LAH1954

um blog de antigos alunos do Liceu de Alexandre Herculano, do Porto

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

PENSAR ESCREVENDO ESCREVER PENSANDO - 3ª parte



Uma página por Cruz Malpique


(continuação)



O BINÓMIO MESTRE-DISCÍPULO
DUAS SÚPLICAS E UM JURAMENTO 





Dr. Cruz Malpique (1)


Há um famoso juramento de Hipócrates - o grande médico da Antiguidade. Pois sugestionados por esse juramento, aqui vamos deixar aquele que o Mestre deveria fazer, para exemplarmente cumprir.

1 - Terei pelos meus alunos a simpatia que tenho pelos meus próprios filhos. De certo eles o não são do meu sangue, mas são do meu espírito.Tudo farei para os ajudar a crescer em saúde física e espiritual. Responsável me considerarei perante mim e perante eles, se, feito um sério exame de consciência, esta me acusar de desleixos que poderia ter evitado, de concessões minimizadoras a que deveria ter fugido, de palavras que deveria calar, de conselhos que deveria ter dado e não dei, de atitudes que deveria ter tomado e não tomei. 

2 - Tudo farei para que os meus alunos ganhem saber, o mais possível de conta própria. O saber adquirido por esse processo é como a candeia que vai à frente - alumia duas vezes. Procurarei demonstrar-lhes que mais vale um erro original do que uma verdade copiada, porque, se, além, há trabalho produtivo, aqui há estéril preguiça.

3 - Tudo farei para lhes provar que a melhor pedagogia não é a de leite e mel, mas a pedagogia do esforço - um esforço vindo bem de dentro -, provado como está que a cultura não vem espontâneamente a nós, antes temos nós de ir a ela. Lembrar-lhes-ei que é temerário confiar exclusivamente nas qualidades naturais ou na inspiração. pelo contrário: a inspiração só dará a sua justa medida se for sincronizada com a transpiração, o trabalho pertinaz. A propósito lhes citarei o dito do grande inventor que foi Edison: Como alguém lhe afirmasse que ele era um génio, produzindo invenções, tão naturalmente como a pereira dá pêras, ei-lo que respondia, risonho, rebatendo a generosidade com que o mimoseavam: Genius is one per cent inspiration and ninety-nine per cent perspiration: «O génio é um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de transpiração».
De certo não me esquecerei de lhes dizer que a definição de génio dada pelo famoso inventor tem bastante de caricatural: as proporções estão exageradas, para menos, na inspiração, e, para mais, na transpiração. Todavia, terei o cuidado de acrescentar que essa caricatura não passa de um exagero da verdade. O que Edison quis dizer foi isto: sem a inspiração nada começa, mas, só com ela, nada termina: é preciso associar-lhe, em alto grau, a transpiração, o reiterado esforço, a pertinácia que, como a água mole em pedra dura, tanto dá, até que fura...

4 - Demonstrarei aos meus alunos que saber só um conta; aquele que resulta da observação pessoal e directa, da experimentação flagrante, tudo acompanhado do espírito crítico que deslinda o trigo do joio, a farinha das ideias, do farelo das palavras. Mais lhes provarei, como corolário desta doutrina, que «saber de cor não é saber», mas simples palavrório, equivalente a cheques sem cobertura. Tudo farei para que eles não se fiquem no puro psitacismo, que consiste precisamente num saber de papagaio, que diz palavras, sem lhes ligar sentido inteligível.

5 - Procurarei demonstrar aos meus alunos  que cultura e erudição são são uma e a mesma coisa. Cultura é essencialmente, conexão de ideias, jogo de inteligência. Mais ainda: cultura é mundividência, espírito de síntese, visão do todo  articulado às partes, ou das partes ajustadas numa arquitectura lógica. Irei mais longe, e aos meus alunos provarei que cultura é conspecto geral do homem integrado na sociedade e possuído do vivo desejo de promoção nessa mesma sociedade. Erudição - e a prova por mim lhes será feita - é sobretudo saber acumulado, recepção do alheio, , memorização do que os outros criaram, mais (muito mais) do que assimilação inteligente, descoberta e investigação pessoais.
Diligenciarei, pois, para que os meus alunos em vez de cabeças atafulhadas, sejam cabeças bem arrumadas, arejadas, lépidas, sagazes, dotadas de apurado juízo crítico.

6 - Evitarei fazer-lhes crer que a especialização é tudo e que a cultura geral nada vale. se lhes metesse essa ideia nas cabeças, estaria formando espíritos míopes, quando, afinal, está no meu programa, torná-los perspicazes, de vista apurada para os largos horizontes. Eu lhes demonstrarei que a própria especialização tudo tem a lucrar com os alicerces de uma inteligente cultura geral. Se as Musas não fazem mal aos doutores, também a cultura geral - a das ideias bem relacionadas e tocando a todos os sectores do saber, do sentir e do querer - não faz mal aos especialistas. Muito pelo contrário, o profissional, antes de ser o que é na especialização, deve ser homem; a cultura geral tem o mérito de lhe emprestar essa humanidade.

