ALMOÇO DOS FINALISTAS DE HÁ 53 ANOS DO LICEV ALEXANDRE HERCULANO – 1 - Uma postagem de Rui Abrunhosa
Foi no dia 20 de Outubro. Manhã de sol cristalino e céu azul profundo.
Almoçamos com o Dr. António Augusto Lopes.
Momentos de júbilo, bem estar , alegria, paz, saudade, esperança!...
Porque será?!...
Recebidos, com ternura, pelo Januário, Moreira e Carlos de Sousa que, como habitualmente, se incumbem de organizar estes Encontros.
Vieram muitos, mesmo de longe, alguns com suas Esposas e dois com Netos.
O Dr. António Augusto Lopes apresentou interessantíssimas e muito profundas reflexões. Quer pelos que lá estiveram quer pelos que o não ouviram, vale a pena lê-las. O Moreira digitalizou e distribui – logo antes do Natal – o manuscrito de tão original criação filosófica por um Matemático. E que o seu Autor - como em anos anteriores – teve a gentileza de nos dar . Exactamente!.... DAR . Foi o que estes Homens e Mulheres daqueles tempos sempre fizeram : DAR. Sempre lhes ouvimos dizer “vou DAR uma aula” , “estive a DAR uma aula” … DAVAM e DAVAM-SE. Chove no Coração de Portugal… agora, com alta frequência vendem-se, vendem aulas - baratuchas …- curvo-me respeitoso perante os que enquanto educadores se deram e deram , sem nunca pedir nada em troca, como também me curvo ante os que, enquanto minorias, hoje, também hoje, ainda hoje, têm a coragem de o fazer, mesmo quando, diariamente, lhes escarram na cara!! Coitadito do Portugalito …
Aproveito o ensejo para sugerir ao Dr. António Lopes, a título de singelo cumprimento, que releiamos, a seguir, a
POESIA MATEMÁTICA
De
MILLÔR FERNANDES
Às folhas tantas
Do livro matemático
Um Quociente apaixonou-se,
Um dia,
Doidamente,
Por uma Incógnita.
Olhou-a com o seu olhar inumerável…
E viu-a, do Ápice à Base.
Uma figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No infinito.
“Quem és tu?” indagou ele
Com ânsia radical.
“Sou a soma dos quadrados dos catetos.
Mas pode chamar-me de Hipotenusa.”
E de falarem descobriram que eram
- O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs –
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação;
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim! resolveram casar-se.
Construíram um lar.
Mais do que um lar,
Uma perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro,
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram e tiveram uma secante e três cones
Muito engraçadinhos
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo,
Uma Unidade. Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade
E tudo o que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como, aliás, em qualquer
Sociedade.”
Millôr Fernandes
E mais diz o Rui Abrunhosa…
Recolhi de : “«Jornal de Poesia» - Millor”
http://www.revista.agulha.nom.br/millor.html
Rui Abrunhosa
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Nota do transcritor:
Boa malha, Rui! Esta – por muito ordinário que seja o apossamento (o que está na origem da velhíssima expressão do “possuído e mal remunerado”) – vai também para ao meu blogue! Aliás recorda-me uma “poesia química” de um autor francês de SF, cujo nome (e a correcta e não, como agora, duvidosamente relembrada poesia) procuro localizar de há muito… sem a encontrar e que, salvo erro grosseiro, dizia qualquer coisa como isto::
“O jovem C2H2
Enamorou-se da jovem H2
E depois de meses de amor ardente
Nasceu C2H4”
.
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