LAH1954

um blog de antigos alunos do Liceu de Alexandre Herculano, do Porto

quinta-feira, 14 de junho de 2012

LIVROS QUE NOS FIZERAM - 8

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COMPÊNDIO DE ÁLGEBRA
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3º CICLO
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ANTÓNIO AUGUSTO LOPES
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. Quanto à Geometria  Descritiva e à Trignometria ainda vá que não vá ... mas Álgebra?!... "possa se Marquinhas"... .
Falo de mim próprio, e sinto-me no dever de oferecer o meu próprio testemunho sobre a vivência do ambiente pedagógico que por muitos professores do Liceu Alexandre Herculano nos foi oferecido, Neste caso, centro-me no Dr. António Augusto Lopes e abordarei especialmente a sua regência da disciplina de matemática no nosso 6º e 7º ano, já que também havia sido nosso docente nas para mim "complexicissimas" matemáticas do 1º ano.
Antes de continuar adianto que, por razões estruturais que me são próprias, o conhecimento de matérias ou factos abstractos é para mim quase impossível. Para exemplo: sou médico há 50 anos  e ainda hoje sou incapaz de assumir qualquer responsabilidade na observação e interpretação de um electrocardiograma ... em contrapartida, diria talvés sem ponta de exagero que todo o conhecimento que me foi privilégio adquirir o fiz através dos olhos, ou, dito de outro modo, eu necessito de olhar e ver. A observação das morfologias conduz-me a um pensar de possíveis interpretações dos respectivos significados, reunir-lhes as repercussões de factos sobre factos e escolher uma conclusão, naturalmente que sempre provisória e à espera da recolha de novos factos que a possam rejeitar, ou aceitar, ou, mesmo, melhorar. Não se estranhe portanto que eu tenha sempre sido um apaixonado observador da Natureza, desde criança. e que ainda em idade pré-escolar, com 5 anos, eu tenha descoberto, a sós e por mim próprio, a corrupção dos corpos pela morte ou, dito de outro modo, pela desestruturação das arquitecturas moleculares da vida, quando, encantado, encontrei uma andorinha, ainda quente, mas morta. caída a meus pés. Observei-a atenta e longamente revirando-a entre as minhas mãos, sentindo cada vez mais a necessidade de a guardar para mim e posteriormente, repetir o prazer de a observar.  Matutando sobre como conseguir este desiderato lembrei-me de uma caixa de charutos já vazia que alguém oferecera - cheia - a meu pai. Fui a casa buscá-la, meti a andorinha lá dentro, cavei uma pequena gruta na parede de uma barreira de terra junto ao jardim de minha casa, escondi a caixa lá dentro e tapei o buraco com alguma da terra que escavara. Três dias depois fui reabrir o meu cofre para tornar a ver a minha andorinha e, chocadíssimo, apanhei o bafo de um cheiro que nunca sentira e vi que a andorinha estava fria, mole e nadando num molho como aquele em que nadam os pudins quando vêm à mesa. Acorri a meu Pai para me explicar o que acontecera e, aí, aprendi que tinha afinal observado as consequências da desestruturação molecular da vida. A perplexão foi muito grande, mas o conhecimento novo também.                Toda a minha carreira escolar foi centrada na imensa curiosidade por compreender a vida. E tive sorte, com as muitas circunstâncias que a sorte da vida me foi deparando e me permitiu o culto desse "hobby" que transformei em "profissão" (?). E tinha como fronteira, não sei onde, não sei o quê, mas nela se poderia esperar vir a ter a compreensão do Ser Humano, em todas as suas dimensões, nomeadamente as que eu não sei ainda, suficientemente bem, explicar quais são...Sempre livre, por dentro, sem terceiras intenções, muito menos a de encontrar dinheiro, poder, ou as aparências de um importante da importância portuguesa... e na certeza de que nunca, por e para isso seria minimamente pago... no mínimo de um justo salário... 
Isto é, o desenvolvimento de uma fôrma mental e de um arquivo de entendimentos (sempre provisórios) sempre a partir do olhar e ver. E, olhar, pode ser sentir aromas ou cheiros, sentir morfologias, palpando,  vendo com os dedos, ouvindo cuidadosamente o que qualquer Pessoa, nomeadamente se doente, tem para me dizer e tentando pressentir as interioridades dessa Pessoa.
