-SE QUANDO O SONO ME APERTA SOBRE AS PALPEBRAS AMORTECIDAS; PORQUE PARA MIM O SONO NÃO É REPOUSO E O FANTASMA DAS SOMBRAS SÃO MAIS CRUEIS DO QUE AS CRUEIS REALIDADES DO DIA.» (19)
«Calado por uns momentos» encorrilho-me, na testa, para dentro, como o Prof. Emídio, como o Médico Dr. Alves Branco... Então porque escreveu isto?...quando terá escrito isto?... era importante, para raciocinar melhor, saber quando escreveu isto e porque escreveu isto. Teria Herculano a exacta noção do seu ser biopatológico?... alguma vez alguém lhe propôs o diagnóstico clareador de significados para o tanto que lhe terá merecido as tantas preplexões, interrogações, cogitações que com a aguda profundidade que punha em tudo o que analisava certamente terá posto também num certo «conhece-te a ti mesmo» ?...
Será legítimo hipotetisiar que o refúgio em Vale de Lobos resulta, antes do TUDO e muito mais do que do TUDO que o levou a deixar Atenas, tal como Socrates, há 3.000 anos, não por uma expulsão decretada por atenienses de meia tigela , invejosos de seu génio e da sua inelástica verticalidade, mas, ao contrário, porque ele próprio CONDENOU ESSES ATENIENSES A FICAREM EM ATENAS, resulta ,dizia, de uma necessidade que sentiu de, a tempo e antes que as evoluções, ao longo de muitos anos, da sua doença, o tornassem pasto da "cuscuvelheirice" e
dos desrespeitos à sua condição, por parte da ralé dos "importantes" da "importância portuguesa" de então?... será legítimo dizer que veio para Vale de Lobos esconder a sua condição de leproso?....e, por causa dela, o seu sindrome depressivo?....que maravilhosas 3 ou 4 linhas para se descrever o tão característico pernoitar do deprimido estrelhaçado em suas ansiedades!!!...
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Acodem-me à lembrança as duas ou três vezes em que li, de Cruz Malpique , quando este terminava a apresentação de alguma ideia ou raciocínio mais inesperados, mais inspirados, ou mesmo mais ousados, a frase que passo a reproduzir: «O leitor diz que isto é mentira? então se é mentira vai para o saco». Pois bem: aqui estou eu preparadinho e pronto para também dizer: ai não é verdade?... então vai para o saco...porém a bufar e estrebuchar, como fazem os gatos, quando os queremos meter num saco. As a matter of fact, a minha desinibição já vai tal - mais prosaicamente, a minha lata já é tanta - que tenho uma proposta para fazer, no sentido de se afirmar ou infirmar o meu diagnóstico. Investiguemos os restos mortais de Herculano pelas tecnicas macroscópicas standard da bioarqueologia ( 20,21) e pelas metodologias da genómica comparativa (22). Com elas se diagnosticou a lepra em pessoas cujos restos mortais, com milhares de anos, foram por elas estudados.
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Enfim!. Vejo-me na inconfortavel postura de ter de terminar, mas não ter génio para condignamente o fazer. Ocorre-me, por isso, subitamente, uma (esta sim !...) excelente ideia: convidar Alexandre Herculano a fazer isso por mim, ele mesmo. Aceitou. Leiam aí o bilhete que escreveu:
«EU NÃO ME ENVERGONHO DE CORRIGIR MEUS ERROS E MUDAR AS MINHAS OPINIÕES, PORQUE NÃO ME ENVERGONHO DE RACIOCINAR E COMPREENDER».(23)
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Rui Abrunhosa
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FONTES DE INFORMAÇÃO e COMENTÁRIOS
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1 - Desenho da cama francesa onde morreu Alexandre Herculano: retirei a imagem de publicação que surpreendi na "net". Trata-se de reprodução de desenho da época. Não tinha condição, nesse momento, para anotar a fonte. O que é verdade é que nunca mais consegui encontrar nem a imagem, nem o documento que a reproduzia. Se alguém souber onde ela está "botem-me" aí a informação. Nomeadamente para eu agradecer ao autor de tal peça de divulgação cultural o te-lo feito e pedir-lhe perdão para o abusosinho de confiança... Uáááuuu...mesmo a tempo...descobri que a imagem está registada pela Google como segue: http://4.bp.blogspot.com/ELzPgnLjcY/8/T4SDCr27G21/AAA.AAA.AABEE/CvOT . Porém reprocurando a arca perdida" colhi a informação de que o blog tinha sido desactivado...?!...
