LAH1954

um blog de antigos alunos do Liceu de Alexandre Herculano, do Porto

sexta-feira, 16 de março de 2007

Um comentário do Moreira ao texto anterior do Abrunhosa

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Depois de ler esta deliciosa prosa do Rui Abrunhosa e por a considerar 100% oportuna permito-me dar mais uma achega relacionada com o uso e abuso da Língua Portuguesa nos tempos que correm.
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Há uns meses ouvi na Antena 2 ser entrevistado o então presidente do Instituto da Língua e do Livro (parece que já mudou de nome) regressado do Brasil onde tinha estado 3 meses em serviço.
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A certa altura disse que os livros portugueses se vendiam muito pouco naquele país devido ao facto da grande maioria dos brasileiros ter muita dificuldade em os perceber e que, como já sabíamos, as nossas telenovelas tinham que ser dobradas lá para terem audiência que justificasse a sua emissão.
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Nos nossos dias assistimos nos Média, que antigamente eram fontes de cultura, a autênticos campeonatos a ver quem diz ou escreve mais erros ortográficos ou de sintaxe ou quem se esforça mais por exibir orgulhosamente a sua incultura e falta de preparação.
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Assente nestes alicerces de areia foi construído o grande «palácio» da informática no qual todos os «sábios» residentes que se prezam, e como consequência do restrito vocabulário da Língua Portuguesa que dominam, não têm parado de inventar palavras novas desnecessárias, quando não até erradas e, para se darem ares de pessoas cultas, cada vez misturam mais palavras estrangeiras com portuguesas. Lembro-me que no 1º e 2º anos do Liceu tive como professor de Francês aquela «fera» que dava pelo nome de Serafim Pinto que, quando nós misturássemos alguma palavra portuguesa quando falávamos Francês, dizia que quem assim procedia estava a demonstrar que nem sabia uma língua nem outra.
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Há dias vi na televisão o Sr. Presidente da República dizer que estava preocupado por ver os Centros de Decisão estarem a ir para o estrangeiro; fiquei admirado por ele ter esta preocupação pois esta emigração não é mais do que uma das consequências lógicas que teremos de suportar pelo facto dos políticos que têm chamado a si a responsabilidade de nos governar não terem feito mais do que transformar Portugal de «um país em vias de desenvolvimento» num país em vias de «DESAPARECIMENTO».
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Resolvi então escrever-lhe para o alertar para o seguinte facto:
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Como agora é considerado normal que os alunos portugueses que cá estudam não saibam falar nem escrever português e como têm acesso permanente a telenovelas brasileiras e, sempre que usam o computador, são obrigados a utilizar programas em «Português do Brasil», seria bom que fizesse alguma coisa para evitar ou pelo menos dificultar esta espécie de «colonização» brasileira, caso contrário daqui a uns anos em Portugal falar-se-á talvez Inglês e Brasileiro que alguém lembrará que é proveniente maioritariamente da Língua Portuguesa em processo acelerado de extinção.
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Os colegas sabem que é verdade o que escrevi e os que usam computador e quiserem confirmar basta ir à caixa do correio do Google escrever uma mensagem, accionar o corrector ortográfico e terão oportunidade de ver palavras que escreveram correctamente serem sublinhadas como estando erradas e serem-lhes apresentadas sugestões que nunca leram nem constam nos dicionários.
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Vejam as consequências que resultam para os alunos que não são obrigados a saber Português.
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É evidente que já reclamei para o Google embora tenha quase a certeza que mais uma vez não serei acompaanhado.
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Um abraço do Moreira

segunda-feira, 12 de março de 2007

Um verso de Fernando Pessoa e o mais para que houver paciência para ler, um e-mail [ou e-grama?] do Rui Abrunhosa

A abrir: Acabava eu, nos comentários da postagem anterior, de chamar nomes na generalidade aos que não vinham ao blog nem mandavam notícias, quando me entra silenciosamente na "caixa" o e-grama do Rui Abrunhosa que seguidamente transcrevo. Deixo em aberto algumas respostas, que lhe mandarei por esta via ou outra - já que não quero demorar a transcrição... e ela aí vai à puridade! Junto a foto de um flamingo de Alcochete, como primeira parte de resposta daqui, dizendo-lhe que - pelo menos ontem - ainda não tinham ido até Donana ou locais semelhantes, para as primaveris dansas de acasalamento a que se segue o dito, como na anedota do "É hoje! É hoje!"!