7 - Aos meus alunos provarei, em todo o caso, que cultura geral não será simples amadorismo, coisa de pega e larga, tudo arranhando sem nada aprofundar. O meu propósito será fazer que eles, à força de saberem o tudo de nada, não fiquem hermeticamente fechados para as ideias-mestras que pairam acima dos pormenores, dando-lhes o sentido lógico da articulação ao todo.
Desviá-los-ei da errada ideia de que a educação se deve processar em sistema de compartimentos estanques: Letras para um lado, Ciências para outro. Pelo contrário, eu lhes direi que a educação a receber deve ser integral: fundo e forma. O homem que despreze a beleza literária, a beleza artística, a pulcritude moral, para se entregar exclusivamente à investigação científica, ou, inversamente, aquele que se toma de ares desdenhosos pela cultura científica, fazendo fica-pé apenas nas belas-letra ou nas belas-artes, está-se, automaticamente, minimizando. A vida não é só ciências experimentais, nem só literatura, nem só arte, - é um somatório de todas estas actividades, todas muito humanas, e, segundo o dito terenciano, de nada do que é humano o homem se deve distrair.
O Prof. P. Augier, referindo-se, algures, ao problema da especialização, assim se exprimia: «Diz-se, e muitos acreditam, que o nosso século será a  consagração definitiva do especialista. Parece-me que o contrário é que é verdadeiro, e que « o reinado do especialista já pertence à história».
Não direi aos meus alunos que o especialista já passou à história. O que lhes provarei é que, por amor do pormenor exaustivo, não deveremos - por isso ser contra os interesses do próprio homem - renunciar às perspectivas de conjunto. Eu lhes demonstrarei que quanto mais precoce for a especialização - com prejuízo da cultura geral -, de menos maleabilidade ele disporá, como homem, para se situar no mundo.

8 - Aos meus alunos ensinarei que o ler deverá ser, a cima de tudo, um pretexto para meditação pessoal. Ler por ler, pouco vale, se não se tomarem notas, para, em tempo oportuno, reflectir sobre elas, dialogando com quem saiba dialogar, ou aproveitando-as como maiêutica do próprio espírito, através da escrita, sabido como a caneta é uma óptima parteira da inteligência.
O ficheiro a organizar, mercê das mais variadas leituras, (assim o direi aos meus alunos) será sempre o ponto de partida para o espevitamento do espírito, e jamais um convite à pura citação dos textos alheios, o que, no fim e ao cabo, representa uma atitude de preguiça mental. Aos meus alunos recomendarei que, ainda mesmo quando nada digam ou escrevam de novo, façam, no entanto, diligências para se exprimir de maneira bem pessoal. Sobretudo lhes direi que aproveitem as ideias alheias como trampolim para, eles próprios, darem o seu salto à maior distância e profundidade que lhes for possível. tudo, menos repetir servilmente as ideias doutrem. Citar por citar só poderá deslumbrar outros citadores. Cerzir pensamentos alheios com as linhas do «diz Fulano, e diz muito bem, afirma Cicrano e com toda a razão o afirma», é uma actividade pouco gloriosa. Importa pois, (eu o acentuarei aos meus alunos), partir dos autores lidos para nós próprios. Não nos devemos perder nos outros. pelo contrário: neles nos devemos achar. Bom será que eles catalisem, de maneira positiva, a nossa personalidade.

9 - Aos meus alunos eu direi que trabalhem metodicamente ao longo do ano escolar, para que, na altura de prestarem as suas provas, se limitem a rever aquilo que, a pouco e pouco, foram estudando durante o ano. Eu os aconselharei a que, quanto possível, dialoguem as ideias com os seus camaradas, evitando o estudo solitário, silêncioso, monologado. Eu lhes direi que, será cotejando as suas ideias com as doutros que eles aprenderão a ver até que ponto elas estão certas, ou erradas. A controvérsia bem intencionada representa sempre um factor de progresso intelectual. Com insistência lhes direi: «evitem o narcisismo, que vos inclina, fatalmente, a considerar intangíveis as vossas ideias; antes devereis praticar a auto-ironia, que vos levará ao exame implacável dos aspectos fracos da vossa cultura, ou da vossa «erudição».
Aos meus alunos eu direi que o que importa é assimilar ideias, fazê-las espírito do seu espírito, e não decorar as palavras em que elas são expressas, vindas de outrem, de viva voz, ou por escrito. A expressão dos alunos, quando tenham de comunicar as ideias assimiladas, será sempre pessoal. Estarão tirando bilhete de ida e volta para o manicómio todos aqueles dos estudantes que tenham a presunção de memorizar textos, para os recitar ipsis verbis. Aos meus alunos recomendarei, pois, ora e sempre: assimilai as ideias, e depois procurai dar-lhes expressão pessoal; toda a ideia enunciada com palavras de outrem nos fica curtas nas mangas...; «il faut être soi«.

