LAH1954

um blog de antigos alunos do Liceu de Alexandre Herculano, do Porto

terça-feira, 4 de novembro de 2008

UM NACO DE TARDE BEM PASSADO. . .

. . . na companhia do

António Armando Mourão Januário

E com uma recapituladela do Carlos Manuel Teixeira Soares de Sousa

que já panegiriquei (1) lá para traz

Foi assim:

Caminhava eu, estugado, no piso dos barulhentos e “novorriquenhos” repuxos do Centro Comercial Dolce Vitae, do Porto, nas Antas, quando, alguém, nas minhas costas, saindo da loja da TMN (os rios, realmente, correm sempre para o mesmo lado !… (2) ) chama, incisivamente, por mim. Ao primeiro brado, “despassarado”, como sempre sou, nem adverti que era comigo… ao segundo berro, pareceu-me, incredulamente, que poderia ser para mim… com o terceiro grito tive a certeza e virei-me. Era o Januário!...que agradável surpresa!... . Topara-me, de dentro da loja e logo acorreu para me deter o passo!...

Conversamos com gosto… com bom gosto. Só alguns minutos – ele tinha sua Mulher à espera…, mas combinamos encontrarmo-nos, daí a dias, no «Nicola» (3) , um micro “Café”, no “Via Catarina”, onde a nós se juntaria, também, o Carlos Soares de Sousa, com quem, de resto, o Januário ali costumava encontrar-se, numa frequência quase semanal, nomeadamente para, com o Moreira, tricotarem o nosso “Encontro Anual dos Finalista-54 do LAH”, no próximo 11 de Outubro.

Não falhamos. Pontualíssimos, os três!

Estávamos a iniciar sorvos quentes e aromáticos, de bom café, que entrecortavam frases simples de agradável conversa, quando o meu telemóvel iniciou inquietantes arrepios palúdicos. Era minha Mulher. Tinha ficado «fechada na rua». Saíra, sem levar a chave… Pedia socorro!

Explicada a situação ao António Armando e ao Carlos, com desculpas, convidei-os a virem comigo a minha casa. O que aceitaram.

Salva a Vítima, num fim de tarde ameno, ficamos a tagarelar, no meu Jardim (?), por entre hidranjas, limões, brincos de princesa e as folhas vermelhas da buganvília. Pedi-lhes, entretanto, para brincarmos ás fotografias. No que “compinchadamente” alinharam. Eu fiz de conta que era fotógrafo, eles fingiram que eram Modelos.

Vejam-se, por aí abaixo, alguns exemplos de um tal “gozo espiritual”…

«Homem bonito!!...!!!...» diria do Januário, a Gabriela, do Jorge Amado, na sua mansa e compassada rouquidão, de “canela”, com olhos, rescendendo “cravo”… “cravados” no bigode do Januário…. ( « tira a mão da gabardina» retorquiria rápido - e grave ! - o Januário, num repente, à Cantinflas.. ). Quanto ao Carlos… Cuidado !!!… Só agora percebo porquê o Carlos Darwin e o Carlos Marx usaram barbas!!!… à Carlos Soares de Sousa… esses dois gajos, lá porque também eram Carlos, o que queriam mesmo, era ter prestígio intelectual !…

Chôôô!… vamolácabarcuabrincadeira-… muito riso - pouco siso… vamos mazé tratar das prometidas coisas porque coisas muito sérias e muito importantes.


O Januário é um Homem absolutamente fora do comum.

Simples, muito simples !. Portanto “Grande”.

Por isso «em contra corrente».

Longe, para não se deixar salpicar da lama do chicoespertismo grandiloquente que hoje, avassaladoramente, se vai apropriando do coitadito do portugalito. Chicoespertismo que tudo vai recomplicando, de complicómetro em punho, para “embaralhar” por baixo (ás vezes com ‘c’ curvo) o que parecia decente e fiável por cima. Por ondas… hoje partidarizas tu, amanhã partidarizo eu, hoje deixas-me facilitar prómeulóbii kámanhãassobiopróar candos tivereszadarafodamestra no portuguezalho, …nem kele seja só o teu colega do lado, na escola, na faculdade, na banca, no comercio, no partido, na “Liga”, na cultura (?) na empresa, no off-shore, no “et coetera”… ou no «offdeguingues», kétudamemakoisa . «Em contra corrente», dizia, do avassalador caudal da Patranharia Nacional.

