LAH1954

um blog de antigos alunos do Liceu de Alexandre Herculano, do Porto

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

A base de dados da malta 1946/1954

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Porque a todos interessa e por todos seria bom que fosse actualizada, a base de dados (que, como é evidente, por segurança não tem cabimento no blogue), transcrevo seguidamente, com alguma demora mas ainda a tempo, o e-grama (ou "e-mail" para os mais anglo-saxónicos) recebido do Moreira. Ahi baie!

Data: 4 Agosto 2007
Assunto: Base de dados

Caro Zé Miguel

Como te lembras, no ano passado o Hernâni teve a feliz ideia de começar com a Base em epígrafe, o que originou o envio de um inquérito para ser preenchido pelos interessados e devolvido àquele.

Como o número de respostas recebidas ficou aquém do esperado propus ao Hernâni que, no CD que vou editar no próximo convívio, inclua aquela Base conforme está, para conhecimento de todos os que puderem e quiserem honrar-nos com a sua presença, o que foi aceite. Sendo assim acho que seria útil lembrar no Blog que, dado o tempo que ainda falta para a realização daquele evento, seria incentivador para todos nós e principalmente para o seu criador que aqueles que se esqueceram de o fazer naquela altura mandem agora os elementos que entenderem para que, o tal CD que vai ser enviado a todos, possa levar a Base o mais completa possível.

Um abraço do Moreira

Fica a mensagem! E, de vós, o contributo informativo e actualizador!


sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Uma evocação do Dr. Mesquita

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No meu "blogue" pessoal (sim, por mor de várias razões não escapei a essa actividade narcísica que tenho razoavelmente mantido com a pouca "clientela" que mereço...), rabisquei em rodapé à mensagem de 15 de Dezembro de 2006 um relato de uma atribulada viagem sobre o Pacífico, que terminou com uma evocação do Dr. Mesquita. Aí vai!

"Outro dos "mistérios" resolvidos nessas viagens, uma delas dramática (a que não foi "a da Guí-se-la") pois atravessei os EUA em várias etapes, sem visto, com passaporte apreendido e fechado em envelope passado de tripulação a tripulação, uma etiqueta pendurada a dizer TRWV [= transit without visa] e sempre guardado à vista, a caminho do Canadá, onde poderia (então) entrar sem visto, mas sobrando-me apenas 50 USD no bolso (depois os Canadianos tornaram-se uns chatos e passaram a exigir vistos e a ser mais chatamente britânicos que os tão perguntadores ingleses do Heathrow de então, o que deu origem a algumas cenas cómicas, como em Edmonton, mas isso fica também para contar depois! Aliás esta saga seria impensável hoje!)

Recordo-me que nessa viagem gastei uma substancial parte dos ditos 50 dólares num taxi para sair do aeroporto de Toronto, guiado por um simpático cabo-verdiano que me depositou numa espelunca próximo das pistas (não digo o nome, mas recordo-o bem), dizendo-se com ar intrigante: "ali também se dorme e não é caro" (cena paralela a uma em Hamburgo, mas de contexto diferente, que também vai para o baú dos incontados potencialmente contáveis) e que na manhã seguinte, mal-dormido (havia muitas portas a bater durante toda a noite mas eu nem tinha vontade, nem maquia, para me preocupar com isso), com 50-4-12 = 34 dólares remanescentes fui a pé para a gare, tomei geladamente um AirCanada matutino e, ensonado, só respirei fundo em Montreal, quando me vi dentro do avião da TAP!).

Mas, e a "international date line"(IDL)? Falei nela pela primeira vez em Geografia, no LAH, no 3º ano, com o Professor Mesquita, mais conhecido pelo "Homem das Cavernas". E não percebi nada! Isto de haver na Terra um meridiano, situado a meio do Pacífico e em oposição ao de Greenwich, de tal forma que até (por sorte) intercepta uma das menores áreas de terra habitada do Mundo e em que, atravessando-se para oriente se passa das X horas de hoje para as X horas de ontem (o caso do Philleas) e atravessando-se para ocidente se passa das X horas de hoje para as X horas de amanhã (o que tramaria o Philleas se fizesse a aposta e viajasse nesse sentido...), tudo em pleno e imutável Sol entre coqueiros do género "oh bela Yamantanganotinha vai-me ali, ao ontem, buscar um côco e trá-lo cá hoje, se fazes favor" ou "espera um pouco, Samantha-dear, que vou ali ao amanhã buscar a nossa roupa, pois não fica bem hoje entrarmos ambos nus em pleno Hotel". Mas havia a história do Philleas e do Passepartout e da Ms. Aouda e eu tinha o Jules por gajo sério! E depois havia aquela realidade da hora e dia do ETA (tempo esperado de chegada, não confundam!) a Seattle-Tacoma...[1]