Assim dito, é-me facílimo olhar e ver o que diz uma radiografia, uma ecografia, uma "tac", uma ressonância magnética, uma micrografia de microscopia electrónica, ou um tregeitar de olhos e rugas com o trespassar de um "je ne sais quois",  de uma lágrima já sem força para esquiar na face, ou, às vezes, e por fim, no mais quente e mais terno da força curativa da palavra, como tão superiormente descreveu o meu colega António Lobo Antunes, já uma outra, «UMA LÁGRIMA COM UM SORRISO DENTRO» ... ... mas é-me impossível, através do registo de electrões,dançando com "shots" e "pássas", na Discoteca  Culex por Cordis, ver no espaço a revolução das cargas eléctricas, muito bem sistematizadas,  concatenadas, ao longo de todas as estruturas do coração. Não  dá!...  Só acredito nos cardiologistas, nunca em mim.E  têm que ser "os que eu cá sei quem são".
Ou seja, acentuadamente incapaz de conhecer na abstracção e pela abstracção, fui submetido aos suplícios e torturas de ter de ser capaz de dominar alguma matemática e o quantum satis de física. Corri graves riscos de não poder entrar na Faculdade de Medicina do Porto por ter estado em extrema dificuldade no lograr de sucesso nas provas de avaliação das matemáticas e das físicas, relativas à finalização do 3º ciclo liceal, ou como se "falejava" na época, acabar o 7º .
Depois destes prolegomenos começa agora a história que vos quero contar.
Era 14 de Junho, era 1954 e eram 12 horas e 5 minutos. E era o encerramento do curso de matemática acabado de fazer pelo Dr. António Augusto Lopes. O "Quedias" acabara de disparar a campaínha que fazia subitamente levantar, num salto de mola de aço, todas as tuberosidades isquiáticas dos 700 alunos do Liceu. Também levantei as minhas, mas, aí, senti um gesto do Dr. Lopes convidando-me a esperar que toda a gente saísse para comigo conversar. Fiquei completamente surpreso com o sibilino e misterioso convite de que ninguém dera conta (porque muito bem feito). Sala vazia e 2 passos do Dr. Lopes para descer do estrado e fechar ele próprio a porta da sala. Ficamos sós. Convida-me a subir ao estrato senta-se na beira da secretária e começa a falar comigo, como quem fala, tu cá tu lá, com um amigo de sempre. E diz-me:       (praticamente sic) « Rui : desculpa demorar-te, mas preciso de conversar contigo para poder eu próprio fazer decisões muito delicadas e muito importantes para as quais preciso da tua opinião e da tua colaboração. Saberás concerteza que eu sei que tu de matemática és um zero desde sempre. Terás reparado que apesar disso quer no 6º ano quer agora ao longo do 7º ano te fui dando  classificações trimestrais que permitissem o velho 9,5 para te não cortar as pernas e te ir dando sempre a chance de te poderes salvar. Tenho decidido proceder assim porque julgo conhecer-te o suficiente para ter a certeza de que tens todas as potencialidades para conseguires saltar este obstáculo das abstracções. Mas até aqui eram testes, agora é uma classificação que fazendo média com as anteriores te vai permitir, ou não, ires ao exame de matemática, lá para 10 de Julho. Se eu te permitir classificação que te autorize a ires à prova escrita do exame tu vais tirar uma classificação de 5 valores (na época a classificação era de 0 a 20). Se tirares 4 és imediatamente impossibilitado de continuares exames e tens de repetir o ano. Porém, quase te posso garantir que o que tens, de coisa nenhuma, te chega para o 5, ou seja, chumbas na escrita de matemática e vais às orais das outras 5 disciplinas.  Terás sucesso em todas elas. E aqui vem a pergunta que te quero fazer e à qual escusas de me responder já, mas tens de me responder dentro de 48 horas. É meu convencimento de que, acabados os teus exames, em 30 de Julho, ( porque és Rui e, por ordem alfabética, entras no último dia  de exames orais da primeira época), se no dia 1 de Agosto, às 8 da manhã, te sentares à secretária onde estudas em casa e até Outubro, todos os dias, sem excepção de sábados e domingos, ali estiveres a trabalhar até às 11 da noite, com meia hora de intervalo para o almoço, um quarto de hora de intervalo para o lanche e meia hora de intervalo para o jantar, ao mesmo tempo que numa horita ou duas, por semana, recolhas o apoio pedagógico de alguém com experiência para te tirar dúvidas e dar sugestões de orientação, em meados de Outubro próximo (era a chamada 2ª época) tu te apresentarás a exame escrito e farás prova oral que no seu conjunto te permitirão passar o exame de matemática da 2ª época com 12 valores. A minha pergunta é: consideras.te com capacidade física e mental para com uma força de vontade férrea desenvolveres este programa?  se sim deixo-te ir a exame com 9,5.  Vais chumbar dentro de 15 dias, com 5 valores na pauta da prova escrita, mas conseguirás os 12 valores no exame da segunda época e assim entrará imediatamente na Faculdade de Medicina.. Se achas que não é possível diz-me com sinceridade e eu reprovo-te já e ficas para o ano a fazer a matemática "sózinha", ou seja, ficarás, por uma disciplina, impedido de  entrar na Faculdade de Medicina como é tua ambição desejo a concretizar ainda  este ano.
