Cumpriu-se o Prof. Doutor Óscar Lopes
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Creio que o Prof. Carlos Ribeiro no seu depoimento, no "Público electronico" de 22 de Março último, diz com felicidade e facilidade o essencial sobre a personalidade de Óscar Lopes. Cito: ( 4 ) «Conheci sempre no Prof. Óscar Lopes uma personalidade tolerante e dialogante, aberta a outras ideias e formas de pensar diferentes das suas, interessado e profundo conhecedor da música ( o que bem se vê em «Uma arte de música e outros ensaios» de 1986), das artes plásticas, da filosofia do pensamento religioso. Posso dizer, sem exagero, que Óscar Lopes era detentor de uma cultura literária absolutamente impressionante, que sempre levava às intervenções que fazia, em conferências, em congressos e em colóquios, sem exibicionismo, mas com um vigor participativo e com uma abertura ao debate invulgares» .
«A História do homem na Terra pode dizer-se que principia com um diálogo entre a mão e o cérebro.»
3 - JN. Acrónimo de «Jornal de Notícias» muito comummente usado no linguajar dos portuenses, tripeiros e portistas. Tal como no Mistério da Santíssima Trindade - ressalvada a irreverência - Três Pessoas Distintas mas Uma Só Verdadeira... O trabalho de investigação jornalística de Rios -interessantíssimo - de que disponho, é um recorte, emprestado, igualmente pelo Januário, com o texto e as fotografias que o ilustram e muito o enriquecem. O artigo está publicado no Jornal de Notícias de Domingo, 26 de Março de 2000, pág. 4 - Secção Grade Porto.
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PROF. DOUTOR ÓSCAR LOPES
uma morte anunciada há 95 anos
Um metro e sessenta e dois centímetros de altura. Compleição geral sobre o magro, de corpo. Só de corpo.
Grande, de Espírito. Boa figura, nela sobressaía cabeleira muito bem cortada e cuidada, "à Gary Grant",
Grande, de Espírito. Boa figura, nela sobressaía cabeleira muito bem cortada e cuidada, "à Gary Grant",
escondendo cabeça muito cheia, de conhecimento, de conceitos de pensamento, com risca específica, mas também, qual lego, nada - mas nadíssima - compativel com o lego então vigente. Usava fatos muitíssimo bem talhados que escondiam pensamentos destalhados ou para destalhar, tendo em conta as trilhas de vida que já então percorria e que o levaram, duas vezes, às masmorras da P.I.D.E. Se o que li corresponde a informação genuína, seria, desde 1942, militante do Partido Comunista Português, muitíssimo antes, portanto, do secretariado deste partido pelo Dr. Álvaro Cunhal, porém em tempo de plena e exuberante afirmação de personalidade de José Staline.
Fig 1: Prof. Doutor Óscar Luso de Freitas Lopes (1)
Interrogo-me com frequência sobre porquê não consigo recordar nada do que foi esta minha convivência de um ano lectivo - 1947 . 1948 - com o Dr. Óscar Lopes, salvo no relativo a detalhes não estruturados nem estruturantes...era o tal cabelinho muito bem cuidado , a sensação de que devia fazer ginástica todos os dias, não para fazer músculo, mas para fazer o dia bem...e ajudar a levar a pasta ... era de couro, cheiroso, de fechos de língua estaladiça, finamente dourados. Imensa, com divisórias lá dentro, cheias. Tamanhona... havia de um lado um Óscar Lopes, rápido de passo, de braço esquerdo dependurando a pesada pasta, mas hirto, ombros bem nivelados, um pelo outro, sem ceder um milimetro na erecção da postura da sua coluna vertebral. Postura rectilínea. Mas muito pouco comunicadora. Do outro lado ia "a Pasta", se estou certo, sempre do lado esquerdo. Ia jurar que nunca me dirigiu a palavra!... salvo, se não estou a inventar, uma vez, quando me terá perguntado em tom de quem está a pensar em outra cousa, se eu tinha trazido a gramática...livrinho pavoroso de que eu não entendia uma linha e sobre o qual, nunca cheguei a perceber para que servia. Deu-me 10, 9, 10, ou seja, 29 a dividir por 3 igual a 9,5 - chega! - numa de coitadito do rapazito... o gajito não tem culpa "desta merda deste português" ter que ser dada "neste assim"... e, ainda por cima, por mim!...
E aqui é que se espulinha "in diebus illis", ou, mais rasteiramente, o "busilis"!.... Um intelectual talhadissimo para leccionar jovens quase adultos, posto a "ensinar catraiada"... Dizia-me minha Mãe, em muitas circunstâncias de conversa informal, intra-familiar: « não julgues!... podes vir a ser julgado!... "Tábém" Mãe! mas desta vez não resisto!... o que era preciso era, rumino cá com os meus botões; "desafastar" jovens quase adultos dos malefícios infecto-contagiosos de um "perigosíssimo" marxista....
"Donc"... :
...Talis pagatio, talis cantatio...".
Nas aulas lia muito e escrevia frequentemente , enquanto nós, quais mini monges de um convento tibetano, e de língua trincada, de fora dos lábios, fazia-mos cópias horrorosas, as quais nos convidavam a odiar o "português". Quase não falava..."Pois!: objectivo cumprido "!. E, para isto, as "ordes binhão-se de lesbôa"... sei-o hoje que já sou crescidinho....
"Entrementes" é transferido para o Liceu D. Manuel II, hoje com o recuperado, corrigido, nome de Rodrigues de Freitas. Esta casa, à época, sob esquipática reitoria, encarregava-se dos indispensaveis prolegómenos para quem queria seguir "letras"ou "economia".
