Uma evocação do Dr. Mesquita
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No meu "blogue" pessoal (sim, por mor de várias razões não escapei a essa actividade narcísica que tenho razoavelmente mantido com a pouca "clientela" que mereço...), rabisquei em rodapé à mensagem de 15 de Dezembro de 2006 um relato de uma atribulada viagem sobre o Pacífico, que terminou com uma evocação do Dr. Mesquita. Aí vai!
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No meu "blogue" pessoal (sim, por mor de várias razões não escapei a essa actividade narcísica que tenho razoavelmente mantido com a pouca "clientela" que mereço...), rabisquei em rodapé à mensagem de 15 de Dezembro de 2006 um relato de uma atribulada viagem sobre o Pacífico, que terminou com uma evocação do Dr. Mesquita. Aí vai!
"Outro dos "mistérios" resolvidos nessas viagens, uma delas dramática (a que não foi "a da Guí-se-la") pois atravessei os EUA em várias etapes, sem visto, com passaporte apreendido e fechado em envelope passado de tripulação a tripulação, uma etiqueta pendurada a dizer TRWV [= transit without visa] e sempre guardado à vista, a caminho do Canadá, onde poderia (então) entrar sem visto, mas sobrando-me apenas 50 USD no bolso (depois os Canadianos tornaram-se uns chatos e passaram a exigir vistos e a ser mais chatamente britânicos que os tão perguntadores ingleses do Heathrow de então, o que deu origem a algumas cenas cómicas, como em Edmonton, mas isso fica também para contar depois! Aliás esta saga seria impensável hoje!)
Recordo-me que nessa viagem gastei uma substancial parte dos ditos 50 dólares num taxi para sair do aeroporto de Toronto, guiado por um simpático cabo-verdiano que me depositou numa espelunca próximo das pistas (não digo o nome, mas recordo-o bem), dizendo-se com ar intrigante: "ali também se dorme e não é caro" (cena paralela a uma em Hamburgo, mas de contexto diferente, que também vai para o baú dos incontados potencialmente contáveis) e que na manhã seguinte, mal-dormido (havia muitas portas a bater durante toda a noite mas eu nem tinha vontade, nem maquia, para me preocupar com isso), com 50-4-12 = 34 dólares remanescentes fui a pé para a gare, tomei geladamente um AirCanada matutino e, ensonado, só respirei fundo em Montreal, quando me vi dentro do avião da TAP!).
Mas, e a "international date line"(IDL)? Falei nela pela primeira vez em Geografia, no LAH, no 3º ano, com o Professor Mesquita, mais conhecido pelo "Homem das Cavernas". E não percebi nada! Isto de haver na Terra um meridiano, situado a meio do Pacífico e em oposição ao de Greenwich, de tal forma que até (por sorte) intercepta uma das menores áreas de terra habitada do Mundo e em que, atravessando-se para oriente se passa das X horas de hoje para as X horas de ontem (o caso do Philleas) e atravessando-se para ocidente se passa das X horas de hoje para as X horas de amanhã (o que tramaria o Philleas se fizesse a aposta e viajasse nesse sentido...), tudo em pleno e imutável Sol entre coqueiros do género "oh bela Yamantanganotinha vai-me ali, ao ontem, buscar um côco e trá-lo cá hoje, se fazes favor" ou "espera um pouco, Samantha-dear, que vou ali ao amanhã buscar a nossa roupa, pois não fica bem hoje entrarmos ambos nus em pleno Hotel". Mas havia a história do Philleas e do Passepartout e da Ms. Aouda e eu tinha o Jules por gajo sério! E depois havia aquela realidade da hora e dia do ETA (tempo esperado de chegada, não confundam!) a Seattle-Tacoma...[1]
Quando pensei que estava próximo da IDL levantei-me e fui até à "kitchenette", pedir um "bourbon-soda" e cavaquear um bocadinho com as hospedeiras. Manifestei-lhes, coração aberto, as minhas ainda pueris mas persistentes dúvidas sobre a IDL e sobre se seria possível voando num avião rapidíssimo rejuvenescer sucessivamente (o que, evidentemente não é possível pois os ganhos num sentido se perderiam depois... a menos que fizesse entrar a letra "c", mail'o Alberto e o Magueijo nesta história toda!). Recordarei sempre a frase da mais velhinha delas, já farta de andar por aquelas bandas: "Olhe, quanto à IDL, o melhor é mesmo não pensar nisso!". Sábia frase, digna até do "Homem das Cavernas" que, decénios atrás, ensinava Geografia no "meu Liceu" e que eu silenciosamente evoquei sobre o Pacífico, ao voltar para o meu lugar com o "Old Nr. 7" no copo!"
