LAH1954

um blog de antigos alunos do Liceu de Alexandre Herculano, do Porto

domingo, 29 de junho de 2008

Sir Iva

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António Pedro Andrade Salgado Saraiva

A gentileza , a afabilidade, a conversação, em tom baixo, muito reflexiva, no Café Tijuca. A acuidade mental , a prescrutação psicológica, o “reasoning”,… o diagnóstico. Fumava “High-Life” (mais uma “croa” que os “outros tabacos”… portanto, “high life”..)Tinha sempre dispensa da ginástica… Fez um exame brilhante, de Anatomia, em cima do períneo, de pinça na mão…. Licenciado em Medicina pela F.M.P da U.P, especializou-se em Neurologia e é o melhor Neurologista Português. Doutorou-se, apresentando uma dissertação sobre a Doença de Alzeimer. Jubilou-se como Prof. Catedrático de Neurologia da Faculdade de Medicina do Porto e Director do Serviço de Neurologia do Hospital de S.João. A gestão dos silêncios, das distâncias, dos equilíbrios, tudo aveludadamente embrulhado num sorriso…

Ora vejam, aí ao lado. Cartolado, em 1960.


Rui Abrunhosa

sábado, 28 de junho de 2008

Adivinhação

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Quem será o Notável Finalista'54 que vive mesmo, mesmimho!... por traz,… bem ao meinho, desta porçãosinha inferior,deste “biquíni”?1…Grande vulto nacional na sua arte. É o melhor e mais competente nesse campo (Chissa pá! …claro que no da sua Arte…). Professor Catedrático Jubilado. Amabilíssimo. Nunca lixou ninguém. L’Éthique c’est Lui!

Rui Abrunhosa

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Três notas do "empreiteiro":
[1] Aos Leitores: podem, na imagem desta postagem, usar a técnica da ampliação oportunamente descrita.
[2] Ao Rui: desculpa a lentidão com que vou colocando os teus textos. É que, na minha idade, uma (postagem) por dia já não é mau de todo!
[3] Ao mesmo: deves oportunamente apresentar a solução nos "comentários" a esta postagem. Podes por "anónimo", que toda a gente sabe que fostes tu. Se não sabes como fazer, tenta e aprendes! O "blogger" não morde!
ZM
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sexta-feira, 27 de junho de 2008

ALMOÇO DOS FINALISTAS DE HÁ 53 ANOS DO LICEV ALEXANDRE HERCULANO – 7


Eduardo A. Clemente David


O "Pitecas". (Fig.1).

Fig. 1 - Pitecas psicadélico
Almoço LAH 20 Outubro 07

Um entusiasta das nossas reuniões

A este almoço chegou, todavia, ligeiramente atrasado, depois do desfrute de Sol no jardim. Com a Malta já toda parqueada pelas mesas vastamente circulares. Não tive por isso apropriada condição para o recapitular com detalhe, Ficou na outra ponta do salão.

Trouxe a sua Mulher (Fig.2) cujo encanto tive o privilégio de conhecer quando em Maio de 2007 estivemos três do Norte a visitar o Delfim.

Fig. 2 - Pitecas e Esposa no conv+ivio do Liceu de 2007

O David é, estruturalmente, um homem com a capacidade para a solidariedade. Por temperamento, por educação, por elevação de espírito e, quiçá porque comandou navios, no alto mar, por esse mundo fora, …ou dentro.

Provas? … de Solidariedade?... – Muitas. Desde sempre. A última de que me lembro: bateu na minha atenção, numa fotografia que fizemos, durante a visita acima aludida. O detalhe da sua mão, pousada, de modo protector, sobre o ombro do Delfim (Fig3). E, tanto mais isto me impressionou quando eu já reparara na ternura com que rodeava de conforto o “Bombas”, enquanto estivemos na pastelaria, onde então nos juntamos. Mais então reparei, também, no gozoso gosto, na alegria e nas gentilezas com que na ocasião nos recebeu “aos três parolos do Norte” e ao desvelo com que nos ajudou por lá, nas breves horas da estadia..

