LAH1954

um blog de antigos alunos do Liceu de Alexandre Herculano, do Porto

domingo, 25 de abril de 2010

DE VARA E BOQUILHA... HEEENIMMM!!!...

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DR. ANTÓNIO COBEIRA

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O "miúdo que pregava pregos numa tábua" evoca-o nas páginas 26 e 27 do seu último trabalho, como já, um nadinha ali para traz, o José Miguel realçou.
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Nunca fui seu aluno, mas num dos três primeiros anos ,não lembro qual, e pouco depois de terem sido inventadas as "aulas de substituição, o Dr Cobeira entrou sibilino pela sala dentro, alto, magro, primorosamente vestido de fato azul escuro e com elegantíssima boquilha na boca, fumegando classe e um cigarro, acabado de acender, com o fumo a atropelar o olho claro e vivo, semi cerrado, em desesperada tentativa de defesa contra a poluição conjuntival. Era o que, com propriedade, se poderia considerar o rasteirar de um «feriadegues», mesmo à entrada da grande área!...
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Entrou, sentou na secretária, junto à janela, declarou ao que vinha, mandou-nos puxar por não sei que "livro único", copiar não sei que página horrendiforme, e pronto!. (agora é com "u" e subiu à categoria de plural, para parecermos muitos). BOM...! Mas há sempre a hipotesezinha da vingançazinha do chinezinho, a "sorririr-se ", pelo intervalinho dos incisivos, com movimentos rapidinhos , dos ombros, "en sacade"( já que o titular da surpresa era professor de Francês) como os que produz um prostático quando "julga" que já acabou de urinar... Eu tenho uma panca, vem-me desde que tenho lembranças, é a da Observação e Estudo do Homem, a todos os níveis da sua Globalidade, na sua condição de infinita dignidade só porque Homem. E então a minha vingançasinha consistiu em borrifar-me para a cópia da sebenta única e, relaxadamente, de perna bem esticada para dentro da cochia, observar calma e metódicamente aquele predador do meu "feriadegues". Homem alto cabelo wisky elegantemente ondulado, bem cortado e melhor penteado, fatinho de trespasse, azul marinho, como se dizia na época, lencinho branco no bolsinho do peito, festo da calça bem marcado e melhor protegido, com puchadas na calça, sapatinho brilhantee de bom toque, meinha branca, 4 dedos à vista . E uma boquilha! . Era clara, 3 dedos de comprida, levemente brilhante, amarelada, acaramelada , com laivos de branco sujo. Seria de osso? plásticos não havia, porque não da carapaça de uma tartaruga com vitíligo? linda! barrigava um tantinho quanto mais se preparava para terminar à frentee . Lá num sítio muito bem lembrado tinha um anel de ouro. Se foi a Senhora sua Esposa que lha deu, no dia de anos, podia bem ser de ouro. E se foi a Mulher que lha deu... não seria de âmbar?!... Se foi ele que a comprou o mais certo era nesmo ser de latão, quando muito de " plaqué " . O cigarro era longo, elegante, branquíssimo. Não tinha nada a ver com as priscas do Dr Filinto, com salitre quase até a um centímetro para cá do do lábio roxo cinza do muito oxido de carbono circulante. Era um cigarro ele próprio cheio de arte no modo como desenhava o fumo no espaço. e cheirava muito bem. Aroma doce, porém cortante.Progressivo.Sedutor.

De repente a ponta do cigarro ficava longamente de tom vermelho vulcânico, o que coincidia com um encovamento prolongado, de lascívia, das suas regiões bocinadoras, desprovidíssimas de bola gordurosa de Bichat, (para não ajavardar com " bochecas escanzeladas") . Aspirava então longa, longamente,"litros cubicos" de fumegante nicotína fumada... que caixa!...teria sido..., ainda era? nadador?... AH!!! e agora o "grand finale"!... não deitava o fumo fora!... deglutia uma e outra e outa vez, deglutia sempre... por fim abria a boca rectilínea, só duas ou três micras de altura, imperceptívelmente, como o Galileu, e respirava tranquilamente realizado! O Fumo tinha desaparecido!!! Por onde? perguntava preplexo o menino que tinha fugido da cópia?!
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Mais tarde, o menino desertor da cópia veio a saber que havia macrofagos que comiam o fumo do tabaco e em troca largavam elastases que partiam os elásticos do pulmão e provocavam enfisema que mata os fumadores.. Também veio a saber que há vários modos outros de matar que o fumo da linda boquilha usa para matar, e que há gente que usa isso para ganhar rios de dinheiro e aida por cima não paga impostos. Quem paga impostos sim e muito altos, são que compram estes instrumentos de holocáusticas matanças. Estado Chulo! Estado Assassino!

«HEEENIMMM !!!» ... bradaria o Dr Cobeira

«Heenimmm!», contava-me meu Irmão, seu aluno por vários anos, era o brado que o Dr Cobeira largagava, em certos casos cirúrgicos (de cirurgia fina) quando ouvia de um qualquer aluno, ou grossa calinada , espessa, atoucinhada no pescoço, ou, muito pelo contrário, algo assim como com qualidade para lhe alfinetar a curiosidade. No primeiro cenário, podia haver varada. Eu não acredito que o Dr Cobeira intencionasse varejar para, fazendo doer, punir. Era um uso meigo, meio gracioso, meio num certo gozo paternal. O que o Poeta Manuel Alegre partilha sobre a capacidade do Dr. Cobeira para trazer um "puto" para o meio dos poetas, dos pensadores, e fazer -lhe ter o gosto de pensar livre, ainda que com o risco de aqui e ali ter que vir a levar uma varada da Vida demonstra à sacieda a qualidade de Educador que o Dr Cobeira tinha. Está chapada num verso que por aquela época o Prof. Hernâni Monteiro escreveu e, talvez ,tenha recitado à sua grande amiga, a quem tanto admirava Guilhermina Sugia:

«EDUCAR É TIRAR, CÁ DO PEITO, O CORAÇÃO PARA O DAR»

Rui Abrunhosa
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