Fiquei estupefacto. Deu-me minutos de silêncio e a certa altura perguntou-me: queres-me responder já ou queres esperar. E eu respondi logo: se o Senhor Doutor diz isso, eu acredito nisso. E confio em que isso é possível. Por mim, só, não saberia dar a resposta, mas porque me garante que eu tenho  capacidade para desenvolver esse programa com sucesso, eu aceito o desafio e tem a minha palavra de Honra de que vou cumprir, rigorosamente, o combinado.
Chega Outubro. Prova escrita de Matemática: 12 valores (doze valores)... (!!!...)... 2 dias depois formam-se 2 júris para provas orais por cerca de 12 ou 14 "bicos". À hora prevista, pontualmente, os professores componentes de cada júri já estão nas salas - do antigo 5º A e 5º B. Chega o Reitor Sena Esteves. Sereno, faz 2 grupos de alunos, à sorte e diz: «vou atirar uma  moeda ao ar» (era a de 10 tostões...linda) e proclama:  este grupo vai para a sala do 5º A e aquele grupo vai para a sala do 5º B. Da moeda ao ar  sai-me na sala do 5º A o júri integrado, pois vejam lá por quem! ... pelo Dr. António Augusto Lopes. Sou o 4º a entrar. Subo ao estrado. o Dr. Lopes levanta-se da cadeira e pegando nas folhas da minha prova escrita começa a lê-la e relê-la com um "suspense" "Hitshcóquiano". Vai abrindo, suave e lentamente, um sorriso de muito bem estar. Finalmente, levanta os seus olhos para mim e pousa-os nos meus olhos. Exclama: « ora vamos lá então a isto... Escreve»: ... e assim começou a prova oral, com giz a riscar tranquilamente o quadro preto. Durou um quarto de hora. Saí. Terminados os interrogatórios dos demais examinandos  a pauta com os resultados foi afixada no expositor junto ao vestiário da D. Aninhas. Terminada a balbúrdia da leitura, atropeladamente colectiva, das respectivas duas colunas da direita, o maralhal e seus acólitos desandou. Meia hora depois eu continuava ainda em silêncio, sozinho,  postado em frente do expositor, contemplando, comovido, a minha classificação. Lá estava: «aprovado - 13 (treze valores». É então que me pousa uma mão no ombro. Viro-me e  sinto o  sobressalto da surpresa! Era o Dr. António Augusto Lopes. Que me diz agarotadamente: «Tu não vales mais do que doze,como te disse em Junho, mas dei-te o treze como prémio pela ombridade com que cumpriste o compromisso que comigo assumiste. Fiquei muito contente» e, abraçando-me, concluiu: Que sejas sempre muito feliz   no teu futuro ...Era 13 de Outubro de 1954...
e lá fui, para o meu futuro...
Se Este Homem, se Este Professor, se Este Pedagogo, se Este Educador me não tivesse feito o gesto sibilino para me suster a saída da aula, se não tivesse fechado ele próprio a porta da sala, se não me tivesse convidado a subir ao estrado, ou seja a ficar ao seu nível, senão se tivesse sentado na beira da secretária para descer ao meu nível e se me não tivesse dito eu acredito em ti, e quero que me garantas que também acreditas em ti....Ah! ... eu nunca mais teria acabado "o 7º". Sozinho, perdido o comboio, nunca mais iria "fazer" a solitária matemática, nunca teria entrado na Faculdade de Medicina, nunca teria  sido médico,como aspirava, desde os meus 12 anos, nunca ia poder passar a vida a deslumbrar-me com a VIDA, nunca ia poder PEREGRINAR POR DENTRO DO HOMEM.                                                                                   Ia, talvez, ser rico - Ter - mas nunca poderia vir a ter - Ser - a ALEGRIA DE SER POBRE ENTRE POBRES.