Fig.3 - Delfim com o seu Anjo da Guarda David
26 Maio 2007


O nosso Comandante de Navios, num país hoje de não mais do que “marinadas” e, talvez, o único da «Europa dos 27» sem barcos, virou, entre tanto, a bom bordo…: Fez-se Industrial. E “fêzio” muito bem. Com o sucesso que lhe permite agora a serena paz e alegria do terceiro andamento do Concerto 27, para piano e orquestra, de Mozart …

A tempo: O Senhor Möller, ex colega do David em lides e lidas marítimas, era, quando vivi na Dinamarca, considerado um herói nacional. Razão! : Veio a ter a maior frota do Mundo de Marinha Mercante. Enquanto, por isso, o homem mais rico do Povo Dinamarquês, pagava religiosamente os seus impostos. Deste modo – porque Solidário, o que só Espíritos Superiores podem ser - era o maior contribuinte para o sistema que garantia o respeito pela dignidade infinita de todo o Homem. Não me posso conceder “o direito” de ser mendaz – direito (não é?... pois parece) tão desfrutado no «Parque Zoopolitológico Português» (o Hamlet dizia a coisa pelo barato. «words... words… words…» ). Assim, em nome da transparência, se termine revelando que o David ficou como se vê na Fig.1 quando lhe disseram que um país sem Navios, sem Educação, sem Saúde e sem Segurança Social, ia comprar «Uma Caixa de Submarinos » (Pópi) com os imposto das nossas Sete Gerações Futuras !!!…

!!!

Chissa Pitecas !!! como te compreendo…

Rui Abrunhosa
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quinta-feira, 26 de junho de 2008

O "defeso" dos jantares de Lisboa

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"At the seaside" [1]

Decorrerá hoje, 26 de Junho, o jantar dos "Alexandrinos" que habitualmente se reunem na última 5ª feira de cada mês no restaurante-churrasqueira Granja Velha, na rua dos Douradores, 200, em Lisboa. Será o ultimo jantar do 1º semestre e, como de costume, dado o período de férias de grande parte da malta, seguir-se-á um prudente "defeso" até à última 5ªfeira de Setembro - data em que se regressará à "bacalhoada" habitual. Entretanto que os habituais convivas se divirtam, se feriandem e se desportivem.

ZM
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[1] imagem do "Punch" de 30 Agosto 1890; com vénia a www.guttenberg.org


quarta-feira, 25 de junho de 2008

O Nosso Reitor… Os Nossos Professores …


Em progressivo alagamento de emoção deixei-me impregnar pela peça poética do José Miguel aí , logo atrás, arquivada. !!!
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Lembro-me com nitidez da sua toada, mas não recordo exactamente em que contexto dela tive conhecimento. Tenho porém o leve sentimento de um “déjà vue” de que terá sido num intervalo entre aulas, “do primeiro para o segundo tempo”,que o Zé Miguel me deu a ler o bocado de “costaneira” em que a escreveu. Não recordo todavia se este seu trabalho veio a ser lido em alguma cerimónia de despedida do “Licev”. Se não foi, devia ter sido. É uma bela posta, suculenta, de poesia. Parabéns José Miguel !