Bonito, não é? Pois do Dr. Mesquita ficaram-me dois episódios, um meu e outro do Malafaia, o Álvaro creio eu, cada um no seu soleníssimo estiquete frente ao "mapa mudo" (ainda guardarão no acervo do LAH esses terríveis instrumentos de tortura que se chamavam mapas-mudos e que eram de origem francesa? [2]). Ambos são do mesmo estilo. Quanto ao Álvaro, navegava ele em gestos redondos por sobre a Indonésia, percorria Samatra, enquanto o Dr. Mesquita, com aquele seu habitual vozeirão, dizia: "Como se chama essa ilha?". E a malta soprava "Samatra! Samatra!", mas o paciente, posto em cima do estrado, pelos vistos não ouvia bem... e saiu-se com um tímido "Salamanca!". Quanto a mim, coube-me a Austrália. Não sei por que bulas nós tínhamos de saber as províncias da Austrália e as respectivas capitais. Eu estava "em branco mais branco que branco de titânio" e o "Homem das Cavernas", frente ao tal enigma plasmado que era o mapa-mudo, perguntou: "E essa cidade aí, qual é?". Tentei uma evasiva parva e balbuciei: "São todas nomes ingleses... muito difíceis de decorar!" Sucesso pleno mas bola vergonhosamente ao lado, já que aquela cidade de nome "dificílimo" era nem mais nem menos que... Adelaide!
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[1] I.e. tinha saído de Tóquio às 16 da tarde, ia chegar a Settle na madrugada do mesmo dia...
[2] É curioso notar que muitas das alfaias lectivas do LAH eram de origem francesa. Os mapas, mudos ou falantes da "sala de Geografia", eram na sua maior parte franceses... alguns dos instrumentos de física eram franceses... e francesas eram, da casa "Les Fils d'Emile Deyrolle" [mas ainda existem, os gajos! ou pelo menos são falados! vejam na "net" por este nome!], as amostras de minerais e rochas da excelente colecção que o sr. Abrunhosa mantinha nos filinticos domínios - tudo isto podendo DAR UM EXCELENTE MUSEU DE MATERIAL DIDÁCTICO! Mas ainda bem, apesar de tudo, que o "Teacher", com o "English by Radio", veio matizar um pouco tanto galicismo!
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Recordo-me que nessa viagem gastei uma substancial parte dos ditos 50 dólares num taxi para sair do aeroporto de Toronto, guiado por um simpático cabo-verdiano que me depositou numa espelunca próximo das pistas (não digo o nome, mas recordo-o bem), dizendo-se com ar intrigante: "ali também se dorme e não é caro" (cena paralela a uma em Hamburgo, mas de contexto diferente, que também vai para o baú dos incontados potencialmente contáveis) e que na manhã seguinte, mal-dormido (havia muitas portas a bater durante toda a noite mas eu nem tinha vontade, nem maquia, para me preocupar com isso), com 50-4-12 = 34 dólares remanescentes fui a pé para a gare, tomei geladamente um AirCanada matutino e, ensonado, só respirei fundo em Montreal, quando me vi dentro do avião da TAP!).