10 - Tomo o compromisso de não exigir dos meus alunos que se comportem, nas aulas, como se fossem estátuas, ou estampas. Quando lhes parecer oportuno levantar uma objecção, uma dúvida, uma discordância, não tenham receio de o fazer. Juro que os atenderei, não lhes farei má cara, antes os louvarei por quererem fugir à passividade, em favor do diálogo construtivo.
Não levarei à conta de indisciplina a circunstância de os meus alunos não aceitarem incondicionalmente o que eu disser. Se houver motivo para esclarecimentos recíprocos, só terei que me felicitar de ter discípulos que, mais que a Platão, amam a verdade. Não pedirei o falso respeito, mas o à-vontade de espíritos que mais prezam a iluminação das ideias do que o servilismo do sim, a tudo que o mestre lhes diz. A mim próprio prometo não ser um espírito dogmático, mas sempre metódica, à argumentação bem fundamentada. Não me tomarei por infalível, e terei a coragem moral de dizer «não sei, vou estudar o caso», quando realmente não souber. Tudo, menos explicações improvisadas, para salvaguardar aparências de sabichão que nunca é apanhado em branco e em bruto...

11 - Prometo a mim mesmo basear a minha pedagogia na psicologia do educando. Em vez de tomar este como entidade abstracta, antes o considerarei dentro da sua idade, com características específicas, e a ela ajustarei os meus processos de ensino. Terei sempre presente que para ensinar Latim a João, não basta conhecer o Latim, é preciso também conhecer João.

12 - Às aulas onde a ordem  seja a das telhas no telhado, preferirei as aulas onde o clima seja o da liberdade construtiva. Se há versos que são reles prosa às tiras, e prosa que, no fundo, é feita de autêntica substância poética, assim também há aulas muito ordeiras nas quais tudo é morto, isso a par de aulas que parecem anárquicas, mas que, no fundo, representam uma ascensão espiritual. Por estas serei, apesar dos comentários solenes em contrário dos Acácios, contra aquelas, precisamente porque têm aprovação dos Pachecos.

13 - Não tomarei, jamais, atitudes desdenhosas ou irónicas para com os meus alunos, nem porque sabem pouco, nem porque sabem mal. Em muitos casos, a culpa não lhes cabe. Cada um deles poderia dizer «eu sou eu e a minha circunstância». Eles nasceram no signo de certa família, tiveram determinados professores em anos anteriores àqueles que estão frequentando, viveram, não fora da sociedade, mas dentro dela. De todos esses lugares e de todos esses ambientes acusarão o toque. O professor emendará, corrigirá, diligenciará por apagar complexos de inferioridade, tomará a peito transformar o mau em bom, e subir, se possível, o bom a óptimo.
Dirá, pois, o mestre a si próprio: compreenderei para perdoar, e, nesta base, procurarei construir, anulando maus hábitos, criando entusiasmos, ensinando técnicas de trabalho eficiente, suscitando o gosto da problemática, sublimando energias mal orientadas, despertando vocações.

14 - Timbrarei em fazer dos meus alunos personalidades bem vertebradas: fomentarei neles o espírito crítico, contra o espírito de credulidade; cultivarei neles o sentido do fio-de-prumo da dignidade humana. Mostrarei aos meus alunos o que há de moralmente feio nas atitudes servis, estilo  yes - man, amém sempre na ponta da língua. Diligenciarei no sentido de que toda a educação seja libertação, fuga a tutelas minimizantes, criação de um vivo sentido de auto-governo, auto-domínio, auto-confiança, de independência conciliada com a independência dos outros, em atitude de se respeitarem mutuamente.