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Quando se ouve a beleza de um sino, belo, tocar beleza, apetece ouvir-lhe, prolongado o som, a ressonância que dele se eterniza…
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Releiam-se por isso os versos do Zé Miguel:
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….«E o nosso Reitor, tão Bom, tão Amigo,….. eu, por duas vezes, queria abraçar! A primeira a ele, o melhor dos Reitores, a segunda p’ra todos os meus Professores»……
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"A primeira a ele, o melhor dos Reitores": o “Papá Chico” (Fig.1) … Nasceu em Idanha-a-Nova em 24 de Dezembro de 1892 numa gélida Noite de Natal, há 116 anos. Licenciou-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, não muito depois da implantação da Republica. Três ou quatro anos depois combateu nas trincheiras da 1ª Guerra Mundial, em França. Foi, mais tarde, Director Geral do Ensino Primário. Na sua carreira docente leccionou no Liceu de Bragança onde casou com sua Aluna Finalista Olímpia Morais. Ainda em Bragança tiveram os seus primeiros 2 Filhos. Nessa ocasião comprou uma famosa Motocicleta com Side-Car de marca «Indian». Nela, com sua Mulher, passeou as “estradas” de Trás-os-Montes - nome pomposo para as picadas, em terra, lama, buracos e regueiras, do Nordeste…. [“Ólha Fernando: porkék não botas aqui, no nosso blog, a foto da «Indian» do Senhor teu Pai?!...] Depois ensinou no Liceu de Braga e, em 1946, foi nomeado Reitor do Liceu Alexandre Herculano. Em 6 de Outubro de 1947 a maioria dos Finalistas 54 foram seus Caloiros e, em 6 de Outubro de 1948, 30 de nós tiveram o privilégio, enquanto alunos do 3º A, de terem sido seus alunos de «Físico-Química». Era melómano e incutia na malta o gosto pela música clássica. Várias vezes nos organizou concertos no Conservatório de Música do Porto, então “ao deslado” do Jardim do Carregal, onde prendadas “Meninas”,de preto vestidas, com formatos de Semifusas e adornos de semicolcheias ,dedilhavam alvas teclas de reluzentes pianos com gladíolos em cima, cordas finas em ombros grossos e cordas grossas entre coxas finas…Era aos Sábados. Portava-mo-nos sempre muito bem. No intervalo tirávamos duas passas entre as coniventes e frondosamente frescas arvores do jardim, mas as meninas - à cautela- não desciam. Na segunda-feira seguinte tínhamos direito a elogios ao nosso civilizadíssimo comportamento. E aqui é que eu quero fazer bater o ponto. Este Homem teve o condão de nos fazer a nós o que fazia aos seus próprios Filhos: Outorga da plena Liberdade na total Responsabilidade

"O segundo para todos os meus Professores": Uma foto deles está na Fig 2… e os seus nomes e constam das listas anexas como Figs. 3 e 4.

Rui Abrunhosa

A tempo: São duas fotografias que me foram oferecidas pelo Fernando Sena Esteves. A do Senhor seu Pai feita pelo “nosso Sena” em Bragança em 1972. A do “Grupo” pertença da colecção de recordações do Arquitecto João Sena Esteves, irmão do nosso Fernando – “o 2”. Não se lhe retém a data.

Rui Abrunhosa

Fig: 1 – Dr. Francisco Sena Esteves, “ o nosso Reitor”, fotografado
aos 80 anos (1972) por seu Filho (o "nosso") Fernando Sena Esteves.

Fig 2 – Os Nossos Professores – Fotografia oferecida pelo Fernando Sena Esteves,
guardada na colecção de seu Irmão Arquitecto João Sena Esteves
(anos 50; data exacta não registada) [1]


Fig.3 - Listagem referente à foto de Fig. 2 - 1ª parte

Fig.4 - Listagem referente à foto de Fig. 2 - 2ª parte
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[1] É vantajosa uma visualização simples da imagem ampliada. Uma das formas possíveis, não muito perfeita mas razoável e rápida, é a seguinte: (a) clicar na imagem; (b) seleccionar e clicar no "copiar imagem"; (c) abrir o Paint (clicando no Iniciar no canto inferior esquerdo e depois no Paint); (d) no Editar, clicar no Colar (a imagem aparecerá no canto superior esquerdo); (e) na tabela ao lado clicar na lupa e, depois, em 2x (maiores ampliações deformam demasiado). "Bonne chance!"
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quarta-feira, 11 de junho de 2008

"Paredes cinzentas do nosso Liceu" (17/6/1954)