E aqui sim!!! podia trabalhar com desenvoltura. Não já tanto no que tinha de ensinar, mas, sobretudo, no âmbito do que era a sua vocação: educar rapaziada. De 16,17,18 anos de idade. Educá-los num "aprender a aprender", num descobrir em si próprios o espírito do sentido, do sentimento crítico . Educa-los no reparar, no perceber o como se descobre. A deparar-se e confrontar-se com alternativas. A depurar alternativas Capacitar para se escolher livremente. E para o exercício da cidadania. Cidadania é além de mais, de muitissimo mais, escolher livremente. Obviamente que agora e logo punha nos seus alunos os "óqlinhos" do seu impregnado, empapado, marxismo. É porém minha convicção, observando-lhe comportamentos de vida ao longo da Vida, de que marxista sim, leninista não ( leia o «O Tchequista» de Vladimir Zazúbrin ( 5 ) quem ainda não teve tempo, ou oportunidade, para o fazer, para logo perceber o porquê desta minha convicção). Muito menos stalinista. Isso Nunca...dos Nuncas!...Ou, dito de outro modo, era Homem de fina sensibilidade, bom, ainda que aparentemente e só aparentemente, distante, seco, não só de carnes mas na exposição, na transmissão, de interioridades ( e já se vai demonstrar porque o digo) aspirando o ideal de vida da dignidade de todo o Homem, da Dignidade para todos os Homens. Defendia que do corpo de cada um, cada um pode e deve retirar, sem constrangimento, o prazer que lhe aprouver.
A propósito de "sensibilidade" e de " cultura" se diga, o que vai seguir-se, apoiado em trabalho de Alice Rios , publicado há não muitos anos, no JN ( 3 ).
A Avó materna de Óscar Lopes, nada e criada em Alcácer do Sal, com passagem por Setúbal, cantava e tocava piano em saraus de Lisboa. A Tia mais velha convivia com a elite musical de Lisboa, tocava violino e leccionou a disciplina de violino na Academia de Amadores de Música de Lisboa. Esta Tia, em jargão "futeboleiro" actual , "sentava-se muitas vezes no banco" sempre pronta a substituir, quando necessário, regentes de orquestra. Sua Mãe era violoncelista e, enquanto componente de um trio, tocava em clubes musicais da época. Nesta ambiência conheceu seu futuro Marido, precisamente o Pai de Óscar Lopes. O Avô paterno - o Senhor José - era pessoa de origens simples e nascido numa humilde casa da rua do Bonjardim no Porto, Muito jovem se tornou muito popular porque actuava em espectáculos, como saxofonista. Tinha mandado vir o seu saxofone de Itália já que este instrumento era, à data, praticamente desconhecido em Portugal. Foi muito grande o brado da novidade. Formou uma mini banda. Com ela participava em espectáculos e abrilhantava as touradas realizadas nos espaços da hoje Rotunda da Boavista ou, mais rigorosamente, da Praça de Mouzinho de Albuquerque, centrada pelo monumento que celebra as vitórias anglo-lusas sobre as forças de Napoleão.
O Senhor José era conhecido no Porto pelo nome de «Zé da Gaita». A alcunha surgiu numa tourada, ali na Boavista, quando um lance mais belo, não sei se do touro se do toureiro, merecedor de sublinhado musical, é, por distracção da banda, deixado fechar com a banda em silêncio. É então que se ouve, em toda a praça, um berro tsunâmico: O Zé da Gaita não toca ?!!!...
.E "prontos": acabou o Senhor José Lopes e viveu, até se lhe acabar o fôlego, o «Zé da Gaita». O Zé da Gaita também formou e regeu a Banda dos Bombeiros Voluntários do Porto, a qual correu seca e meca por todo o território que uns tempitos a traz tinha sido o reino suevo. Lá como é que se transportavam é que eu não sei! devia ser umaganda borga!...
Este Avô educou musicalmente três Filhos: um dos Tios de Óscar Lopes era organista e foi maestro do Teatro Sá da Bandeira como ainda de várias bandas. Outro destes Tios foi violoncelista e o terceiro violinista. O Pai de Óscar Lopes foi compositor e professor no Conservatório de Musica de Lisboa. Dominava o violino.
Pai e Mãe tocavam juntos em saraus. Logo que casados deixaram a ambiência musical lisboeta e vieram fixar-se em Leça da Palmeira, onde davam lições de música e formaram um trio para actuar em saraus. Seu Pai correu o País de lés a lés para fazer uma importantissima acervação do nosso património musical popular e de folclor o qual estaria hoje já perdido, para sempre, após a desertificação da interioridade do País durante as últimas décadas.
Óscar Lopes tinha quatro irmãos. Todos, como ele, fizeram a instrução primária no Colégio da Cacildinha, em Leça da Palmeira.
Cada qual seguiu seu rumo: um na carreira militar da Arma de Infantaria. Quando já na reserva dedicou-se às letras e à etnografia. Outro enveredou até atingir altos cargos, pela carreira da direcção e administração de grandes companhias de seguros, o caçula foi despachante e industrial. A sua única irmã, frequentou o Conservatório de Música do Porto, foi monitora de educação física. Mais tarde licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas. Era Maria Mécia. Casada com Jorge de Sena. Tiveram 7 Filhos.
Óscar Lopes cursou o Conservatório de Música do Porto.
Depois da elencagem destes factos circunstancias e genéticas, demonstrativos de que Óscar Lopes sempre viveu e conviveu num privilegiado môlho de sensibilidade e cultura que muitissimo deve ter contribuido para a moldagem da sua personalidade... personalidade?...!...
E é qual a sua personalidade?
Quem sou eu para responder a esta pergunta ?
Nunca falei pessoalmente com Óscar Lopes, minha vida correu sempre muito longe da de Óscar Lopes. Nunca o vi ou ouvi falar em público, apenas li alguns dos seus textos, nomeadamente os da sua polémica com José Augusto Seabra, há muitos anos, no caderno de cultura do "O Comércio do Porto". Em fim! quem sou eu para vir para aqui falar, no caso escrever, sobre a Pessoa da Cultura, o Docente o Ensaista o Crítico literário, o maior Historiador da literatura portuguesa, o Linguista, o Homem de Ideal e de ideologia, o Político...o Interventor Cívico (Fig 2).