Um abraço meu para o Rui e para a "malta". E aí vai o texto:

"José Miguel: Ao iniciar, há dias, e-mail para o Hernâni Maia, com o intuito de lhe agradecer a intermediação no envio para ti do texto *Metodologias do Paleio*, ocorreu-me, de súbito, a exclamação do Fernando Pessoa, por ele deixada não recordo agora onde: A minha Vida é como se me batessem com ela.

Depois de tudo o que vi e vivi, desde que disse, com gratidão, Adeus, ao "Alexandre Herculano", acho que uma tal declaração cabe bem no melhor recôndito da alma de muitos, muitíssimos - muitíssimos muitos - Seres Humanos! Tantos! cada vez mais! Por tal, até me custa, abusivamente, comparar-me com quem tão duramente sofre, mas comigo, é, foi, e, sobretudo, continua a ser, um pouco assim.

Tal explica porquê, às vezes, pareço javardo, mas infirma que eu seja ingrato...Parecerei javardo ao notar-se a demora com que reapareço, porém estou, José Miguel, grato pela ajuda que me deste "postando" por mim, em 18 de Fevereiro, o naco que, via Hernâni Maia, de mim recebeste.

Voltei a estar grato com a tua boa acção do dia 23 do" idem". O trabalho que nos ofereceste para pedagogicamente nos ensinar a contribuir para o Blog, parece-me excelente enquanto *guide line* para portadores - como é o meu caso - de um neurónio só ( esta do Mourinho, embora finamente grossa - outra frase à moda do Américo Tomás - "estive" boa)

Parecerei javardo, dizia, mas porque "a minha vida é como se me batessem com ela", não tenho, em geral, o tempo, a liberdade, e o espaço, de que muitíssimo precisava de ter para desfrutar os pequenos prazeres da saudosa partilha agarotada. Chego sempre a casa, à noite, já obtusamente esfarrapado e, assim, incapaz para dedilhar prosa. Aparecerei, contudo, sempre que me for sendo possível.

Neste comenos (que a informática me sublinha a vermelho, para me dizer que não existe ou, eu - burro! - escrevi com erro, mas que Camilo , o da nossa Avenida, usava com elegância) neste comenos, dizia, aproveito a onda para referir que senti uma formiguinha a formigar-me o ego (ou lá o que é que ela me formigou) quando me vi impresso (?), ou talvez expresso(...) ou, se calhar, mais certamente, e-presso (!) logo que por tua mão postado.

Apesar do artigo definido "A" a mais no título, e das 3 ou 4 gralhas provavelmente introduzidas pelo Hernâni para dar mais densidade ao texto..

Todavia bateu na minha atenção a ilegibilidade das 2 « Chávenas de Café Quase Amargo» do Dr Malpique . Dentro da tal dimensão do discernimento de um neurónio só, fico sem saber a *causa da coisa*. Erro meu (?), artefacto da reformatação que o Hernâni diz que teve de fazer por utilizar Mac Intoch (!) ou insídia na inclusão no Blog (...) Ponho à tua consideração esta minha preplexidão porque tinha em plano introduzir no Blog várias destas finas peças de porcelana do Dr Malpique como também reproduções legíveis do "Preludio."