O Senhor Dr António Augusto Lopes salvou-me. Não encontro o como dizer-lhe o quanto toda a vida lhe tenho tributado gratidão, "soliloquiando" entre mim e mim
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Rui Abrunhosa
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Help: Não há dúvida de que, no porco, o esfolar do rabo é o mais difícil... nas e-mucandas também... não percebo porque a ponta final saiu com fundo branco....não foi isso um qualquer propósito meu... abstractos mistérios de abstractas electrónicas, portanto, para mim impossíveis de resolver... «volto cá em Outubro», ... como dizia o Prof Emídio Ribeiro quando não entrevia, durante a visita aos doentes internados, uma proposta de solução para um caso clínico de grande complexidade interpretativa.... afinal,  tal como me  aconteceu a mim " lá para cima".
Pode ser que o Zé Miguel, que sabe sempre tudo, nos faça o favor de concertar isso...    
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domingo, 10 de junho de 2012

"POSTAGEM" PELA DRA. EMA VIDAL PINHEIRO

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UMA CARTA DA DRª. EMA VIDAL PINHEIRO
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Os caloiros de 1947-48 tiveram como Professora de Francês a Drª. Ema Vidal Pinheiro. Toda a gente se lembra: Mulher de meia estatura, magra, diria que bastante magra, tom da tez moreno, olhos vivíssimos, cabelo negro, repuxado na nuca até ao cocuruto, onde resplandescia um "gandapuxo" de disign sofisticado, se bem me lembro, como se a metade de um chouriço de sangue ali, assustadamente se acocorasse.  Altamente energética e decidida, a traços largos e frenéticos  um restiling da Padeira de Aljubarrota. Incutia sentimentos de alta austeridade estrita disciplina e muito cagaço. Insinuando,densamente, sem nunca o declarar, a noção de que, ou trabalhas como um cão, ou chumbo-te. Muitíssimo exigente, sem nunca se lhe ter ouvido uma palavra de apreço e ou estímulo para quem tivesse uma qualquer manifestação de qualidade.
Era Tia do "1" e o "1" era o Alexandre Vidal Pinheiro. A Dra. Ema era irmã do Eng. Vidal Pinheiro que ficou na História do combate à Ditadura do Estado Novo. Entre muitos frutos do seu pensar o Engº Vidal Pinheiro incentivou sempre o desenvolvimento e o fortalecimento do espírito especialíssimo que enformava então o Sport Comércio e Salgueiros. Foi seu Presidente e, nessa qualidade, se empenhou na construção do campo do Salgueiros, em Salgueiros, no Amial. Por isso, o campo do Salgueiros teve sempre  a honra de ostentar o seu nome: Campo Eng. Vidal Pinheiro. Este Homem era pai de 9 filhos de que um dos mais novos era precisamente o nosso Alexandre Vidal Pinheirio. Morreu quando Alexandre tinha 11 anos. A Mãe do Alexandre ficou sozinha com 9 filhos para criar, ou acabar de criar. E aqui se levanta a Heroína Ema Vidal Pinheiro. "Anulando-se" totalmente, doou-se completamente na ajuda a sua Cunhada para levantar 9 cidadãos portugueses fragilizados pela morte e, em tais circunstâncias, de seu Pai. Mulher de Armas, porém, aqui e ali, um tantinho demais. Dou o meu testemunho pessoal: Senti-me sempre um miserável, incapaz de aprender francês apropriadamente. Nunca os meus resultados nos exercícios escritos, nas "chamadas", eram de molde a merecerem prémio. Sempre trambolhei entre noves, dezes e, eventualmente, oitos e onzes por tal forma que passei, no primeiro ano, manco a francês.  Cheguei ao final do 1º ciclo, no então chamado 2ª ano do Liceu, com uma média a francês de nove e meio - o quanto indispensável para ser autorizado a ir a exame. Lá fui. Aterrorizado. É dessa data a minha descoberta pessoal "das dores de barriga", uma coisa assim como que o que sente um dependente do "lorenin" que, por distracção, deixou entrar o fim de semana sem pedir ao porreiraço do médico amigo a receitasita de mais duas vezes três embalagens deste ansiolítico, levemente relaxante e agradavelmente indutor de um sono restaurador......  De lá vim, da Prova Oral com nota final de dezassete valores, completamente lorpa de incompreenção por não perceber porque tinha tido dezasste valores. Várias pessoas adultas estavam na assistência a seguir esta minha  prova oral. Quando dela saí para o corredor, sem eu saber sequer quem elas eram, vieram ter comigo para me  felicitarem com rasgadíssimos sorrisos, dizendo-me que nunca tinham imaginado que um miúdo com 11 anos e só 2 de francês liceal podesse estar durante 20 minutos perante um Professor que nunca tinha visto e um júri de 3 membros a fazer a sua prova oral, toda, rigorosamente, em excelente e fluente francês. A partir do momento em que a ampulheta começou a contar não mais aquela naquela sala, em silêncio absoluto (ao tempo era assim nas Escolas Portuguesas) se ouviu uma única palavra em Português.  