15 - Terei em muita consideração a cadeira cuja regência me foi confiada. Diligenciarei por estar sempre actualizado. Tudo farei para que o meu magistério valha principalmente pela qualidade. E se for Mestre universitário, de Capelo & Borla, tudo evitarei, pelos caminhos da probidade, para que, à cidade e ao mundo, não se diga que transformei a Borla em... Burla!
Terei, pois, em muita conta, a minha cadeira. Não a promoverei, em todo o caso, a centro do mundo, fazendo vista grossa sobre as outras que aos alunos compete estudar. As várias disciplinas devem harmonizar-se, e não hostilizar-se. Não se dará a uma excesso de tempo, para o roubar a outra que exige tanta atenção como as demais. E entrará nos meus propósitos não fazer compartimentos estanques com as várias matérias leccionadas: todas se devem correlacionar, entre ajudar, para, reciprocamente, melhor se compreenderem. A minha preocupação, através da diversidade, será alcançar a unidade.
Sim. Porei a minha cadeira ao nível da honestidade intelectual: o que ensinar, eu o ensinarei da maneira mais aliciante que me for possível, de tal modo que os meus alunos saiam, das aulas, cativados para aprenderem sempre mais e cada vez melhor.
Mas, para além da cadeira que ensino, primarei, sobretudo, em olhar a juventude com olhos muito humanos. Não tratarei os meus alunos como se na aula eles fossem coisa secundária, e só a cadeira que ensino devesse contar. Sou professor de Matemática, ou de Ciências físico-químicas, ou de Filosofia, ou seja do que for. Mas, acima de tudo, considerar-me-ei como professor de jovens que virão a ser homens feitos. Todo o professor deve ser, cumulativamente, ao leccionar a sua disciplina, um professor também de ciências humanas. Não diga ele: «Isto, aqui, é Química, e o mais é paisagem! Isto, aqui é Geometria, e o que está para lá destes perímetros não conta!» Se o disser, é caso para lhe replicarmos: «Perdoai-lhe, Senhor, porque não sabe o que diz!».
O professor - e esse compromisso eu tomo, essa jura eu faço - deve ser, sobretudo, homem que bem conheça a juventude, para nela despertar a curiosidade pela problemática debatida, o entusiasmo pelo saber. São aqui oportuníssimas as palavras do Engenheiro francês Luís Armand, antigo presidente da Societé Nationale des Chemins de Fer e da Eurotome, proferidas no Colóquio de Caen, não há muitos anos.
«Ponhamos francamente a questão: será verdade que os nossos adolescentes, depois de um certo período de toupeira, para alguns excessivo, após alguns exames difíceis na Faculdade, sairão mais ou menos curiosos do que aí encontraram? Que responsabilidade - se a resposta for que saíram menos curiosos! Tanto mais que lhes deram instrumentos mais que bastantes para que a sua curiosidade fosse multiplicada, tal como é ampliada a imagem de um objecto dado pelo microscópio.
O que se lhes deve ensinar é o sentido e valor da curiosidade que o mundo de hoje exige dos jovens.
Isto provocará a aceleração natural do ensino e da investigação e dará um entusiasmo e uma animação a essa juventude científica destinada a ocupar no mundo moderno um lugar digno do país».
O professor a si próprio jurará que todos os esforços irá fazer no sentido de alertar curiosidades e esquecer entusiasmos. A si próprio prometerá saber o que ensina e a quem ensina.
O problema humano não poderá o mestre dissociá-lo do problema pedagógico da matéria que ensina.

16 - Ensinarei os meus alunos a estudar. Na aprendizagem, eles entram virgens de técnicas de estudo. Mal andarei, pois, se não puser a minha experiência ao serviço do seu progresso. Cada disciplina tem a sua aprendizagem específica. Pois que professor seria eu senão comunicasse aos meus alunos a técnica de um estude eficiente na minha cadeira?
A inteligência vale muito. Mas minguada ficará nos seus resultados, se não trabalhar metodicamente. O método, de certo, não cria a inteligência, que é um dom natural, mas multiplica-lhe as virtualidades. Valendo ela cem, fará que ela passe a valer mil, ou até um milhão.
Não deixarei, portanto, que os meus alunos estudem ao acaso. Prometo, pois, - e do prometer passarei ao cumprir - ensinar-lhes a arte de estudar com real eficiência.

17 - Farei ponto de honra em ajudar a formar o carácter dos meus alunos, persuadido como estou de que o carácter é fundamental na vida do homem. A instrução enriquece a inteligência. É bom. A educação enriquece e fortalece a vontade, o que, porventura, ainda é melhor. E é na base da vontade que se alicerça o carácter. O homem de carácter, e, portanto, de vontade bem vertebrada, é o homem capaz de se governar a si próprio. Não precisa da tutela dos outros. É o homem da disciplina interna, não precisa que o disciplinem de fora. Não pretende ser capitão de ninguém: é capitão de si mesmo. Só admite a ditadura praticada por ele próprio, em relação a si mesmo.


*

E, agora, que já estava a tardar..., a


SÚPLICA (QUASE ENFÁTICA) DO DISCÍPULO (JÁ ESPIGADOTE), DIRIGIDA ÀS MUSAS DA PEDAGOGIA

(Continua)



(1) Apesar de busca investigativa, não se conseguiu identificar o Pintor, (pela amostra, retratista de excelência), o local onde se expõe ou se guarda esta obra, o fotografo do quadro, e o media de onde e por quem passou ao Google crome de onde o extraímos. Pena... . Repare-se, todavia, nele se ler no canto inferior esquerdo a inscrição Portal de Niza.


O copista,
Rui Abrunhosa

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