LAH1954

um blog de antigos alunos do Liceu de Alexandre Herculano, do Porto

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

DA CARIDADE






UMA CHÁVENA DE CAFÉ QUASE AMARGO

SERVIDA     POR



CRUZ MALPIQUE








Espessíssima é a ossatura cerebral dos que, do alto da sua baixíssima intelectualidade, em ejaculações de arrogância, com viscosa soberba, tudo a boiar na escatologia da ignorância, se metem a ter concepções próprias sobre o que é caridade. E, pior, se metem a impingi-las "à pôva". Comportam-se como se seus concidadãos sejam, para eles, a "pôva". Donos das "bábulas" das máquinas de dizer e de mandar dizer, fecham ou mandam fechar os canos por onde passa luz, da de quem a tem.

Proclamam, com trejeitos para rebaixar e repugnadamente rejeitar, que caridade é, lá de cima, botar com dedos fugidíos, numa região palmar, com dedos enclavinhados, uma moedita de dez, quiça de 5 reles céntimos, sem sequer olharem para aqueles olhos, dependurados na febrícula da doença com que tossem um escarrozito mais parecendo  requeijão, babado de sangue vermelho negro, ou dependurados no vício, ou dependurados nas dependências, ou dependurados no frio,  ou dependurados na fome. Olhos brancos, por fora, tristes, por dentro. Ou, por outro exemplo, "botar esmolas" na caixa das ditas para (pensam lá no mais íntimo fermentado  de um seu divertículo intestinal de estimação) engordar os "gatos pretos" da "Seita Negra"...

Fugidíos dedos, cheirando a Channel 5, elas,  a Rabani, eles, ou a divertículo intestinal fermentado, ambos..

Arregaçam a cara ante cheiros a bicho, a esterco. Insultam, quase sempre para dentro e, muitas vezes para fora: vai trabalhar filho (ou filha ...) da puta ... já não sentem,não notam, que chanelsisses e rabanisses vêm de salários por pagar, de vestidinhos a banho de ouro, das filhinhas noivinhas que ficam para todo o sempre por pagar, de limusines chuladas a alguém, de calotes que todos nós pagamos, de esgruviadas fugas. De quem?!… dos impostos (contas ontem contadas pelo Ministério das Finanças, em telejornais, em 2017 foram três mil e várias centenas de milhões), dos descontos para a solidariedade na segurança social, das mensalidades atrasadamente por cumprir na forca do consumismo. Fogem de  deveres e obrigações. Só querem esmifrar direitos e até os que não têm. Comem de borla nas cantinas escolares com cartões que garantem ser pobresinhos, mas onde se apresentam a conduzir "jipes" de altissimo preço. Trocam de residencia fiscal para reconstruir pardieiros a cair de velhos, com papeis falseados por uma pequenina corrupção, e assim receberem das "massas" que a solidariedade nacional ofereceu às  vítimas dos incendios... 