As razões porque escolhi, para começar , aquelas duas, são as seguintes : a primeira tem a filosófica piada que o Dr Malpique tantas vezes jogou que acabou conhecida primeiro por meio mundo e depois pelo mundo inteiro - pareceu-me agradável «ouvi-la» outra vez. E, sbretudo, admirar o tom profético! Fazem espantar as fortunas que se realizam praticando apenas duas ou três técnicas médicas. A segunda surpreendia um *click* de amizade do Poeta Junqueiro para com Bernardino Machado não sei se antes se depois de este ter sido Presidente da República.. Alem da elegância do Junqueiro, muito bem espelhada no tratamento que o Dr. Malpique lhe dá, motivou-me trazê-lo para o Blog o facto de Bernardino Machado ter sido Pai do nosso primeiro Médico Escolar, no "Alexandre Herculano", o Dr Ângelo Vaz. Alem disto foi para mim também oportunidade de recordar o seu Neto o Prof Júlio Vaz, meu Professor de Bacteriologia na Faculdade de Medicina do Porto e o seu Bisneto, o Prof Júlio Machado Vaz, Psiquiatra Sexólogo, a quem dei aulas de Anatomia naquela mesma Faculdade. "En passant", conto que este brilhantíssimo Aluno me pediu, por meados de Maio de 1966, que lhe fizesse uma simulação do Exame Final que à época era uma Prova Oral de grande liturgia. Durante cerca de hora e meia, subindo de patamar em patamar, até tentar um "esfandeganço" final, a um nível que marcaria a classificação a presumir, fiz com ele um "catch as you can catch" que me deslumbrou! ... o "sacaneta"(respeitosamente) não falhou uma!!!

Para evocar o Médico Escolar Dr. Ângelo Vaz lembro que por Novembro de 1947, tinha eu acabado de entrar no 1º ano do Liceu um mês antes, ele percorreu todas as turmas de caloiros e por tempos de 50 minutos, em todas fez um teste psicológico aos Alunos. De que não mais se ouviu falar... Pois qual não foi o meu espanto quando a meados do ano lectivo em que eu frequentava o 7º ano, visito o Gabinete Médico ( como repórter do Prelúdio ?) e ali vou encontrar o relatório do Dr. Ângelo Vaz (então, já há muito falecido ) descrevendo o meu perfil psicológico e, fantástico!!! nele me reconhecendo!!!

Lembro-me bem da sua figura, da sua delicadeza com toda a gente, respondia-me sempre quando por ele, passando no corredor, eu lhe baixava a cabeça. Era rigoroso no que fazia pelo que posso julgar do perfil psicológico que me apanhou. Muito bem educado. E não era exibicionista...Altri tempi... Se bem estou lembrado atingiu o "limite de idade" por finais de 1947.

Bom. "Back to business": Zé Miguel ... faz lá a tua primeira boa acção da semana averiguando como poderão vir a entrar legíveis reproduções de textos digitalizados. Entretanto, se achares bem, mete-me este paleio no blog bem como os 2 anexos que lhe junto.

Será que tens modo e terás paciência para me mostrares a colónia de Flamingos aí ao lado do teu sítio? Quem sabe pudéssemos fazer um grupo com curiosos pela Natureza? Ou nesta altura do ano já se piraram ?


2 anexos:

52º Aniv Fin LAH - O Dr António Augusto Lopes com o Tigre e o Quim Vasconcelos



The Make Uppers of 52th ´s celebrations 25Nov.2006


E pronto! Missão cumprida! Só não entendo por que razão vem a legenda do último anexo em Inglês. Pedido da Condolezza Arroz? Com estas memórias do Rui ficamos todos mais ricos: escrevam vocês também. Ou mandem-me os escritos que eu "posto" tudo! Agora fica pendente a resposta às questões levantadas... Amanhã, talvez! Ou depois, que a semana é complicada. ZM

Nota de rodapé: Tomei a liberdade de sugerir "e-grama" para o "e-mail" do Rui. Não dizemos nós telegrama, aerograma, fotograma... por que não nos atrevemos a dizer e(de electrónico)-grama? Aliás de acordo com ele, visto que mo 6º período, escreveu - e bem - "e-presso", mesmo com a dúvida dos precursores que o "(?)" aderente deixa antever. Como se deveria dizer "mercancia" para "commodity" (e "mercancia" é um termo genuinamente português, do sec. XVI-XVIII, exactamente usado para designar... "commodity" ou "mercadoria de mercado")? & etc, para tantos outros casos! . Os franciús, que nisto de linguística são uns alhos ao recusarem-se a tomar gratuitamente qualquer pílula, arranjaram já para esta coisa do "e-mail" o vocábulo "courriel", de "courrier electronique". Nós continuamos a dizer "e-mail" e até já li "emeile" - o que logo me fez lembrar um jornal estadunidense que dava notícias do seu correspondente em "Paree"! "Apre, kisso é bué demais!" ZM
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