2 - Bulhão-Pato - Os últimos dias de Alexandre Herculano. Lisboa.Typografia de Christovão Augusto Justificar completamenteRodrigues. 1880. Parcialmente reproduzido in: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/bulhao06.htm
3 -In: ribeiraseca.blogspot.com/zachariasdaça- in memoriam (1839-1908)-29.10.2010 e também in: http://o cão de parar blogspot.pt/ac&amp
4 - Médicos assistentes de Herculano
4a- Médico da Casa Real.
5 - Arte médica - O Humanismo da alma hipocrática e da ética médica centrada no amor pela dignidade infinita de qualquer ser humano.
6 - Tenho lido, de especuladores, considerarem estes ter tido Herculano, nesta circunstância, a tentação do suicídio. Do pouco que consegui apreender sobre o Ser e o Estar de Herculano me parece que - parafraseando o próprio Herculano - isto dá vontade de rir ... , de resto, Herculano nem era um político nem um banqueiraço português do século XXI.Muito menos um militantesinho  de 3ª de qualquer movimentosinho de pensantesinhos com os ombrosinhos...
7- Múltiplas manifestações e vários comportamentos demonstrantes da lucidez de Herculano, preservada até muito poucas horas antes de de se lhe apagar a luz da vida.
8 - A notícula demonstra com o "alguns dias" que Herculano fez a sua rotina de vida intelectual até sair para Lisboa e aí se despedir do Imperador do Brasil. Autoriza admitir que Herculano continuou a escrever impulsionado pela sua vivacidade intelectual (7).
9 - Ciência médica - da melhor. Sei bem o que é estar "alguns momentos calado". Observei isso, muitas vezes, na pessoa do último Internista da Europa - o Professor Emídio Ribeiro. Ao longo das manhãs em que fazia "a Visita", ou seja, para melhor compreensão dos leigos, as manhãs em que um a um, se abeirava de cada Doente internado no Serviço sob sua direcção, acompanhado pela totalidade do seu staff, para receber toda a informação médica que o responsável pela investigação do doente apresentava de modo cientificamente organizado, o que era seguido pela discussão dos factos e seus significados de degrau em degrau ao longo dos níveis de conhecimento dos sucessivos escalões de hierarquia, o que terminava sempre por um silêncio durante o qual o Professor Emídio "por alguns momentos calado" certamente reflectia nisso tudo o que ouvira, auscultara, palpara, cheirara, observara, reobservara e em tudo isso projectando décadas de experiências instantaneamente relembradas, históricos de observações idênticas, anos de leituras e releituras, audições e discussões de e com colegas que ao longo de toda a sua vida clínica tiveram o privilégio de com ele meditar a problemática de cada doente. Aprendi com ele alguma Medicina Interna, mas mais que tudo a "fôrma mental" da Medicina Interna, que "não tem a ponta de um corno de parecenças" com a merdicina dos "usadores" e usurpadores da coisa pública, para seus carreirismos e valorizações pessoais,ou com as merdicinas de "1/4 de Hora" das vítimas e dos capachos" de politiqueiros de ocasião, que abastardam, ou deixam abastardar, a dispensa universal e cientificamente irrepreensível,de cuidados médicos, por um Serviço Nacional de Saúde, ou ajoelham, enquanto adoradores do bezerro de ouro, cujo "restiling", tem agora o aspecto de maquinetas financeiras que além de chicletes, maços de tabaco, coca-colas e preservativos, dão também ressonâncias magnéticas sem que, para tal, seja necessária uma aprofundadíssima conversação com o doente, por gente que tenha tranparência no comunicar, que sabe em face dela conduzir estudos complementares com consistência interna e não aceita fazer circular os doente de exame complemetar em exame complementar enquanto não estiver esfolado ou o "plafon" que a "seguradora" lhe deu, ou a massita que foi buscar à leira que vendeu para o efeito - sim! "quisto" de ter "o cartão do seguro" é só para gente fina, bonita, que merece estar, e, sobretudo, está a abarrotar de saúde...
