A ilha de jan Mayen
Cornelis de Man (1621-1706): A fusão da gordura de baleia na ilha de Jan Mayen
Também tivemos professores estranhos. Se naquele tempo contávamos pelos dedos de uma mão os que considerávamos maus professores, que os havia, os dias de hoje - na opinião dos alunos - levam a contar da mesma forma os considerados bons. Mas havia os estranhos que, independentemente dessa dicotomia primária, tinham humanas fífias.
A gravura junta, que reproduz um quadro exposto no Museu Real de Amsterdam, o Rijksmuseum (lea-se "Reíks...), transportou-me a um episódio algo grosseiro, mas que me marcou pela injustiça nele contida. O professor, de Geografia, era um bom homem - não tenho dúvida - e assumia uma forma muito peculiar de se dirigir aos alunos. Todos o conheciam por isso e ninguém lhe tomava a mal que, na generalidade e na especialidade, nos tratasse, no então 2º ciclo, como se fôssemos criancinhas da primária.
Falando bem e depressa, eu era um puto curioso. Gostava de viajar nos mapas de um atlas, aliás Espanhol (Salvador Salinas, seria esse o nome?) , que representava os continentes e os oceanos em esmerado detalhe e que me fazia sonhar em horizontes ainda não conhecidos. Cheguei ao ponto - original na época e quase precursor - de verificar que os continentes podiam ser um "puzzle", isto é que o "nariz" do Brasil encaixava no côncavo do Golfo da Guiné e que as Aleutas pareciam um rasto de geleia de marmelo na toalha do Pacífico Norte. Sem o saber, estava num bom caminho - mas não passei dessas constatações curiosas e de outras, reforçadas aliás pela filatelia e a leitura da Enciclopédia de Maximiliano Lemos (que me parecia uma obra gigantesca, na estante dos meus Avós maternos, mas que outro dia vi - e impressionou-me pelo seu tamanho, bem mais reduzido do que então me parecia).
É aí que, já no Oceano Glacial Ártico, a norte da Islândia, eu fui encontrar a ilha de Juan Mayen (Juan porque o atlas era espanhol!) , como que perdida e sem a indicação, entre parêntesis como era costume, das iniciais da potência titular da dita ilha (que é a Noruega, diga-se). Curioso de tirar o assunto a limpo, esperei o fim da primeira aula de Geografia que tive, deixei-me arrastar na sala e dirigi-me ao Prof e perguntei-lhe, designando um local provável no azul acima da islândia, antes de chegar ao branco:
- Professor, a quem pertence a ilha de Juan Mayen?
O calmo professor subitamente entrou em inesperada erupção (aliás adequada, porque Jan Mayen tem vulcanismo activo) e apontando-me com o dedo em riste, respondeu:
- Olha, meu pequenino, é uma falta de respeito tentar experimentar os professores com perguntas matreiras!
E deixando-me envergonhado e confuso, saiu pela porta fora... sem sequer me dizer que, se não sabia, iria procurar conhecer quem, de facto, mandava em Jan Mayen. Não gostei!
Zé Miguel
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