Ou seja: Nobre.

Rigoroso, leal, reflectido, corajoso, ético, no fácil do quotidiano, no óbvio, mas, principalmente, quando tudo é difícil, às vezes muito difícil, lá dentro, no mais por dentro, no muito dentro, onde se debruça a consciência, em braço de ferro com a tentação, impulsionado pela força interior, pensadamente justa, com que ganha sempre os seus Combates de Vida, com respeito pela dignidade infinita de todos com quem cruzou e continua a descobrir, no seu percurso de vida.

Educado, muito bem educado !.

Gostava de ter conhecido seus Pais… O Januário, ainda adolescente, estimulado por eles, começou a ler o Jornal do Gaiato. Ainda hoje, em sua casa, recebe, quinzenalmente, «O Gaiato»!!! Só este detalhesinho chega. Com ele fica tudo dito … , sobre quem é o Januário. Na Arte Médica, de um sinal assim, diz-se ser patognomónico. Sem mais nada, sozinho, chega, para fazer o diagnóstico.

Mas eu preciso de dizer mais…Com a minha candeia, ao modo do Diogenes, no Januário, «encontrei um Homem» …

Solidário, profundamente solidário!.

Só Homens Superiores são capazes de serem e de se sentirem Solidários. O Januário é um Homem Superior. Porque solidário… com o mais frágil, com o mais doente, com quem dele possa beneficiar de uma ajuda, do conforto da oferta de algum do tempo do seu tempo …

Demonstração?...

Ora vai a Coimbra, visitar um antigo «pinchas», agora encurralado no seu sofrimento, … ora viaja para Lisboa, para fazer uma tarde de companhia a um antigo condiscípulo do “Licev” e da Faculdade, agora cego… ora dedica tardes, conversando, com o Colega dos bancos escolares que, lentamente, sofridamente, foi sentindo, prolongadamente, a vida a bruxelear cada vez mais de vagarinho, mais pequenina, até se apagar, num fuminho branco, que sobe, enrolado, vamos lá perceber bem para onde… aquele seu Amigo teve sempre a sua companhia, até lhe aparecer o fuminho branco… E ajuda a Netinha, vai leva-la, busca-la, para que não falte ao ballet , para que lhe não falte o ballet… Faz mais, muito mais, mas tenho de lhe respeitar o modo de Ser, a sua extrema discrição… Suspendo-me, por isso, aqui … não faz falta contar mais… O Januário é Discrição – a Discrição.

O António Armando Mourão Januário é muito simples, muito nobre, muito bem educado, muito solidário, muito discreto, muito Grande!!!... Foi aí, então, que o Diógenes levantou mais a candeia, iluminou-lhe o rosto (Figs. 1, 2, 3, 4, 5. 6,) e clamou: AHHH !!!... Achei… Um Homem!!!...







…e, também, que o Pessoa tossiu, molhou no cálice a língua, consideradamente - e escreveu:

« para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui . Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim, em cada lago, a Lua, toda, brilha, porque alta vive».

Não quis perturbar no Januário a sua serena travessia de Vida. Não consegui porém de mim fugir ou em mim conter o meu dever de tributo.

Aceita António Armando um abraço com a muita admiração do

Rui Abrunhosa

_________________

(1) Eu sei que não fecho bem da mala, mas não gosto que mo digam…até porque não sou eu quem fala assim. Aprendi esta com o Pde. Francisco Manuel do Nascimento, mais conhecido como Filinto Elíseo, dissidente da «Arcádia Lusitana», fugido para França, perseguido pela Inquisição. Ali morreu em 1818.

(2) O Januário, depois de se licenciar em Electrotecnia, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, entrou para os então chamados “Telefones de Lisboa e Porto”. Múltiplas alterações, sucessivos arranjos (e arranjinhos), diversas mutações, fizeram evoluir a designação da instituição. Hoje chama-se Pt, ou, sem preguiça, Portugal Telecom, dona da TMN…

(3) Desde que nos encontramos no “Nicola” da “Via Catarina”, metade da água do Atlântico já passou por baixo da Ponte D. Luís. Januário: perdoa-me tanta demora. Já sabes que sou fraquinho. Entretanto a «ASAE» selou as portas do acolhedor boteco. Diz que faltava lá uma meia folha dum qualquer papel selado …

E agora vamos à recapituladela do Carlos Soares de Sousa.

Três aspectos (Figs. 7, 8, 9.)



R.A.

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