10 - Ânsia romântica do romântista: a necessidade de uma pitada de deslumbre com a natureza...
11 - O vincado estoicismo da sua personalidade...
12 - Prova de saudavel e harmoniosa auto-estima.
13 - Na pobreza, a riqueza da pureza, com  a sagesa da sabedoria... e da humildade de corações com nobreza...
14 - Harrison's Principles of Internal Medicine. 17 th Edition. Fauci et al.. Mc Graw Hill - Medical. N.Y. - New York. 2008
15 - Falei com ele pelo telefone um ou dois dias antes do dia de Natal de 2011 ( há mais ou menos 9 meses. Estava frágil. Doente. Já o não via há anos. Prometi visitá-lo. De dia em dia os dias vão passando. Ocorreu-me entretanto mostrar-lhe este meu trabalho e pedir-lhe parecer crítico. E mais dias foram passando... Amigo comum telefonou-me no passado dia 8 de Abril...  Que o "Mestre" morrera há 2 horas...
O quê, de segredos da natureza, ficou por desvendar com este teu parar num certo modo teu de pensar... Com frequência dou-me  comigo ouvindo-te discernir. Que pena tenho Manel, não tenhas lido isto para me ensinares onde estou a errar... 
16 - Fotografia por M. Novais do busto de Alexandre Herculano que o Escultor A. Calmels criou com base na mascara mortuária que recolheu a pedido do 3º Duque de Palmela.
In: Kaligraphias blogspot/2011/05/herculano-ensaio-de-interpretação-da.html. Nesta e-mucanda se mostra a capa de edição pela Bertrand, em 1934, da obra de Vitorino Nemésio «A Mocidade de Herculano». No bordo inferior da imagem fotográfica se estampa o seu a seu dono, isto é, que a escultura (sic) é de A. Calmels e a fotografia dela realizada por M. Novais. Com vénia a Martin de Gouveia e Sousa que neste seu blog nos oferece este documento. Informo ainda o meu "numeroso" leitor que a imagem que aqui mostro  é o situs inversus da que aparece na referida publicação pelas razões já acima explicadas.
17 - Tenho muita pena, mas perdi o registo da fonte de que recolhi esta referencia. "Ia jurar" que é de Vitorino Nemésio e dela diz tratar-se de carta inédita guardada nos Arquivos Palmela.
18 - Ouvi esta expressão - em português, naturalmente - ao meu Colega e Amigo Dr Lopes Pires, Presidente do Colégio da Especialidade de Medicina do Trabalho, da Ordem dos Médicos, a trabalhar (na sua Mediviseucentro) e a viver em Viseu, quando com ele, telefónicamente, conversava sobre a problemática da medicina do trabalho em Portugal...)
 19 -In:http://www.edinacruzio.files.wordpress.com/2010/11/3izp.jpg&imgrefurl:httl. Infelizmente não se menciona o texto de onde se faz a citação.
20 - Gwen Robbins et al- -Ancient Skeletal Evidence for Leprosy in India(2000 B,C,). In: http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0005669.
21 - Buikstra J.E.,Ubelaker D.H. - Standards for data collection from human skeletal remains. Fayetteville,Arkansas: Arkansas Archaeological Survey.1994..
22-Monot,M et al - On the origin of leprosy. Science: 2005 May 13th, vol.308 - nº5724-pg.1040-2.
23 - In: http://www.citador.pt/frases/cita%C3%A7oes/a/alexa .Infelizmente também o texto de que se cita o pensamento não está explicitado.
24 - Whitwell, John - Role of the sympathetic in lacrimal secretion.
25 - Duke-Elder, S. "Text-book of Ophthalmology", vol.1, p. 651. Kimpton, London.
26 - Surós A. e Batlló J.S. - Semiología médica y técnica exploratoria. 8ª Edição. 2001. Masson - Barcelona
(a) - Bjorn e Sjostrand escrevem-se com trema no "o" o qual, assim, apropriadamente "tremado", se lê como o tom do nosso "o" em  "cornos".
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E já agora, porque ainda a tempo...