Estes eram, quase sistematicamente, os resultados obtidos pelos alunos que passavam pela inflexível disciplina, energia e qualidade, na transmissão do conhecimento pela mão da Dra. Ema.
Só depois de afixada a pauta descobri o segredo, batendo com a pata dianteira na testa: "A gaja (1) estorcegava-nos os testículos até conseguir que fossemos sublimes!".
A qualidade da transmissão do conhecimento era inexcedível, porém, hoje, com os meus olhos de 75 anos, e depois do muito que observei nos desempenhos e interpretações pedagógicos que a vida me proporcionou para análise e reflexão,   tenho de ser sincero, e dizer que, considero a Dra. Ema uma Professora a tal ponto fabulosa que se lhe pode deixar sem remoque depreciativo mas antes e apenas uma alternativa de opinião dizendo-lhe que o "rewarding" é peça fundamental na melhor pedagogia emanada dos conceitos hoje da psicologia comportamentalista. De par com uma qualidade de transmisão do conhecimento invulgar, subsistiu sempre o conceito de que uma pontinha de cagaço não fazia mal nenhum ao aluno e, portanto, antes chegar borrado ao fim do ciclo a falar francês fluentemente do que elegantemente bem cheiroso porém a fazer só "cagadas" na expresão da língua francesa. Não tira isto nenhuma pinta à elevada consideração pela sua altíssima qualidade e seriedade como Professora. 
E mais: Impõe-se um profundo respeito por uma Senhora que se anulou para ajudar sua Cunhada a entregar a Portugal 9 cidadãos brilhantes.
Há dias, deparei com uma postagem  da Dra. Ema  no blog dos Professores e que à época se chamava LABOR . Com a sua elevada capacidade cultural os Professores de Liceu sustentavam  a prestigiadíssima revista chamada "LABOR".
Está datada de 1969 e já nessa época a Senhora Dra. Ema Vidal Pinheiro estava aposentada enquanto Professora efectiva do 2º grupo do Liceu da "Raínha Santa Isabel" ( assim se apresentava). 
Depois de ser nossa Professora no Liceu Alexandre Herculano, julgo saber, terá sido colocada no Liceu de Bragança de que, não tenho a certeza, tinha  o nome de "Abade de Baçal". Se não tem,... devia ter. Posteriormente terá regressado ao Porto e sido colocada no Liceu da Raínha Santa - Isabel.
Desconheço qual a problemática que na época se apreciava e discutia e sobre a qual a Dra. Ema Vidal Pinheiro convida o Ministro da Educação da época a repensar - neste momento não tenho a certeza mas suspeito seria o Professor José Hermano Saraiva. 