Fig. 2: Óscar Lopes interventor cívico. Recriação e recreação, pelo escriba de serviço, de imagem da «Foto Global Imagens / Arquivo» recolhida de www.jn.pt
E termina o Prof Carlos Reis o seu depoimento, encastoando nas suas três últimas linhas as quatro seguintes afirmações: «grande sensibilidade crítica»... «grande argúcia interpretativa»,,, «enorme dedicação à literatura e à cultura portuguesas».
Face a uma tão feliz, porque muito simples, síntese, deparei-me súbitamente com a hipótese de oferecer um texto de Óscar Lopes que de tudo isto fosse demonstração.
Batendo a palma da mão na testa, "intraexclamo-me": Fácil !... Estico o braço para a "linha lateral do relvado" e puxo o opúsculo que, há quase um ano, por iniciativa, gentileza e amizade do nosso Januário, boa e simples - porque desinteressada, sem terceiras intenções, - ele me "emprestadou". Trata~se do ensaio As mãos e o espírito ( 8 ) cuja capa se mostra na Fig. 3.
É obviamente impossível transcrevê-lo, aqui, na integra. Ocorreu-me, por isso, experimentar condensa-lo à maneira das "Selecções dos Readers Digest". Seleccionei os nacos que se ajustam, em meu sentir, às definições ali a traz enunciadas pelo Prof. Carlos Reis. Leiam-na por aí abaixo. Obrigado Januário, mais uma vez.
Face a uma tão feliz, porque muito simples, síntese, deparei-me súbitamente com a hipótese de oferecer um texto de Óscar Lopes que de tudo isto fosse demonstração.
Batendo a palma da mão na testa, "intraexclamo-me": Fácil !... Estico o braço para a "linha lateral do relvado" e puxo o opúsculo que, há quase um ano, por iniciativa, gentileza e amizade do nosso Januário, boa e simples - porque desinteressada, sem terceiras intenções, - ele me "emprestadou". Trata~se do ensaio As mãos e o espírito ( 8 ) cuja capa se mostra na Fig. 3.
É obviamente impossível transcrevê-lo, aqui, na integra. Ocorreu-me, por isso, experimentar condensa-lo à maneira das "Selecções dos Readers Digest". Seleccionei os nacos que se ajustam, em meu sentir, às definições ali a traz enunciadas pelo Prof. Carlos Reis. Leiam-na por aí abaixo. Obrigado Januário, mais uma vez.
«A História do homem na Terra pode dizer-se que principia com um diálogo entre a mão e o cérebro.»
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«A mão é já um esboço de todos os instrumentos imagináveis: o punho cerrado faz de martelo, as unhas são como brocas ou puas, ganchos ou pregos, ou garfos, etc.; a palma da mão é o esboço de uma colher, de uma concha, de uma pá, de um copo, de um balde, etc.; entre os dedos dobrados pode correr uma corda como numa roldana; os dedos e o pulso (2) podem ser accionados rotativamente a fazer de bobina, etc. Se continuássemos a examinar, encontraríamos ainda na mão funções comparáveis às de chaves, rolhas, torneiras, amortecedores de choque, molas, etc. Estas funções complicadas, que fazem da mão o primeiro e o mais importante de todos os instrumentos, e até o instrumento humano por excelência, exigiriam a criação de sistemas especiais de controle em regiões determinadas do cérebro».
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«Como se vê, a mão e o cérebro, a acção e o pensamento, a prática e a teoria estão indissoluvelmente ligados desde que o homem é homem. Mas a mão não se limita a executar ordens; é também órgão fundamental de investigações.
Ora vejamos.
O espírito humano está continuamente a responder a perguntas que recebe do mundo exterior através de complicado sistema telegráfico montado no seu corpo a que chamamos os sentidos, os cinco sentidos, como geralmente se diz, os onze sentidos como se estuda nos manuais de Psicologia, ou, mais rigorosamente ainda a inumerável quantidade de sentidos constituidos por inúmeras terminações nervosas diferentes que transmitem impressões de frio, calor, peso, distância, as cores e intensidades da luz, as múltiplas qualidades dos sons, dos sabores, dos contactos, das pressões, etc., etc.
Algumas destas mensagens telegráficas recebidas pelos sentidos vêm de emissores relativamente longínquos como as que são transmitidas através da vista, do ouvido ou do olfacto; outras vêm do interior do corpo, como as do enjoo, do sono; outras necessitam um contracto da pele - e lá estão as mãos, os dedos, como um aparelho de sondagem rigorosa projectando-se a meio metro de distância do corpo em qualquer direcção, adaptando-se a qualquer superfície ou volume. Os dedos são os olhos de ver ao perto, e tão úteis como os olhos propriamente ditos de ver ao longe, que nos é impossível compreender uma cena distante sem adivinharmos se se trata de coisas lisas ou rugosas, delgadas ou espessas, frias ou quentes; ao passo que um cego, e até um cego e surdo de nascença pode compreender o mundo através principalmente das mãos.
Mas onde pretendo chegar com isto?»
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(Oscar Lopes convida aqui o leitor a minimalizar o corpo humano, reduzindo-o apenas a duas coisas: mão e sistema nervoso central - e prossegue).
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«Há entre os dois um diálogo permanente. Tudo o que a mão diz ao cérebro é, ao mesmo tempo, pergunta e resposta. E o cérebro também nunca responde definitivamente: em cada resposta que dá vai sempre também uma pergunta, para que a mão indague melhor».
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«Ora a civilização humana modifica-se, às vezes radicalmente, em cada geração. Dizer que o homem é um animal racional significa mesmo que é um animal que tem história, um animal que se faz e refaz a si próprio».
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«Ao longo da sua trajectória de uns quatrocentos ou trezentos mil anos, vemos que de vez em quando, a mão do homem, quero dizer, a utensilagem de que se serve cresce desmesuradamente, e atinge-se uma fase em que já não pode crescer mais, sem que se faça uma grande transformação, também, no seu cérebro ou espírito».
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«e o homem renasce diferente e em certos aspectos melhor».
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«pensemos na inmportância dicisiva do fogo e dos primeiros instrumentos como o machado, a lâmina, o arco, a corda, com os respectivos nós e a serra».