Mas, e a "international date line"(IDL)? Falei nela pela primeira vez em Geografia, no LAH, no 3º ano, com o Professor Mesquita, mais conhecido pelo "Homem das Cavernas". E não percebi nada! Isto de haver na Terra um meridiano, situado a meio do Pacífico e em oposição ao de Greenwich, de tal forma que até (por sorte) intercepta uma das menores áreas de terra habitada do Mundo e em que, atravessando-se para oriente se passa das X horas de hoje para as X horas de ontem (o caso do Philleas) e atravessando-se para ocidente se passa das X horas de hoje para as X horas de amanhã (o que tramaria o Philleas se fizesse a aposta e viajasse nesse sentido...), tudo em pleno e imutável Sol entre coqueiros do género "oh bela Yamantanganotinha vai-me ali, ao ontem, buscar um côco e trá-lo cá hoje, se fazes favor" ou "espera um pouco, Samantha-dear, que vou ali ao amanhã buscar a nossa roupa, pois não fica bem hoje entrarmos ambos nus em pleno Hotel". Mas havia a história do Philleas e do Passepartout e da Ms. Aouda e eu tinha o Jules por gajo sério! E depois havia aquela realidade da hora e dia do ETA (tempo esperado de chegada, não confundam!) a Seattle-Tacoma...[1]
Quando pensei que estava próximo da IDL levantei-me e fui até à "kitchenette", pedir um "bourbon-soda" e cavaquear um bocadinho com as hospedeiras. Manifestei-lhes, coração aberto, as minhas ainda pueris mas persistentes dúvidas sobre a IDL e sobre se seria possível voando num avião rapidíssimo rejuvenescer sucessivamente (o que, evidentemente não é possível pois os ganhos num sentido se perderiam depois... a menos que fizesse entrar a letra "c", mail'o Alberto e o Magueijo nesta história toda!). Recordarei sempre a frase da mais velhinha delas, já farta de andar por aquelas bandas: "Olhe, quanto à IDL, o melhor é mesmo não pensar nisso!". Sábia frase, digna até do "Homem das Cavernas" que, decénios atrás, ensinava Geografia no "meu Liceu" e que eu silenciosamente evoquei sobre o Pacífico, ao voltar para o meu lugar com o "Old Nr. 7" no copo!"
Bonito, não é? Pois do Dr. Mesquita ficaram-me dois episódios, um meu e outro do Malafaia, o Álvaro creio eu, cada um no seu soleníssimo estiquete frente ao "mapa mudo" (ainda guardarão no acervo do LAH esses terríveis instrumentos de tortura que se chamavam mapas-mudos e que eram de origem francesa? [2]). Ambos são do mesmo estilo. Quanto ao Álvaro, navegava ele em gestos redondos por sobre a Indonésia, percorria Samatra, enquanto o Dr. Mesquita, com aquele seu habitual vozeirão, dizia: "Como se chama essa ilha?". E a malta soprava "Samatra! Samatra!", mas o paciente, posto em cima do estrado, pelos vistos não ouvia bem... e saiu-se com um tímido "Salamanca!". Quanto a mim, coube-me a Austrália. Não sei por que bulas nós tínhamos de saber as províncias da Austrália e as respectivas capitais. Eu estava "em branco mais branco que branco de titânio" e o "Homem das Cavernas", frente ao tal enigma plasmado que era o mapa-mudo, perguntou: "E essa cidade aí, qual é?". Tentei uma evasiva parva e balbuciei: "São todas nomes ingleses... muito difíceis de decorar!" Sucesso pleno mas bola vergonhosamente ao lado, já que aquela cidade de nome "dificílimo" era nem mais nem menos que... Adelaide!
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[1] I.e. tinha saído de Tóquio às 16 da tarde, ia chegar a Settle na madrugada do mesmo dia...
[2] É curioso notar que muitas das alfaias lectivas do LAH eram de origem francesa. Os mapas, mudos ou falantes da "sala de Geografia", eram na sua maior parte franceses... alguns dos instrumentos de física eram franceses... e francesas eram, da casa "Les Fils d'Emile Deyrolle" [mas ainda existem, os gajos! ou pelo menos são falados! vejam na "net" por este nome!], as amostras de minerais e rochas da excelente colecção que o sr. Abrunhosa mantinha nos filinticos domínios - tudo isto podendo DAR UM EXCELENTE MUSEU DE MATERIAL DIDÁCTICO! Mas ainda bem, apesar de tudo, que o "Teacher", com o "English by Radio", veio matizar um pouco tanto galicismo!
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ZM
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