Bateram na minha atenção variadas pequeninas pontas de cristalina semiótica. Escreve por exemplo a Dra. Ema: Pedir justiça é vexatório, fazer justiça é cidadania. Noutro passo, aquela pessoa tão austera e de rosto tão, apetece-me literáriamente dizer, ameaçador, ri-se para dentro e clama pelo cortejo dos estudantes dos seus Tempos da sua Coimbra de então com o carro alegórico transportando a celebérrima estátua da justiça coxa. Por fim  - para não cansar com mais - saliento, impressionadamente, o profundo respeito e apreço que,  depreende-se, presidia ao relacionamento construtivo entre pessoas bem diferentes (admito), em muito, e, na época, no mais profundo dos  modos de estar, ao dizer «Senhor Ministro, Professor também e muito ilustre ...»  acrescentando a sua creditação no relativo à inteiresa de carácter do governante da "educação nacional" dessa ocasião, desse modo lhe reconhecendo  capacidade  para para fazer justiça inteira porque íntegro lhe considerava o carácter, a Sua Excelência.
Comoveu-me por fim o  naco que vou transcrever: «...gosto mais de ver estendida a mão para dar...»
Belo !!! ...Foi essa a sua Lição de Vida. Pelo menos em Família. Desconheço se foi ainda mais abrangente, neste seu modo de estar.
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Peço-vos para não olharem, em redor ... Não quero ficar entupido por vos ter obrigado a corar, só por serem portugueses.Hoje. 10 de Junho. Dia de Portugal (?!).
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Mas vamos à carta da Dra. Ema:
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«Exm.º Snr. Director da Labor
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Li com todo o interesse a Labor de Outubro p.p., como sempre aliás, muito especialmente na rubrica «Interesses do Professorado» a exposição que foi enviada por um grupo de professores agregados, auxiliares e efectivos do ensino liceal a S.ª Ex.ª, o Snr. Ministro da Educação Nacional.
Justas, justíssimas as pretensões ali formuladas e só de lamentar é que dessa exposição fossem excluídos os que, já aposentados, se encontram, todavia, em circunstâncias perfeitamente iguais às dos seus colegas do activo. Se estes servem, na hora que passa, o ensino com devotado sacrifício e proficiência, os que já não estão na actividade o serviram também com o melhor do seu saber, da sua inteligência e não menos dispendio de forças, por vezes bem precárias. Provam.no as suas classificações quer como estudantes ainda, já cônscios da alta respnsabilidade que os esperava, quer depois no exercício das suas funções.
Quero crer que nesta actitude dos Exmos. Colegas, que, à primeira vista podia ser tomada como estranha, não entrou aquele egoísmo que parece fazer parte integrante da geração actual, mas tão somente a certeza de que uma vez atendidos, S.A Ex.ª o Snr. Ministro da educação Nacional não deixaria de englobar no mesmo acto de justiça o professor aposentado.
Ocorre-me, caros colegas, a propósito, um facto ocorrido, há longos anos, quando ainda estudante da Faculdade de Letras de Coímbra.
Desfilava na velha cidade um daqueles famosos cortejos de outrora, por ocasião da tradicional «Queima das Fitas» e entre os carros ornados pelos rapazes de Direito avultava um que ostentava a estátua da Justiça. Esta não apresentava, porém, a atitude clássica de pobreza e majestade, porquanto, erguida a túnica, era visível uma tosca perna de pau. Era coxa a pobre Justiça! Além disso, a venda nos olhos cobria-lhe apenas um e da mão pendia-lhe, não a tão conhecida balança onde são pesados para todos, igual e devidamente, os diversos casos a resolver, objecto de delicadíssima precisão, mas a balança dos merceeiros. Que os honestos comerciantes relevam a graça estudantil de então.
Dizem que o povo português até no pedir é pobre. Quem isto escreveu bem conhecia o nosso povo e quis juntar, a meu ver, mais uma qualidade a tantas que lhe dignificam o carácter.
Pedir é qualquer coisa de deprimente, de vexatório. Gosto mais de ver a mão estendida a dar. Há muito, entendo que a velha fórmula «Pede-se Justiça»  devia ser substituida por esta outra: «Faça-se Justiça», Justiça que deve estender-se, no caso presente, a todo o professorado, qualquer que seja o seu grau de ensino e situação. Ou ter-se-ia de voltar a exibir-se no cortejo dos estudantes de hoje o carro com a celebérrima estátua da Justiça Coxa.
Sua Ex.ª, o Snr. Ministro da Educação Nacional, professor também e muito ilustre, não deixará de fazer justiça a todo o professorado justiça inteira, como íntegro é o carácter de Sua Ex.ª.»
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Sem mais,
Rui Abrunhosa
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(1) - não é falta de respeito... é só, literariamente, um certo "falejaer" nos nossos corredores desse tempo tão bonito...
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