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 Merece reflexão a aparentemente simples e, diria mesmo, amorosamente poética notícula  de Bulhão Pato  quando escreve: «pela primeira vez lhe vi os olhos húmidos de lágrimas». É ela, uma vez mais,  reveladora da sua estrutura psíquica, toda sensibilidade, de rigoroso observador e de  científico colector de factos. Ainda que de significados a definir.
Por tal, peço licença ao meu numeroso leitor para, aqui, rapidamente, à velocidade do relampejo, dar uma pensadela sobre frase tão profunda e, por isso, muito feliz (a qual repetirei, já de seguida, logo que recapitulemos o cenário). Herculano, à laia de comentário, acabara de declarar sentir o chegar da morte: apontando seus pés  disse: «A morte já aí está a chegar».  Logo de seguida, após algum tempo de reflexivo silêncio, apontando sua testa, afirma: «Isto ainda está muito bom. Suspende-se. Olha em prolongado silêncio o muito lá do de mais profundo dos olhos de Pato.... e brada: «Agora vocês é que ficam sendo os Velhos...» ... e, agora sim! reflitamos a descrição eloquente de Pato: «pela primeira vez lhe vi os olhos húmidos de lágrimas».
 Sejamos cuidadosos: Pato viu humidade mais abundante nos olhos de Herculano. Sendo ele tão exigente no descrever com verdade o que viu, nao descreve, não refere patinagem de gotas aquosas "pela cara a baixo" como se diz no dizer popular. Não conta "uma choradeira". Apenas deixa, para a posteridade saber, que os olhos de seu amigo, ao presentir, qual gota pendente pronta a cair, a entrada em  irremediavel agonia, ficaram húmidos, modo literário de dizer que abrigaram um volume ligeiramente maior de secreção, aguardando alguns segundos mais para apropriadamente ser drenada pelas vias normais. Os Portugueses também usam dizer marejar, o que significa o ressumar de um líquido, como usam também descrever "ficou com os olhos rasos de lágrimas", ou seja, uma quantidade de líquido que não chega a despenhar-se do bordo da pálpebra.
Ora entonces "é assim"(?): A glândula lacrimal é regulada na sua função por três nervos. A enervação sensitiva cabe ao nervo lacrimal, componente da ramescência do Nervo Trigémio,  desempenhando assim o papel de recolher informação à periferia e  entrega-la a centros nervosos  de onde ela, a informação, depois de manuseada, pode ter vários destinatários e dar lugar a respostas, nomeadamente reflexas. Uma delas é veiculada pelo nervo facial, o qual, deste modo estimula a secreção da glândula lacrimal. Porém esta secreção lacrimal estimulada por terminais  do nervo facial mas suscitada reflexamente por estimulação tópica de receptores sensitivos do nervo lacrimal  ocorre em fluxo superior ao da drenagem sobretudo  enquanto ponto final de um arco reflexo iniciado  com a estimulação sensitiva do nervo lacrimal... como, por exemplo, numa circunstância inflamatória  de etiologia microbiológica  ou outra, ou na sequência de  agressão mecânica, por exemplo pelo  "argueiro no olho" como se usa dizer popularmente. Dito de outro modo, o nervo facial, sendo de importância crucial no controle da secreção lacrimal sustentada,  em condição de equilíbrio entre produção e drenagem não o faz, porém,  em exclusivo. Mas é o único  responsavel pela estimulação de tal secreção, em fluxo abundante, derramado em "lagrimas cara a abaixo» sempre que em resposta pelo "arco reflexo" nervo lacrimal - nervo facial. Neste "arco" apenas participa o (assim chamado na gíria médica)  "facial periférico". Cebolinhem com cor berrante, o nome desta estrutura. Diga-se por fim, para tentar lograr uma compreensão geral dos "quems", dos "comos"e dos "porquês"  da secreção lacrimal, que ela dispõe de uma actividade secretora, de fundo, serena, e proporcionalmente menos abundante - na rotina fisiológica -resultante de estimulação por terminações de fibras do sistema nervoso sinpático,  as quais, como as heras trepando pelas paredes, usam as paredes das ramescência da artéria carótida para terminarem nas células secretoras lacrimais e sobre elas terem efeito secreto-motor (24) . O cenário experimental relatado neste trabalho que acabamos de citar permite em conjunção com observações e experiências já de 1938 (25) concluir que «o simpático é responsavel pelo nível geral da secreção lacrimal ( poisstáklarokatravés do seu neurotransmissor final - a adrenalina). E mais: a anulação do arco reflexo lacrimal-facial periférico não só não bloqueia a secreção lacrimal geral, como após exerese de porções cervicais do simpático a administrção, por injecção, de adrenalina, em doses elevadas - como as conseguidas   durante estas experiências, nomeadamente em doentes portadores de tumores cujas "cirurgias" obrigaram a tais exéreses, permite secreção lacrimal com fluxos quase iguais e até superiores aos anteriores à  simpaticectomia associada ao bloqueio do arco reflexo lacrimal-facial periférico. No artigo referido em (24) se admite mesmo que a constrição arterial periférica que a adrenalina provoca, pode ser também factor potenciador do efeito secretor da adrenalina circulante na glândula lacrimal
E prontus : voltemos aos "relatórios médicos" de Bulhão Pato. Neles se afirmam:
1 - sinais de intensa vaso-constrição periférica explicitada numa palidez de brancura como a cal da parede, diz o povo, que deixava os amigos e familiares muitíssimo impressionados.