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«O fogo, só por si permitiu às mãos humanas dominar todo um conjunto de fenómenos químicos e físicos como combustões, fusões, dilatações, etc. O homem principia mesmo a ser homem com a invenção ( 6 ) do fogo, ao que dizem os arqueólogos. A linguagem articulada é outra estupenda projecção das mãos do homem.
Graças às palavras, os homens podem, de algum modo agarrar as coisas, mesmo quando elas não estão ao seu alcance mecânico nem ao seu alcance visual».
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«Através dos milénios, a linguagem tornar-se-á um tão importante instrumento, que, quando a criança hoje aprende a falar, aprende ao mesmo tempo, sem que as gente dê por isso, toda uma maneira de conceber o mundo. «Uma maneira de conceber o mundo», disse eu. A própria palavra «maneira deriva da palavra mão. Por meio da linguagem manejamos um sistema complicado de classificação e relacionação das coisas. Há mesmo quem tenha definido a ciência moderna, com a sua estrutura matemática, como não passando de uma linguagem bem feita.
Mas como é que com o dom da fala se pode enriquecer tanto? É que a palavra pode ... pôr todas as mãos de um grupo humano ao serviço de um só indivíduo, ou ao serviço de cada qual. Graças à palavra, onde houver dez homens, por exemplo, há, não dez pares isolados de mãos mas dez vezes duas mãos, vinte mãos, ao serviço dos mesmos fins. Reparemos ainda noutra vantagem que o dom da fala trouxe, além da solidariedade que cria entre os homens. Graças à fala, o espírito humano, em vez de perder tempo e energia muscular em inúmeras tentativas, para manobrar satisfatoriamente as coisas, para resolver um problema. substitui as coisas e as relações entre as coisas, por sinais, e faz uma espécie de experiência puramente intelectual - isto é, pensa, sem mexer os dedos até que se depare ao seu pensamento um plano já plausível de acção».
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«O pensamento, apoiando-se sempre em palavras, imagens ou símbolos economiza, afinal, a acção, reduzindo-a ao indispensável».
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«a linguagem em que se apoia pode arquivar experiência de um homem, para o uso de muitos homens futuros.
As mãos carnais de cada homem passam a ser orientadas, não apenas por um cérebro e uma experiência individuais, mas por um cérebro e uma experiência sociais».
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«Essa experiência acumula-se, ainda, em toda uma literatura oral milenária, que vai desde os probérvios até aos poemas homéricos.
A tradição oral é muito anterior e muito mais importante historicamente do que a literatura escrita».
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«A escrita foi mais uma grande conquista, uma forma superior de manusear as coisas».
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«Sob certo aspecto, pode portanto dizer-se que o espírito humano agarra cada vez mais de longe os objectos materiais, , mas isso quer dizer que os agarra melhor, mais planeadamente, numa conjunção mais eficaz e social, de inteligência e da acção».
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«Entre parênctesis ..... elementoas do pensamento tais como conceito, compreensão, provém de radicais latinos que significam agarrar, prender, e outras acções manuais».
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«A prática social ao tornar-se cada vez mais eficaz, vai-nos dizendo, cada vez melhor, como é o mundo».
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«Quem fala nunca está absolutamente só, visto que pensa - e pensar, à maneira humana pelo menos, é atingir o mundo material através de um mundo de sinais sensoriais e verbais de que os nossos semelhantes comparticipam, Por cada pequeno gesto das suas mãos, o ser humano executa uma incontável quantidade de gestos nervosos, na massa cinzenta do cérebro, que, maravilhosamente, se correspondem, de homem para homem. Um homem nunca está só ( 7) ). Tem sempre consigo a sua educação, a sua experiência de vida convivente, a fala interior educada nos hábitos da fala exterior. Sem vida social um homem nem sequer se aperceberia do seu próprio eu. O eu, sendo a negação do tu ou do nós por exemplo, implica por isso mesmo a sua existência e evolui em correspondência com eles.»
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«Mas os instrumentos complicaram-se, a mão humana cresceu; entrou numa fase nova ..... nesta fase, conheciada pelo nome do Neolítico ou Idade da Pedra Polida criam-se dois modos de vida completamente novos: a pastorícia e a agricultura. Quer dizer: as mãos humanas passam a orientar, para nosso proveito, o ciclo vital de certos animais e de certas plantas ... o homem já sabe acumular, e dirigir, a energia doutros seres vivos. Depois de aumentarem o seu alcance e a sua precisão as mãos aumentam assim a sua força física, utilizando os músculos dos animais de carga; ou abastecendo o organismo com as reservas alimentares que acumulam noutros seres biológicos.»
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«Quer o rebanho ou a seara, quer a barragem servem, fundamentalmente, para acumular energia ..... alimentação ..... força motriz ..... animais de tracção ..... »
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«Além de vários outros instrumentos ou técnicas manuais, a cerâmica ..... e a tecelagem ..... »
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«Passemos agora a uma nova fase ..... dois mil anos até ao primeiro milénio antes do nascimento de Cristo .... Para abreviar, ..... uma simples enumeração dos prolongamentos da mão humana: o arado, a roda, o barco à vela, a casa de adobo e depois de tijolo, a fusão de cobre, do estanho, as primeiras ligas metálicas, especialmente o bronze. Além disso, foi nesta idade, conhecida como Idade do Bronze, que se criaram a escrita fonética, os priomeiros sistemas métricos e numerações, especialmente a numeração decimal, as tabuadas de operações aritméticas, o cálculo de áreas poligonais e circulares, as tabelas astronómicas e os calendários. Eis-nos já em presença de um bom estojo de utensílos mentais ao serviço da humanidade.»
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«O espírito se distanciara das coisas, passando a vê-las de longe, indirectamente através de símbolos ...»