Quando pensei que estava próximo da IDL levantei-me e fui até à "kitchenette", pedir um "bourbon-soda" e cavaquear um bocadinho com as hospedeiras. Manifestei-lhes, coração aberto, as minhas ainda pueris mas persistentes dúvidas sobre a IDL e sobre se seria possível voando num avião rapidíssimo rejuvenescer sucessivamente (o que, evidentemente não é possível pois os ganhos num sentido se perderiam depois... a menos que fizesse entrar a letra "c", mail'o Alberto e o Magueijo nesta história toda!). Recordarei sempre a frase da mais velhinha delas, já farta de andar por aquelas bandas: "Olhe, quanto à IDL, o melhor é mesmo não pensar nisso!". Sábia frase, digna até do "Homem das Cavernas" que, decénios atrás, ensinava Geografia no "meu Liceu" e que eu silenciosamente evoquei sobre o Pacífico, ao voltar para o meu lugar com o "Old Nr. 7" no copo!"

Bonito, não é? Pois do Dr. Mesquita ficaram-me dois episódios, um meu e outro do Malafaia, o Álvaro creio eu, cada um no seu soleníssimo estiquete frente ao "mapa mudo" (ainda guardarão no acervo do LAH esses terríveis instrumentos de tortura que se chamavam mapas-mudos e que eram de origem francesa? [2]). Ambos são do mesmo estilo. Quanto ao Álvaro, navegava ele em gestos redondos por sobre a Indonésia, percorria Samatra, enquanto o Dr. Mesquita, com aquele seu habitual vozeirão, dizia: "Como se chama essa ilha?". E a malta soprava "Samatra! Samatra!", mas o paciente, posto em cima do estrado, pelos vistos não ouvia bem... e saiu-se com um tímido "Salamanca!". Quanto a mim, coube-me a Austrália. Não sei por que bulas nós tínhamos de saber as províncias da Austrália e as respectivas capitais. Eu estava "em branco mais branco que branco de titânio" e o "Homem das Cavernas", frente ao tal enigma plasmado que era o mapa-mudo, perguntou: "E essa cidade aí, qual é?". Tentei uma evasiva parva e balbuciei: "São todas nomes ingleses... muito difíceis de decorar!" Sucesso pleno mas bola vergonhosamente ao lado, já que aquela cidade de nome "dificílimo" era nem mais nem menos que... Adelaide!
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[1] I.e. tinha saído de Tóquio às 16 da tarde, ia chegar a Settle na madrugada do mesmo dia...
[2] É curioso notar que muitas das alfaias lectivas do LAH eram de origem francesa. Os mapas, mudos ou falantes da "sala de Geografia", eram na sua maior parte franceses... alguns dos instrumentos de física eram franceses... e francesas eram, da casa "Les Fils d'Emile Deyrolle" [mas ainda existem, os gajos! ou pelo menos são falados! vejam na "net" por este nome!], as amostras de minerais e rochas da excelente colecção que o sr. Abrunhosa mantinha nos filinticos domínios - tudo isto podendo DAR UM EXCELENTE MUSEU DE MATERIAL DIDÁCTICO! Mas ainda bem, apesar de tudo, que o "Teacher", com o "English by Radio", veio matizar um pouco tanto galicismo!

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ZM

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Encontro de Antigos Alunos do LAH, 1946 / 1954

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Recebi do Moreira a seguinte comunicação, que transmito:
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Assinam o Januário, o Soares de Sousa e o Moreira (omiti os telefones por prudência, mas eventuais interessados poderão solicitá-los através do endereço electrónico deste "blogue").