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Atribui-se à Maria Antonieta uma frase que leva a pensar: "só é novo o que está esquecido". É esse o caso. Hoje, após remexer velhos papeis, uma minha Sobrinha e afilhada enviou-me, por e-grama, um poema transcrito por uma velha Tia - já há muito falecida - e que, não tendo o nome do autor, estava datado do ano da nossa saída do Liceu. Não foi difícil descobrir quem era o autor: eu próprio. Escrevi-o (e agora me recordo) para um jantar de despedida, entre nós - e nem sei se acabou por ser lido. É verdade que eu, na altura, alinhavava alguns versitos, uns de carácter assumidamente mais sério (e alguns desses estão no "Prelúdio"), outros de perfil jocoso e voltado para a "malta", como p.ex. uma paródia ao Canto I d' "Os Lusíadas" (mau gosto em falar nisto a seguir ao dia 10 de Junho, mas, parafraseando um cultíssimo japonês meu amigo, "um País que tem a sua festa nacional no dia da morte de um poeta que ainda por cima tão mal tratou, tem o seu quê de especificidade" - a que eu acrescento, num arroubo astrológico: "signo de Peixes o de Portugal, pois claro: o único signo duplo em que as figuras representativas puxam em sentidos opostos"). Chamava-se essa peça bufa "A A-síada"( da turma A, entenda-se) e havia ainda uma "Ceia dos Liceais" que macaqueava a famosa peça do Senhor Júlio Dantas, mas a esse... PIM! E, que eu recorde, também um épico "Ó Sena, põe-te à frente!" verdadeiro trovar de batalha subsequente ao "sequestro no Cinema" (como hoje se designaria), agressivo episódio de uma das guerras "anti-Pilas" ("honi soit qui mal y pense": "Pilas" ou "3,1416las" era apenas o carinhoso "petit-nom" dado a um dos docentes). Como é meu péssimo costume, não fiquei com nada. Nada mesmo, salvo o que se imprimiu no dito "Prelúdio" - cuja história já aqui foi lembrada. Tal facto - e os sucessivos e tumultuosos rápidos duma vida em que terei sido um descuidoso mas alegre "rafter" - impediram que me permitisse persistir em frequentes e insalubres chateações de colegas e amigos com certamente maus poemas, o que em si representa "a vantagem do inconveniente". "Coisas da vida!" - como o tradutor da 1ª versão portuguesa do "Matadouro nº.5" interpretaria o "leit-motiv" do Vonnegut nessa obra (porra! tenho de ter cuidado, não esteja eu a repetir-me também, tanto eu gosto de falar nisto!). Mas vamos ao tal poema, que sobreviveu graças à transcrição da minha Tia Maria Arminda, cuja memória aqui evoco com reafirmada saudade. Este, estrela hubblemente descoberta de uma apagada constelação lírica (ufa! peneirenta expressão!), eu vo-lo ofereço, desprezando o tal risco de vos chatear. Direi apenas que lhe introduziria hoje algumas pequenas correcções e apenas de forma, mas resisti a isso.

Paredes cinzentas

Paredes cinzentas do nosso Liceu
Se soubésseis falar, que longas histórias,
Risos, brincadeiras, tristezas, glórias,
Já tão esfumadas nas nossas memórias,
Podíeis lembrar!!!

E veríeis aqueles meninos de outrora,
Que dia após dia, que hora após hora,
Se foram tornando os homens de agora,
E vos vão deixar!!!

Paredes cinzentas, lá vêm as saudades
Dos tempos passados, das doces idades,
Em que fomos colhendo primeiras verdades
Nos livros, nas aulas, no nosso estudar!!!

E as calças curtinhas, aonde já vão?
Com nódoas de tinta, sujinhas de terra!
E os jogos da bola! E os gritos de guerra!
Os longos combates ao “polícia e ladrão”
Tropas alinhadas, coladas ao chão,
Em lutas tremendas…em lutas sangrentas
Em que a pior ferida era um arranhão!

E o bom do Carvalho, coitado morreu,
E o velho estojo que desapareceu,
O Orlando, o Miranda, o “Batata”
Esse “general” com a cinzenta bata,
Que a rapaziada já tanto envelheceu

E o Pereira, da caixa escolar!
E o Dias do sino
Está frio! Está frio! Um tostão p’ra café!
Quando todo o mundo sabe que é para água-pé!!!