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...«essa distância aumenta consideravelmente porque aumentam também as distâncias entre os próprios homens de uns para outros; desenvolvem-se as profissões e destacam-se as classes sociais. Os oleiros, metalúrgicos, tecelões, escribas, etc., organizam-se em corporações, com um cunho mais ou menos esotérico e religioso que as assemelha às corporações de sacerdotes ou magos só com a diferença de ficarem em categoria social inferior. A divisão do trabalho trouxe o comércio, primeiro pela troca simples, depois à base de uma mercadoria-padrão que acabou por ser a moeda metálica.»
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«Grupos populacionais já não vivem directamente da produção de comestíveis ..... surgem as cidades ..... utensílios aumentam a produtividade da terra: a terra pode, portanto, produzir alimentos que chegam para a manutenção dos artífices e comerciantes, que precisamente fornecem os utensílios aos camponeses.»
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«A parte mais importante desse excedente reverte, sobretudo, a favor de uma camada dirigente, a dos guerreiros» .... «que submeteram os camponeses. Os guerreiros realizam amplas unificações territoriais. Deste modo, tornam-se possíveis»..... «até a organização de vastos territórios continentais que economicamente se bastassem a si próprios. É desta idade que datam as guerras propriamente ditas. Durante a maior parte da sua vida sobre a crosta terrestre,» ..... «o homem nunca conhecera a guerra; a espécie humana nunca se batera metodicamente entre si. Assim o objectivo inicial da guerra foi a escravatura, isto é a utilização de certos homens por outros, na agricultura e noutros trabalhos pesados; a submissão de camponeses ou mineiros por aristocracias guerreiras» ..... «a guerra sempre foi norteada pela exploração do trabalho humano.
Quer dizer: o processo de humanização do homem, implicou durante milénios certos aspectos de desumanização» ..... «a desumanização prevalece» ..... «a civilização do bronze acabou, no seu conjunto por decair através de uma desarticulação entre o seu cérebro e as suas mãos.»
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«A produtividade da terra acabou por diminuir, porque quase toda a acumulação de riqueza se desbaratou destrutivamente. O metal» ..... «passou a ser de preferência utilizado em escudos e lanças, em vez de ser vazado em relhas de arado ou enxadas.»
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«O engenho dos nossos antepassados inventa uns fornos especiais que atingem o ponto de fusão dos minérios de ferro» ..... «principía» ..... «a idade histórica em que nos encontramos, a qual vai agora no seu terceiro milénio.»
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«A civilização estugou o passo. A área das trocas comerciais abrangeu primeiro toda a bacia fechada do mediterrâneo, ..... depois ligou entre si os continentes graças primeiro aos Portugueses, Espanhois, Franceses, Holandeses e Ingleses. Os impérios continentais ..... consolidaram as vias de comunicação.»
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«Elabora-se na Grécia, para benefício de uma aristocracia mediterrânea de comerciantes e industriais esclavagistas a concepção do cidadão igual perante a lei e senhor de garantias constitucionais. A ideia de estado torna-se, deste modo, mais abstrata, deixa de confundir-se com a pessoa do déspota,»
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«certos cidadãos helénicos, concebendo o mundo à maneira das suas próprias cidades regidas por constituições, elaboram a noção da lei científica e embora por forma muito abstrata, os ideais da verdade científica, de belo astístico, de justiça e do bem em geral. Para os Egípcios mais antigos , só o faraó era imortal. Para Sócrates, e depois para o cristianismo, qualquer homen participa da eternidade, embora essa eternidade represente a negação daquilo que há de institivamente mais apetecível para o homen.
É que o cérebro grego estava ainda muito divorciado da mão. O cidadão livre de Atenas ou de Roma era um mercador ou um proprietário abastado ..... nunca pensou a sério em fazer máquinas industriais, porque não podia imaginar máquina mais perfeita e rendosa do que um escravo robusto. Quando juntava uma fortuna o cidadão greco-romano comprava quintas ou emprestava a juros ..... os que enriqueciam com o comércio só passavam para a agricultura esclavagista ou para a usura. E assim, Roma conheceu camadas sucessivas de grandes usurários e de latifundiários, cada vez mais opulentos, apoiando-se a partir de certa altura em imperadores, que se converteram em novos déspotas à maneira mais antiga; ao lado de uma miséria crescente.»
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«Nova e grande crise da civilização do Ocidente ..... desde o terceiro século depois de Cristo, mas que só se consumou quando pelo século VIII se quebrou o eixo da civilização clássica, quando se separou o Mediterrâneo em duas partes ..... Império Carolíngeo ..... Império Muçulmano. A Europa ..... mergulha então numa economia agrária ..... que se chama "feudalismo".»
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«a partir do século XII as relações comerciais restabelecem-se, as Cruzadas, surgindo e negando-se afinal a si próprias, reabrem as rotas comerciais do Mediterrâneo ..... até ao Extremo Oriente e se ramificam através de todas as vias marítimas e fluviais europeias.»
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«Na verdade, uma parte dos historiadores de hoje data do século XII o princípio do mundo moderno. Foi a partir de então e até ao fim da idade média que se generalizou o uso do moínho de água, o qual revolucionou não só a panificação mas também a serração e a tecelagem; o leme vertical, depois a bússola a as tabelas de astronomia náutica que revolucionaram a navegação permitindo os Descobrimentos; a atrelagem moderna, que multiplicou várias vezes o poder de tracção dos bois e cavalos; o papel e a imprensa que revolucionaram a difusão da arte literária e o próprio carácter da cultura intelectual; a pólvora, que abateu a importância da cavalaria feudal, etc.»
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«A partir do século XVI .....a noção grega de estado urbano ..... é subestituida pela de Estado nacional. As línguas faladas substituem pouco a pouco o Latim como expressão de cultura. O divórcio entre cérebro teórico do cidadão ateniense e a mão prática do seu escravo atenua-se, pois a ciência passa a basear-se na experiência e no cálculo matemático.»