Porque desviaram os olhos para não ver?: para não serem agredidos pelo que iam ver. «Que massada!!!…logo  agora que o chulé dos merdelim da santola  e do refinado queijo Roquefort me estavam a saber tão bem….»
Não notam, não querem notar, recusam-se a notar, o rostosinho gelado e esfomeado, do Abandonadosinho, literariamente tão bem descrito pela esculturasinha  de Soares dos Reis, ainda escorrendo o silencioso génio do Escultor.
Não notam, não querem notar, recusam-se a notar, o sofrimento inenarrável dos desterrados pelas forças da miséria, pelas forças que os rejeitaram, os escorraçam, deitando-lhes génio, investimentos e capacidades para o balde do lixo, desterrando-os, não já, felizmente, por pensarem diferente, mas por pensarem Novo. Leiam só o  parágrafo seguinte do Soares dos Reis : O Desterrado... .
Não notam, não querem notar, recusam-se a notar, os baixíssimos salários que pagam a quem lhes gera a riqueza, ou, melhor, a quem gera a riqueza do país e se vê defraudado pela evaporação de tal riqueza, levada, depois,  pelos malignos ventos dos torvelinhos de ilusionistas de meia  tigela ( porém gigantesca).
Não - a si - se notam, não se querem notar, recusam-se a notar-se , nas baixíssimas rentabilidades com que, esticando a "passa", todo o dia, permanentemente ausentados para mijar, passam a semana de trabalho laboriosamente cansados de beberricar  "penalti" atrás de "penalti",  comentando e discutindo o penalti de ontem, o jogo de amanhã, a fruta, a saraivada de mails sobre árbitros e não só, sobre as mamas e a coxa mais ou menos disponíveis de não sei quem e não sei de  onde. Cansadissimos de receberem solidariedades atrás de solidariedades, à custa do erário público...
Não notam , não querem notar, recusam-se a notar que em seu redor cheira mal. Cheira a esturro.Nos cozinhados da vida deixaram esturricar : as contas no spa, o computador, o utente, o cliente, o doente, o médico, o gerente, o director, o subalterno, o aluno, o professor, os passageiros, os tripulantes de cabine e os outros, a assistência técnica ao avião ao automóvel ao cavalo da Guarda, o pai o filho, o paroquiano, o paroco, o eleitor, a laboração na Assembleia da Republica, no Governo, no complexíssimo mundo da Justiça … e da injustiça, no partido, no clube,nas relações internacionais, deixaram esturricar o cumprimento das regras,  obrigações e deveres na condução de veículos na via pública, o cumprimento das leis que impendem sobre o peão, o cumprir do disciplinado dever de ser cidadão, de se respeitar a si próprio, e a todos, o dever de se não lucupetar com o que não é seu, nos bancos nas seguradoras, em tudo e em toda a parte, e, o que é dizer o mesmo, não viver da cunha do partido das organizações que ninguém sabe o que são, do clube, do copianço, do plagio, do roubo ao planeta e a tudo e todos no e do planeta, não emporcalhar o planeta, nem deitar bisgas pró ar ou pró chão ou na cara dos outros. Deixaram esturricar e empestar ambientes com o orgulho, a arrogância, a soberba, a luxúria, o espírito da apropriação do bezerro de ouro, só usam nacositos de encéfalos  de animais atafulhados sobre a gamela de refocilar, mordendo os do lado para não lhes  permitir partilha. Vivem  na e da xico-espertice, no e do conluiu, na e da filhice da putice,….pois pois, tudo aberrancias do homem sem capacidade de Caridade! Uma qualquer falta no âmbito do antes "apenasmente" exemplificado é sempre, mas sempre, produto puro da falta de Caridade. Ofende, porque é um vazio de Caridade.

Ufff….eu sei lá!  Juro que só bebo água.

São precisos gigas e gigas de bites para meter tudo lá dentro. Oculto no "tudo" está o bicho homem.

E então a síntese?

Como meter tudo isto e o infinito tudo na singeleza de três ou quatro palavras?!... singeleza é singeleza . Cinco palavras: ausência de caridade nos comportamentos.

CARIDADE.

No amago do alto Homem habita a Caridade. A capacidade de pelo Amor, Amar.

E aqui chegados vem o Dr. Malpique e diz, servindo-nos uma chaveninha de
 café quase amargo  (sic e de ponta a ponta) (1):

«CARIDADE - É o mel do perdão para as ofensas que nos fazem;
é a desculpa para defeitos que estão na estrutura do nosso próximo;
é a linguagem cortês, na apreciação do nosso semelhante;
é a fleuma bem educada, perante os que espumam cólera;
é a humildade, na grandeza;
é a cortesia, mesmo na ausência da pessoa a quem apreciamos;
é a esmola não simplesmente do supérfluo (o que não seria maravilha), mas até do que nos é necessário;
é o amor da humanidade, praticado na nossa própria rua;
é o esmagamento dos nossos alvoroços de gozo, por sabermos que o mundo regurgita de miséria.
O que aí fica é apenas uma face da caridade. Outra face existe. E caracteriza-se pela pugna sem tréguas , pugna em que não vai ódio, toda feita de amor, mas de amor activo, amor que não cala injustiças, porque cala-las seria consenti-las ».

Tudo bem pesadinho, na balancinha de ourives, acho que vou ter que me restruturar. Vou ter de restruturar as minhas vivências de caridade.
Peço perdão se  esturriquei alguém ou alguma coisa .
Estamos no tempo de restruturar tudo. Comecemos por nos restruturar a nós próprios. E pedir Perdão.

Rui Abrunhosa

(1) - esta chaveninha está no livro CHÁVENAS DE CAFÉ QUASE AMARGO  -  1ª série - Editora Educação Nacional.
Porto 1957. Pag.30, duas últimas linhas e pag. 31, primeiras  14 linhas.
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1 Comentários:

Blogger António Moreira disse...

Caro Abrunhosa
Deixei passar estes dias para teres tempo de enxugar o suor originado pelo trabalhão que tiveste a coligir todas as qualidades de alguns e que qualquer dia passam a constar do actual catecismo das «virtudes».
Só me resta dizer que tenho pena que o Eça de Queirós já não possa ler este teu escrito.
Abraço do teu fiel leitor
Moreira

13 de agosto de 2018 às 10:16:00 GMT  

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