2 - sinais vários que permitem afirmar estar Herculano embebido de intenssissima ansiedade - de diversas etiologias embora, mas que o seu inenarravel estoicismo não lhe permitia dar a perceber... o que mais potenciava as respectivas consequências
Portanto, Herculano estava empapado de adrenalina.... o exacto momento em que emocionalmente, depois de "se suspender"...de olhar profundamente para dentro dos olhos do seu genuinamente e muitissimo querido amigo Bulhão Pato,  disse... «Agora vocês é que ficam sendo os velhos» no mais recondito recanto da sua glândula suprarrenal a explosão emocinal do sublime momento foi a gotinha de adrenalina que se lhe extravasou do copo cristalinamente transparente de sua Vida, numa Vida de Sofrimento...» pela primeira vez , lhe vi os olhos húmidos de lagrimas».
A sua paralisia do facial periférico e, já antes dela, as lesões do trigémio, em ambos os nervos craneanos produzidas pela Lepra não são, portanto, para aqui, nisto,  chamadas... Herculano foi-se defendendo pelo seu "simpático" "do olho seco" que, à  epoca, fazia cegar quem o tivesse.
E voltemos a Malpique... " ai não é verdade!... então vai pró saco...
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"Perdido" por 10, "perdido" por 100 !
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Me desculpe o meu numeroso leitor, mas a minha "desanancástica" forma de tricotar "pulsiona-me" a referir ainda a minha seguinte curiosidade - preto no branco. Terá sido Herculano portador do "Síndrome das lágrimas do crocodilo". Enquanto vitimado pela sua paralisia facial ?
Trata-se de uma rara condição sequelar de paralisia facial, na qual, cerca de 6 meses depois de acontecências degenerativas do gânglio geniculado, ocorre o curioso fenómeno da lacrimação paroxística unilateral, despertada pela mastigação, sobretudo de certos alimentos picantes, mel e chocolate. O transtorno é muito encomodativo e dá lugar a uma blefarite secundária (26).
Apesar de ter feito uma busca dentro dos estreitos limites em que me posso movimentar, não consegui encontrar qualquer descrição, alusão, ou sinal de que Herculano, com a sua paralisia facial tenha, associadamente, sido vitimado por esta condição.
Não tenho a segura certeza de que o crocodilo verta lágrimas enquanto mastiga... a sua vítima... e é este o ponto. Quem disso está convencido explica  a ocorrência afirmando ter o crocodilo uma particular relação topográfica entre o seu palato duro e a glândula lacrimal a qual seria responsavel por um certo "espremer", por compressão, das glândulas lacrimais quando na mastigação aperta a mandíbula contra a maxila. E então vem a "perfídia"popular   ( não só em Portugal, mas também noutros países) e a minha própria, atribuindo ao crocodilo sentimentos suezes, de compaixão hipócrita, pela vítima que deliciadamente está a comer... Bem visto!... Quem imaginou a coisa estava a pensar em certos "pró-líticos protozooguêses!!!!
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