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«fase completamente nova nas relações entre as mãos e o cérebro do homem ..... desde o século XVII e está intimamente ligado com um ideal moderno: o ideal do Progresso contínuo e colectivo da humanidade. Foi no século XVII que alguns homens excepcionais, como Galileu, Bacon, Descartes, Pascal e Newton, principiaram a ganhar consciência de uma das características mais importantes do ser humano ..... o homen só pode ter a certeza de que conhece alguma coisa quando é capaz de manejar ou fazer essa coisa ..... A ciência e a técnica estão em constante conversa e só existem graças a essa conversa. Ou, empregando o estribilho desta palestra: o espírito e as mãos dependem vitalmente um do outro.»
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«só por inícios do século XIX é que o cérebro dirigente da civilização se adaptou completamente aos prolongamentos da mão humana vindos da fase anterior, permitindo, assim, que se tirassem todas as consequências imediatas da máquina a vapor, das aplicações industriais da mecânica, do comércio intercontinental, da redistribuição que os descobrimentos marítimos acarretaram para as principais culturas agrícolas, do palpel-moeda, etc, etc. E em que consistiu essa mais recente adaptação do cérebro à mão?»
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«No tempo da escravatura havia homens que eram donos de outros homens, e ainda das terras e outros meios de criação de bens; no feudalismo havia homens que eram senhores de outros homens, mas sem os poder esbulhar das terras que cultivavam ou dos outros meios de produção; dentro da civilização prevalecente na última fase histórica o controlo de uns homens sobre os outros pode fazer-se apenas por via indirecta, através da simples posse dos meios de produção para a vida. Daqui resulta que, na escravocracia e no feudalismo, tudo se produzia para as necessidades de um consumo mais ao menos conhecido de antemão - as necessidades estritamente vitais do escravo ou servo, e as necessidades já alargadas, embora relativamente fixas do senhor ou suserano. Mas com o sistema prevalecente no século XIX, desaparece o carácter pessoal destas relações. O mercado dos produtos é que passa a ser o regulador universal .....»
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« No Olímpo moderno, Mercúrio, o deus do mercado, acaba finalmente por destornar Júpiter, o deus patriarcal.
Com o extraordinário impulso inicial devido às novas relações existentes entre o cérebro dirigente da civilização e a mão executora, os limites da acção humana alargaram-se durante o século XIX. O caminho de ferro, o vapor, o telégrafo, o telefone, o papel fabricado directamente da celulose, etc., aproximaram todos os seres humanos. A ciência deixou de assentar na simples explicação mecânica da matéria e passou desde o século XIX a conceber ..... fases sucessivas de evolução duma matéria essencialmente dinâmica ..... até ao ser humano, e à organização social, e ao pensamento consciente sempre em evolução. Todo o mundo apareceu, por fim, solidamente interligado, pois as suas incoerências não passam da presença do passado ou então da preparação do futuro, num presente essencialmente activo; isto, quer à enorme escala das nebulosas e estrelas, quer à escala da história humana, quer à escala dos fenómenos microscópicos ou atómicos.
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Sínteses provisórias, foram-no a Termodinâmica .... a electrónica ..... a Relatividade e a teoria dos Quanta .....
Outra síntese cheia de importância foi aquela que, ..... permitiu integrar a evolução da espécie humana numa teoria científica da evolução de todas as espécies biológicas.
Sob o ponto de vista técnico, a revolução industrial baseada na expansão do vapor de água prolongou-se, ..... no motor eléctrico e no motor de explosão. Finalmente, estamos hoje em pleno início de uma nova revolução técnica ..... poder aproveitar-se sob a forma de energia a chamada energia atómica ou nuclear.
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Há quem pergunte se a nova técnica que está a elaborar-se equivalerá a uma nova descoberta do fogo ..... um novo ciclo na vida do homem neste mundo, comparável ao dos últimos trezentos ou quatrocentos mil anos .....
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Pela minha parte palpita-me que sim, que vai abrir-se um novo ciclo na história humana - o ciclo da história não feita, .....
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Apesar de tudo, o próprio homem é o elemento com que mais é preciso contar de futuro.
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Todos sabemos que a apropriação absoluta dos instrumentos de produção, apropriação que culminou com a revolução francesa, e portanto o domínio da lei da concorrência francesa, do mercado, da procura e oferta, trouxeram o crescente uso da máquina na indústria, e depois na agricultura; sabemos que daí resultou, afinal, a necessidade de um empate crescente de capital fixo nos meios mecânicos; que daí resultou, portanto a concentração da indústria e do capital, um predomínio novo do capital bancário sobre o capital industrial; e a tendência para o monopólio. Quer dizer: mais uma vez, aqui se verifica o princípio fundamental de que as coisas têm dentro de si, a semente da sua própria destruição:a concorrência tende. cada vez mais, a matar a concorrência. Os resultados desta auto-aniquilação são particularmente sensíveis desde cerca de 1870 para cá,
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«A partir do século XVI .....a noção grega de estado urbano ..... é subestituida pela de Estado nacional. As línguas faladas substituem pouco a pouco o Latim como expressão de cultura. O divórcio entre cérebro teórico do cidadão ateniense e a mão prática do seu escravo atenua-se, pois a ciência passa a basear-se na experiência e no cálculo matemático.»
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«fase completamente nova nas relações entre as mãos e o cérebro do homem ..... desde o século XVII e está intimamente ligado com um ideal moderno: o ideal do Progresso contínuo e colectivo da humanidade. Foi no século XVII que alguns homens excepcionais, como Galileu, Bacon, Descartes, Pascal e Newton, principiaram a ganhar consciência de uma das características mais importantes do ser humano ..... o homen só pode ter a certeza de que conhece alguma coisa quando é capaz de manejar ou fazer essa coisa ..... A ciência e a técnica estão em constante conversa e só existem graças a essa conversa. Ou, empregando o estribilho desta palestra: o espírito e as mãos dependem vitalmente um do outro.»
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«só por inícios do século XIX é que o cérebro dirigente da civilização se adaptou completamente aos prolongamentos da mão humana vindos da fase anterior, permitindo, assim, que se tirassem todas as consequências imediatas da máquina a vapor, das aplicações industriais da mecânica, do comércio intercontinental, da redistribuição que os descobrimentos marítimos acarretaram para as principais culturas agrícolas, do palpel-moeda, etc, etc. E em que consistiu essa mais recente adaptação do cérebro à mão?»