ZM

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Padre Brandão, mais tarde D.Domingos

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Do Moreira, a 19 de Julho, recebi a seguinte mensagem:

Caríssimo Zé Miguel
Há tempos vi no n/ blog a fotografia do busto do Dr.: Brandão que tiveste a feliz ideia de tirar e postar. Como considero que foi um dos melhores professores que tive e nessa foto não é possível vê-lo como nós o conhecemos, resolvi pôr os pés ao caminho e estou agora a enviar-te duas com a fisionomia que nós conhecemos e recordamos. Suponho que têm ambas muito interesse mas tu decidirás se queres postar alguma ou não para fazerem companhia à do busto.
Sem mais, um abraço do
Moreira



Respondendo: Pois eu entendo que sim, e os anexos enviados pelo Moreira (afinal 3 e não 2!) aí estão, embora estes sejam já mais do D.Domingos:




Vem agora uma explicação... e o tal apêndice que, chato como sou. eu vou juntar. A fotografia do busto do D.Domingos de Pinho Brandão, que está numa das artérias principais de Arouca, que aliás tem o seu nome, resultou de uma das minhas visitas àquela interessante terra, relacionadas com uma tese de mestrado que estou a magicar. A fotografia do busto está má, eu sei, má em iluminação, má em perspectiva, má em todos os ditames da mais elementar arte fotográfica - e portanto mereceu a correcção que o Moreira faz.

Mas o que por certo não sabeis é que, nesta altura, estou cuidadosamente a estudar os jornais de Arouca, tendo começado pelo "Defesa de Arouca", um semanário iniciado em 1 de Janeiro de 1926 (ainda estou em 1942...Singapura acaba de ser tomada pelos japoneses...a Alemanha reteve há alguns meses por razões de frio a ofensiva de inverno contra a URSS...aqui estamos preocupados com Timor, com a gasolina racionada, com os negócios do volfro, com as ameaças veladas às ilhas atlânticas, eu sei lá...) e..., embora esteja nele a buscar um conteúdo bastante profano, já por lá me encontrei, até ao momento, com 3 referências 3 ao "sr.Domingos de Pinho Brandão", da freguesia de Rôssas.

Não digo que não possam ter existido referências anteriores, pois o mencionado semanário fazia uma marcação cerrada aos estudantes locais, divulgando os seus êxitos académicos (devia ser complicado, naquele tempo, ser estudante em Arouca... e não merecer tais menções!) e, portanto, na "saison" dos apertos, trazia vastos elencos que eu não escrutinei. Refiro-me pois a menções "salientes", dedicadas com relevo ao referido "sr.", como era designado, e que viria a ser professor nosso!

A primeira menção consta do jornal nº 757, de 3 de Agosto de 1940 (está quase a fazer 67 anos!), página 3, secção "Correspondências" [das freguesias] e diz o seguinte:

Rôssas, 31-VII
Nas cerimónias que se vão realizar nesta freguesia, pelas 19 horas do dia 10 de Agosto próximo, por ocasião dos grandes festejos a Nossa Senhora do Campo, de homenagem e exaltação à Cruz, além do pregador da festa, falarão o sr. Domingos de Pinho Brandão, aluno do curso teológico que vem frequentando com grande distinção, e o menino Elísio de Almeida Azevedo. No acto do descerramento da lápide comemorativa, além dum dos oradores precedentes, discursará o menino Artur Garrido Brandão.
Todas as cerimónias revestir-se-ão de grande brilho e solenidade. C. [correspondente]"

Esclareço que, em Arouca, "Brandão" é um patronímico muito corrente, pelo que o terceiro orador indicado, podendo sê-lo, não será necessariamente parente do primeiro... A segunda menção encontrada, está na secção "Exames" (a tal!) do "Defesa de Arouca" nº 806, de 19 de Julho de 1941, pag.2 e diz:

“Com a elevada classificação de 17 valores (1º distinto) transitou para o 3º ano do curso teológico o inteligente estudante sr. Domingos de Pinho Brandão, do Outeiro, de Rôssas.”

Finalmente a última descoberta, até ao momento, é a que consta do mesmo jornal, com bastante relevo, a pag 2 do nº 833, de 31 de Janeiro de 1942:

"Domingos de Pinho Brandão

De sua casa do Outeiro de Rôssas, onde veio passar alguns dias junto da sua família, seguiu para o Colégio Português em Roma, a fim de se doutorar em Teologia pela Universidade Gregoriana, o nosso amigo sr. Domingos de Pinho Brandão, mui distinto aluno do 2º ano de Teologia do Seminário da Sé, da cidade do Porto.
Desde já desejamos ao futuro doutor muitas felicidades."

Assinale-se a evidente incongruência entre o 2º e o 3º apontamento, quanto ao ano frequentado do curso de Teologia. Recordais-vos, certamente, do relato factual que por vezes nos fazia da sua estadia em Roma, em plena guerra, descrevendo nomeadamente os bombardeamentos aéreos de que a cidade tinha sido alvo e que tinha testemunhado.

ZM