Que tempos… Que tempos…
Paredes cinzentas, tão brancas p’ra nós…

E os professores, tão bons como avós
Dando às teorias a graça das práticas,
Traçando com giz mil coisas fantásticas!
Dizia-nos um:
Os meus pequeninos…

E assim aprendendo, alegres quais sinos,
Julgávamos ser uns “sábios meninos”
E tudo saber!!!

E o nosso Reitor, tão bom, tão amigo,
Que tão triste ficava ao dar um castigo,
E alegre sorria para premiar…
Eu, por duas vezes, queria abraçar!

A primeira a ele, o melhor dos Reitores,
A segunda p’ra todos os meus Professores,
Que ontem ou hoje,
Nos deram a luz, com os seus ditames!
Que se lembrem de nós, nos nossos exames

Paredes cinzentas, do nosso Liceu,
Pequenos canteiros d’além do portão,
Que já me ofereceram uma suspensão
Só de os pisar!!!

Paredes cinzentas do nosso Herculano,
Eis-nos já “velhos”, no último ano,
Querendo fugir, querendo passar,
Para um sonho de agora, a universidade…

Canteiros d’além do verde portão…
Como eu já vos vejo, na minha saudade!
E ó meu Herculano, é esta a verdade
Tens sempre um lugar no meu coração!!!

Em 17-VI-54


Zé Miguel

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terça-feira, 10 de junho de 2008

ALMOÇO DOS FINALISTAS DE HÁ 53 ANOS DO LICEV ALEXANDRE HERCULANO - 6


Fernando Morais de Sena Esteves


“O Dois”. Da Turma A. Foi sempre o número 2. Nas 7 turmas A - do primeiro (6 Outubro 1947) ao sétimo ano (14 de Junho de 1954).

Privei com ele, desde sempre, muito de perto.

Joguei futebol, a seu convite, na “Viela”. “A Viela” era um pequeno “reliquat” de arruamento oitocentista (setecentista?) nas imediações da Igreja do Bonfim, convizinhando o terreiro onde, ao tempo de Camilo, o da nossa Avenida, no primeiro Domingo de Setembro, se fazia festa e vendiam melões. O que ainda hoje continua a acontecer, até a ASAE deixar. “A Viela” foi sendo usada por ondas sucessivas de Filhos do Dr. Sena Esteves”. Um deles, o segundo – o José – ficou na História da Cidade: desceu o escadório da Igreja do Bonfim de bicicleta ! . Já agora mais duas pitadas curriculares de outros dois dos 8 irmãos “do Dois”.O Chico, o morgado, antes de ser piloto da Força Aérea, passou de avioneta por baixo da ponte D. Luís. Depois caiu noutra, que quis fazer passar - com um erro de 3 milímetros - por entre dois cabos de alta tensão, no Amial. Foi parar a um campo de couves com direito a página inteira no “JN”. Sobreviveu - sempre incólume – à queda de 5 dos aviões por si pilotados na Força Aérea…; O Agostinho, Médico Estomatologista, ia-me matando ( digo eu, mas ele nega). ”O gajo” era Quintanista de Medicina e eu Caloiro. Deu-me uma boleia quando eu saía do Jardim Botânico onde tinha assistido a uma aula prática do “Velho FQN”. Aceitando a oferta “co-montei-lhe” a “Java”, (a sua “motochiclete”- vermelha baça ), e voei baixinho. Trepidando a prostata e não só, em horrorosos paralelepípedos, derrapando cagaço, no brilhante dos puídos carrís da linha “do 3 ”.

“A Viela” descongestionava o Espírito. Antes de se ir para casa, de cada qual, lanchar, e, depois, tristemente, “escrever, conjugando-os, de ponta a ponta” os “estapores” dos verbos do dia. Um em português e outro em francês. Uma « gandaporra ! …». Que só servia para se «desamar» o estudo, o prazer de estudar, de ler, de cultivar a curiosidade. Quantas vezes me pisguei eu dos “verbos” para o “Herbário” e, depois, para o vício da colecção de pédrinhas. Este “vício”, dos calhaus” foi-me instilado pelo Zé Miguel Leal da Silva . Estou a vê-los…: cubinhos doirados, de pirite, prismas negros hexagonais, de turmalina, dois nacos opulentos de mica, uma lasca, boa, de calcopirite ( Chissa !... uma lasca, boa, de Calcopirite ?!...). E os “estapores” dos verbos a cuspirem nevoeiro fedorento em cima da minha imaginação, sempre, desde há pelo menos 67anos – que me recorde - libertada por mil procuras de belo !…