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«No tempo da escravatura havia homens que eram donos de outros homens, e ainda das terras e outros meios de criação de bens; no feudalismo havia homens que eram senhores de outros homens, mas sem os poder esbulhar das terras que cultivavam ou dos outros meios de produção; dentro da civilização prevalecente na última fase histórica o controlo de uns homens sobre os outros pode fazer-se apenas por via indirecta, através da simples posse dos meios de produção para a vida. Daqui resulta que, na escravocracia e no feudalismo, tudo se produzia para as necessidades de um consumo mais ao menos conhecido de antemão - as necessidades estritamente vitais do escravo ou servo, e as necessidades já alargadas, embora relativamente fixas do senhor ou suserano. Mas com o sistema prevalecente no século XIX, desaparece o carácter pessoal destas relações. O mercado dos produtos é que passa a ser o regulador universal .....»
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« No Olímpo moderno, Mercúrio, o deus do mercado, acaba finalmente por destornar Júpiter, o deus patriarcal.
Com o extraordinário impulso inicial devido às novas relações existentes entre o cérebro dirigente da civilização e a mão executora, os limites da acção humana alargaram-se durante o século XIX. O caminho de ferro, o vapor, o telégrafo, o telefone, o papel fabricado directamente da celulose, etc., aproximaram todos os seres humanos. A ciência deixou de assentar na simples explicação mecânica da matéria e passou desde o século XIX a conceber ..... fases sucessivas de evolução duma matéria essencialmente dinâmica ..... até ao ser humano, e à organização social, e ao pensamento consciente sempre em evolução. Todo o mundo apareceu, por fim, solidamente interligado, pois as suas incoerências não passam da presença do passado ou então da preparação do futuro, num presente essencialmente activo; isto, quer à enorme escala das nebulosas e estrelas, quer à escala da história humana, quer à escala dos fenómenos microscópicos ou atómicos.
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Sínteses provisórias, foram-no a Termodinâmica .... a electrónica ..... a Relatividade e a teoria dos Quanta .....
Outra síntese cheia de importância foi aquela que, ..... permitiu integrar a evolução da espécie humana numa teoria científica da evolução de todas as espécies biológicas.
Sob o ponto de vista técnico, a revolução industrial baseada na expansão do vapor de água prolongou-se, ..... no motor eléctrico e no motor de explosão. Finalmente, estamos hoje em pleno início de uma nova revolução técnica ..... poder aproveitar-se sob a forma de energia a chamada energia atómica ou nuclear.
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Há quem pergunte se a nova técnica que está a elaborar-se equivalerá a uma nova descoberta do fogo ..... um novo ciclo na vida do homem neste mundo, comparável ao dos últimos trezentos ou quatrocentos mil anos .....
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Pela minha parte palpita-me que sim, que vai abrir-se um novo ciclo na história humana - o ciclo da história não feita, .....
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Apesar de tudo, o próprio homem é o elemento com que mais é preciso contar de futuro.
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Todos sabemos que a apropriação absoluta dos instrumentos de produção, apropriação que culminou com a revolução francesa, e portanto o domínio da lei da concorrência francesa, do mercado, da procura e oferta, trouxeram o crescente uso da máquina na indústria, e depois na agricultura; sabemos que daí resultou, afinal, a necessidade de um empate crescente de capital fixo nos meios mecânicos; que daí resultou, portanto a concentração da indústria e do capital, um predomínio novo do capital bancário sobre o capital industrial; e a tendência para o monopólio. Quer dizer: mais uma vez, aqui se verifica o princípio fundamental de que as coisas têm dentro de si, a semente da sua própria destruição:a concorrência tende. cada vez mais, a matar a concorrência. Os resultados desta auto-aniquilação são particularmente sensíveis desde cerca de 1870 para cá,
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A diferença entre as velhas e as novas formas de concorrência reside em que, por inícios do século XIX, ..... se fazia de um modo mais ou menos contínuo, mediante uma certa percentagem mais ao menos regular de falências; ..... desde 1870 para cá se faz sobretudo aos arrancos, por forma espasmódica e dramática. A alternância de anos de prosperidade comercial e anos de super produção, ou, mais acertadamente, de sub-consumo. .....
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...mas só desde fins do século XIX é que o número de desempregados começou a contar-se por milhões; e só no século XX é que os conflitos armados produzidos, em última análise por tais condições se tratavam á medida de vários continentes.
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Estamos perante uma nova crise nas relações entre o cérebro e a mão do homem.
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Nem sempre se pode dizer que os problemas postos pela máquina resultem de um pertenso domínio da matéria sobre o espírito, pois a máquina não é matéria bruta; a máquina representa uma vitória do espírito sobre a matéria .....
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A palavra máquina vem mesmo duma palavra em Latim que significa, propriamente, estratagema, artimanha, ou plano.
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A máquina é uma humanização da matéria, uma vitória humana que só tem o defeito de ser unilateral, parcial, incompleta.
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Como se sabe, existe ..... uma ciência nova chamada Cibernética que se baseia na mecanização de operações altamente complexas de pilotagem, sinalização e outras formas superiores de controlo mental.
Portanto, se qualquer coisa está errado no mundo que o homem fez dentro do mundo, a responsabilidade é do espírito humano, quero dizer do cérebro humano; do sistema prevalecente do controlo supremo sobre a vida humana. O cérebro deve queixar-se de si e não das mãos que tão brilhantemente aumentou e qualificou, o cérebro social é que tem de ser refeito.
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Como têm sublinhado muitos altos responsáveis, entre eles o Papa ..... a humanidade dispõe hoje de meios que permitem o próprio suicídio da espécie, a própria extinção da vida sobre a Terra e outras coisas pouco menos pavorosas do que isso.
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Ou o homem renasce diferente, ou a humanidade ficará condenada a viver no receio quotidiano de um conflito ..... no estilo do Apocalipse ..... feitos do assassinio brusco e em massa, de milhões de pessoas; .....
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Sejamos francos: no tempo do Senhor D. Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves de Aquém e de Além-mar em África, Senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia, e Índia - fora o resto, - não havia nada de comparável com aquilo que um futuro de paz nos promete, graças à cooperação construtiva de outros povos que sejam realmente nossos amigos. No glorioso século dos Descobrimento marítimos, para que umas escassas centenas de pessoas tivessem um nível de vida que eu, por exemplo, não invejo, foi preciso reduzir a bestas de carga dezenas e dezenas de milhares de escravos negros (não falando em centos e centos de milhares de brancos paupérrimos); foi necessário matar e morrer, em combates sem quartel, com mouros, turcos, indianos, japoneses, corsários holandeses, franceses, ingleses, etc.
Pois os futuros escravos negros de oito milhões de portugueses, ou dez milhões, ou o duplo, ou o triplo, o coeficiente que quisermos desse número, podem ser apenas uns gramas da matéria prima das reacções nucleares, porque nós hoje, somos todos potencialmente milionários. Quando, há uns trezentos ou quatrocentos mil anos atrás, as mãos de certos primatas constituiram as mãos iniciais do homem, nada disto podia ser, sequer, sonhado. Ora, quantos centos de milénios terá ainda à sua frente o homem, para refazer as suas mãos e o seu cérebro? Outros tantos? Não, muito ma futuros, de certo modo ainda humanos, quando no contador do tempo se fizer uma contagem múltipla daquela que hoje fazemos quanto ao passado da humanidade. Mas toda a história humana deste planeta pode acabar amanhã, ou daqui a um mês. E é por isso que tudo quanto vale alguma coisa no mundo, seja a ciência, seja a arte; seja a imaginação, seja o progresso; seja a honra, seja o amor; sejam as crianças, sejam as rosas; seja a vida, seja o Espírito, no sentido mais autêntico, criador e digno da palavra espírito - tudo, mas absolutamente tudo, cabe hoje neste bem supremo, que é preciso salvar, a Paz, a «Paz áurea, divina», como diz Camões, no poema em que exalta a nossa coragem nacional.» e mais do que isso se quisermos. Ninguém pode imaginar o que se passará nos espíritos»( 8)
Fontes, informações e notículas
1 - Imagem isolada de fotografia mostrando os cinco filhos de Irene e Armando, Pais de Óscar Lopes e, depois, ligeiramente recriada pelo escriba de serviço.,. A referida fotografia integra e com relevo, o Trabalho Jornalístico de Alice Rios no Jornal de Notícias. Voltaremos a referir este hebdomanário e este trabalho de Rios, mais abaixo, na referência número 3.
2 - Óscar Lopes é - era - homem de letras...no meu tempo de estudante de Anatomia, chamar pulso ao punho era convite imediato à "desistência". Não havia provas escritas. Só orais. Ante júris de dois ou três "Profes" Catedráticos. Por decoro, o aluno evitava, sempre que ainda conservasse , (como se em um jogo de boxe), um mínimo de lucidez, incomodar o júri, "entristecendo-o" - coitado ! - ao defrontar-se com a obrigação de o "chumbar" (acto e neologismo emanados de um conceito cinegético...)Fontes, informações e notículas
1 - Imagem isolada de fotografia mostrando os cinco filhos de Irene e Armando, Pais de Óscar Lopes e, depois, ligeiramente recriada pelo escriba de serviço.,. A referida fotografia integra e com relevo, o Trabalho Jornalístico de Alice Rios no Jornal de Notícias. Voltaremos a referir este hebdomanário e este trabalho de Rios, mais abaixo, na referência número 3.
3 - JN. Acrónimo de «Jornal de Notícias» muito comummente usado no linguajar dos portuenses, tripeiros e portistas. Tal como no Mistério da Santíssima Trindade - ressalvada a irreverência - Três Pessoas Distintas mas Uma Só Verdadeira... O trabalho de investigação jornalística de Rios -interessantíssimo - de que disponho, é um recorte, emprestado, igualmente pelo Januário, com o texto e as fotografias que o ilustram e muito o enriquecem. O artigo está publicado no Jornal de Notícias de Domingo, 26 de Março de 2000, pág. 4 - Secção Grade Porto.
4 - www.público.pt/cultura/notícia/sobre-oscar-lopes-1588789
5 - O Tchekista . Vladimir Zazùbrn .- Novela 1ª edição. Antígona Editores Refractários. Lisboa. Outubro 2012. ISBN 978-972-608-227-9.
6 - O Prof. Óscar Lopes me perdoe a desfaçatez do atrevimento...: pelas minhas contas o homem não inventou o fogo,. Mas tanto o observou e lhe depreendeu utilidades e vantagens, que acabou em intentações sucessivas do cérebro, do encéfalo, por conseguir descobrir modo de o fazer à mão...
7 - Está no Antigo Testamento! : «Ai do Só !!! ...». Não O tenho agora, aqui, à mão. Não posso por isso pôr-lhe o dedo no sitinho onde repousa, para nossa meditação.
8 - In: Óscar Lopes. As mãos e o Espírito. Campo de Letras Editores S.A. 2007.
Vosso, «Só»,
Rui Abrunhosa
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5 - O Tchekista . Vladimir Zazùbrn .- Novela 1ª edição. Antígona Editores Refractários. Lisboa. Outubro 2012. ISBN 978-972-608-227-9.
6 - O Prof. Óscar Lopes me perdoe a desfaçatez do atrevimento...: pelas minhas contas o homem não inventou o fogo,. Mas tanto o observou e lhe depreendeu utilidades e vantagens, que acabou em intentações sucessivas do cérebro, do encéfalo, por conseguir descobrir modo de o fazer à mão...
7 - Está no Antigo Testamento! : «Ai do Só !!! ...». Não O tenho agora, aqui, à mão. Não posso por isso pôr-lhe o dedo no sitinho onde repousa, para nossa meditação.
8 - In: Óscar Lopes. As mãos e o Espírito. Campo de Letras Editores S.A. 2007.
Vosso, «Só»,
Rui Abrunhosa
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