Algum tempo depois “O Dois” passou a ser “O Sena”. E a puxar o seu cigarro, com humílima elegância, do seu bolso “ad hoc” na porção inferior da superfície interior, à esquerda, do casaco . “By the Way” : Explicado fica, porquê “o Sócrates” acabou com o tabaco. Ele acaba com tudo que está à esquerda.

O Sena tinha o sentido da “Solidariedade”. A mim, quando me via com “traça” e sem “massa” dava-me, com frequência, cigarros, fazendo eu promessa solene, cigarro a cigarro, de, “um dia lhos pagar” – em igual espécie. A coisa foi crescendo. Já era um maço de 20, depois um pacote de 20 maços,…uma caixa de 20 pacotes, … enfim!... num golpe de asa da ternurenta felicidade que nos apertos da Vida sempre me bafejou, “o Sena” deixou de fumar! …

“Um dia” que, só para chatear (os milhares de ávidos leitores deste blog), era já o fim da noite e logo de S. João., ”o Sena” desorientou-se no tempo. Depois de se reorientar no espaço lá conseguiu, de chave e cabeça perdida, chegar a casa, ou, o que era a mesma coisa, ao edifício do Liceu Alexandre Herculano onde, o Senhor seu Pai, na qualidade de Reitor, tinha o direito de habitar a metade esquerda do 3º piso. E aí a perplexão!: Como entrar no seu quarto, sem ruído, sem a chave da entrada no edifício e com a subtil preocupação e gentileza de espírito de não querer incomodar os Pais, acordando-os, com os estridentes toques da campaínha que, depois, se prolongariam, sempre, por circunstanciados relatórios sobre “prondécandasteatégora”!...

“O Sena” solveu tudo. Como sempre fez tudo na Vida. Bem. Com sagacidade, destemor, diria mesmo: imaginativa coragem. Com muita energia física e mental. Subiu, até ao telhado do Liceu Alexandre Herculano, pelo algeroz. Passeou as telhas de vários corpos do edifício, desceu ao varandim já da sua “casa” e que dava para o jardim da pérgula (ver foto em “postagem” lá para traz ,em Junho de 2007, ou por aí), entrou a portada deixada aberta para refrescar a noite, meteu-se na cama (faltam-me documentos que comprovem a hipótese de que ainda vestido, tal qual vinha “do S. João”). E dormiu !. O sono “dos Senas” !!: Todos Justos !!!...

Depois “o Sena” ficou “roxo até às orelhas” – licenciou-se em Farmácia, na U.P (Fig1) . Convidado pela Faculdade de Farmácia do Porto para assumir o cargo de 2º Assistente da Cadeira de Bioquímica ( na linguagem da época) pisgou-se algum tempo depois para os Estados Unidos, onde, durante 3 ou 4 anos, na Washigton University, em St. Lewis, no Missouri, fez investigação cientifica no âmbito dos gangliosídeos cerebrais. Em 1973 publicou a sua Tese de Doutoramento (Fig 2).

Prosseguindo a carreira universitária “o Sena” passou a “Prof. Sena Esteves”. Jubilou-se recentemente, como Professor Catedrático de Bioquímica da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, de que foi, de resto, por duas vezes, Presidente do Conselho Directivo, a primeira das quais aos 45 anos de idade. Um génio !. Com o sorriso amarelo, típico dos portugueses de bem, hoje. (Fig1 - outra vez)

Como disse de Antero o Eça: «Um Santo» !.

Rui Abrunhosa

Fig.1 - Fernando Sena Esteves: Sorriso Roxo de Farmácia e Amarelo de Portuguesa Paciência


Fig. 2 - Tese de Doutoramento - Faculdade de Farmácia - U.P.
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